O presidente do Eurogrupo numa reunião em Bruxelas Fonte: Bloomberg
Jeroen Dijsselbloem, o presidente do Eurogrupo, veio a Lisboa visitar o pequeno país destroçado pelo sucesso europeu que se vive na ponta ocidental do euro e trouxe consigo uma abertura à flexibilização de metas orçamentais.
Esta parece mais uma estratégia de defesa da liderança europeia em relação às críticas a que está sujeita pelo excesso de austeridade do que uma alteração substantiva. Até porque a ideia de ajustar o ritmo de consolidação à evolução da economia é consensual já há algum tempo, como aliás tem sido referido por Vítor Gaspar.
Mais interessantes foram as entrevistas concedidas por Dijsselbloem a órgãos de comunicação social portugueses e especificamente a forma como admitiu, como alguma naturalidade, novas renegociações de dívida pública – nem sequer afastando liminarmente uma reestruturação.
No Sábado, em entrevista ao Expresso:
A dívida pública portuguesa atingiu os 127%. Uma reestruturação é inevitável?
Na Europa avançamos com base nas missões efectuadas pela troika. A sétima revisão mostra que Portugal está no bom caminho e vamos continuar a monitorizar a situação. Mas eu não quer falar de novos dados. Eu e o Eurogrupo baseamo-nos nas revisões feitas pela troika.
Não está a excluir a possibilidade de uma reestruturação?
Não quero entrar nisso. Devíamos concentrar-nos em cumprir o programa e procurar novos acessos aos mercados. E não especular sobre cenários que não penso que sejam muito viáveis.
Terça-feira, em entrevista ao Público:
A dívida portuguesa não pára de aumentar: 127% do PIB actualmente. Também é fácil de perceber que, sem crescimento, a dívida continuará a subir. Pensa que lá mais para a frente vai ser preciso encontrar novas formas de aliviar a pressão da dívida?
É o que estamos a fazer com o aumento das maturidades dos empréstimos de sete anos.
E isso chega?
Não queria pronunciar-me sobre isso agora. Se a conclusão fosse já que sete anos não são suficientes, então Portugal estaria numa situação difícil.
(…)
Até agora, o que sabemos é que o regresso aos mercados financeiros tem sido razoavelmente bem sucedido.
Mas as taxas de juro são ainda muito altas.
São. O programa chegará ao fim em meados do próximo ano. Quando nos aproximarmos dessa data veremos o que é necessário para apoiar essa saída. As primeiras medidas já foram tomadas com o prolongamento das maturidades, que são uma grande ajuda. Se, nessa altura, decidirmos que é preciso mais, então poderemos fazer mais. Mas ainda é cedo para fazer isso.
Dijsselbloem foi o homem que afirmou pela primeira vez que o modelo de resgate dos bancos Chipre envolvendo os credores seria para generalizar. As declarações, verdadeiras na sua essência, valeram-lhe a alcunha de “Dijssel–bomb”. Em Lisboa, e embora a uma escala diferente, assistimos a mais uma bomba: o Eurogrupo admite renegociações sucessivas das condições dos empréstimos europeus a Portugal.
Que a probabilidade de Portugal conseguir pagar a sua dívida pública nas actuais condições é pequena é evidente desde o início da crise. Mas é sempre de notar quando um alto dirigente europeu admite essa possibilidade em público.
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