Há três trimestres que as exportações não crescem

11/03/2013
Colocado por: Rui Peres Jorge

O INE confirmou uma queda do PIB de 3,2% em 2012. O mau desempenho das exportações foi evidente no último trimestre, mas não se confinou ao final de 2012: há três trimestres consecutivos que as exportações não crescem, nota a equipa de economistas da Universidade Católica que, pela positiva, destaca um abrandamento da queda do investimento. Filipe Garcia, da IMF, também sublinha a rasteira que as exportações estão a colocar à retoma e associa a menor queda do investimento com uma “ligeira melhoria nas condições de financiamento da economia”. José Miguel Moreira, do Montepio, salienta o mau desempenho das exportações e do consumo privado. O Montepio espera agora uma recessão entre 2% e 2,5%.   

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.

 

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A estimativa final do INE para o Produto Interno Bruto (PIB) português do 4ºT2012 veio confirmar a contracção em cadeia de 1.8%, reportada na estimativa inicial, a qual, recorde-se, se havia revelado superior às nossas perspectivas, que eram idênticas à mediana das projecções das instituições contactadas pela Bloomberg (-1.0%). Trata-se de uma duplicação do ritmo de contracção observado no 3ºT2012 e da maior queda desde o 1ºT2009, quando a economia mundial se encontrava em plena Grande Recessão.

 

2. De resto, também a contracção de 0.6% observada no conjunto da Zona Euro foi a maior desde aquele trimestre. O actual período de recessão já dura há 9 trimestres, sendo que no ano de 2012 se registou simultaneamente a menor (-0.1% no 1ºT2012) e a maior contracção trimestral durante esta recessão. Em termos homólogos, o PIB contraiu 3.8%, também confirmando a estimativa inicial e representando igualmente a maior queda desde o 1ºT2009 (-3.5% no 3ºT2012). Esta maior queda da economia portuguesa no 4ºT2012 teve consequências para o comportamento anual, pelo que no conjunto do ano de 2012 acabou por se observar uma diminuição do PIB de 3.2% (-1.6% em 2011), uma contracção superior à nossa anterior previsão (-3.0%, idêntica à do Banco de Portugal e à da troika).

 

3. Tratou-se de uma forte aceleração do ritmo de queda anual da economia, com este comportamento a resultar, segundo o INE, de uma diminuição do contributo positivo da procura externa líquida, que passou de 4.7 p.p. em 2011 para 3.9 p.p., em resultado da desaceleração das exportações de bens e serviços, e o contributo negativo mais significativo da procura interna, traduzindo a redução mais intensa do consumo privado.

 

4. Em termos de perspectivas, recorde-se que com a divulgação da Proposta de OE 2013, já tínhamos revisto em forte baixa a previsão de crescimento para 2013, para uma queda de cerca de 2.0%, bem mais acentuada do que a prevista no OE 2013 (-1.0%). Em termos trimestrais, para o 1ºT2013 prevê-se uma queda do PIB inferior à do 4ºT2012 (na ordem de -0.5%, e que poderá mesmo se aproximar da que se verificou no período homólogo de 2012: -0.1%), embora a informação disponível ainda seja escassa.

 

5. A procura interna deverá continuar condicionada pelos efeitos directos no consumo privado da subida de impostos, pela continuação da redução dos gastos públicos (quer de consumo corrente, quer de investimento), com o investimento privado a ser penalizado pelo excesso de capacidade instalada e pelas expectativas dos empresários.

 

6. Admitindo posteriormente uma certa estabilização da actividade no 2ºT2013 e no 3ºT2013 e o início da recuperação (em cadeia) no final do ano (ainda que a ritmos baixos, continuando condicionada pela desalavancagem do sector privado e pela consolidação orçamental), as previsões de uma descida do PIB de 2% em 2013 parecem inclusivamente optimistas, na medida que o “carry-over” negativo é de 2%. Isto é, se o PIB ao longo dos 4 trimestres de 2013 fosse idêntico ao do 4ºT2012 a economia cairia 2%. Neste sentido, mantemos o que já tínhamos afirmado aquando da estimativa preliminar: a contracção do PIB em 2013 deverá situar-se entre 2.0% e 2.5%.

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. A trajectória global da economia portuguesa continua a ser negativa, reflectindo as condições que já vinham de trimestres anteriores, nomeadamente as dificuldades de financiamento, queda da confiança, desaceleração da Zona Euro e medidas de austeridade que afectam empresas e famílias.

 

2. No contexto do programa de ajustamento, resulta claro que só a procura externa seria capaz de mitigar o mau desempenho da procura interna. Os números de hoje confirmam que no quarto trimestre de 2012 as exportações não tiveram o mesmo comportamento de trimestres anteriores, pelo que a evolução PIB foi muito influenciada pelos esperados recuos no consumo privado, gastos públicos e investimento.

 

3. Este comportamento menos positivo das exportações estará relacionado com o mau desempenho da economia espanhola e com a greve dos portos, mas deve ser lido num contexto global de abrandamento económico. A generalidade das economias mundiais registou um abrandamento ou mesmo um recuo no último trimestre de 2012, a que Portugal não ficou imune. A queda menos pronunciada do investimento estará relacionada a uma ligeira melhoria nas condições de financiamento da economia, mas esta componente está ainda longe de apresentar um contributo positivo par ao PIB.

 

4. Naturalmente, para que o processo de convergência orçamental originalmente acordado tenha alguma hipótese de ter sucesso, será necessário que a economia portuguesa estabilize em termos de queda do produto. Os números do INE confirmam o que todos observam – essa estabilização ainda não ocorreu. Desta forma, o cumprimento dos objectivos será consecutivamente adiado até que o produto comece a crescer.

5. Para 2013 espera-se que todas as componentes da procura interna voltem a ter um comportamento negativo que é relativamente previsível (-3.7% segundo a CE e -4% segundo o BdP). Deste modo, os resultados da economia portuguesa em termos de evolução do PIB estarão sobretudo ligados ao comportamento da balança comercial, portanto, do comportamento da economia mundial.
Pela positiva, destaque-se a capacidade de a economia nacional se auto financiar, permitindo a estabilização da dívida externa, o que acontece pela primeira vez em muitos anos.

 

 

Núcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica

 

1. No 4º trimestre de 2012, a economia portuguesa registou uma contracção de 1,8% face ao trimestre anterior e de 3,8% em termos homólogos (-0,9% e -3,5%, respectivamente, no 3º trimestre). Este é o nono trimestre consecutivo de quebra do PIB, que em termos reais atingiu no último trimestre de 2012 o seu valor mais baixo desde 2000. A taxa média de crescimento do PIB em 2012 foi de -3,2% (-1,6% em 2011).

 

2. O desempenho particularmente negativo do PIB no último trimestre de 2012 repete o cenário já observado no final de 2011 (no 4ºT de 2011, o PIB registou uma contracção de 1,6% em cadeia). Esta semelhança sugere a influência de factores comuns, como a reacção antecipada dos agentes económicos às medidas de redução do défice inscritas no Orçamento do Estado e eventuais fenómenos  contabilísticos e de calendário. A ser assim, uma componente substancial deste mau resultado pode ser pontual.

 

3. O final de 2012 foi dominado pelo mau desempenho das exportações, que registaram uma forte quebra em cadeia (a maior desde o 1º trimestre de 2009). Note-se ainda que este é o terceiro trimestre consecutivo sem crescimento real das exportações, o que acentua a preocupação. Parte substancial deste resultado negativo advém do segmento de serviços, que se tem mostrado especialmente sensível à conjuntura europeia. Também o consumo privado registou uma forte quebra, dominada novamente pelo segmento de bens duradouros. É uma quebra explicada, em larga medida, pela diminuição do rendimento disponível das famílias, mas que pode ter sido também muito influenciada pelos referidos factores pontuais.

 

4. Pela positiva, é de destacar a melhoria ligeira do investimento, depois da evolução positiva já verificada no 3º trimestre. É importante realçar que esta melhoria tem um significado bastante relativo: em termos reais, os níveis absolutos de investimento permanecem abaixo dos registados em 1996 e a contracção média deste agregado em 2012 situou-se próximo dos 14%. Contudo, perante os indicadores disponíveis não é excessivo admitir que o investimento em Portugal pode ter atingido patamares mínimos e que, caso as condições de financiamento continuem a melhorar, possamos ter já em 2013 um cenário mais animador.

 

Rui Peres Jorge