A viragem cíclica da economia será percebida com atraso. De facto, o indicador mais marcante para a percepção de evolução económica – o desemprego – continuará a crescer ainda em 2012 e no princípio de 2013. Em média anual – de acordo com as previsões – o desemprego atingirá cerca de 14,5% em 2012, diminuindo apenas ligeiramente para pouco menos de 14% em 2013.
Vítor Gaspar, apresentação da terceira avaliação ao programa de ajustamento
O Governo apresentou há poucos dias os resultados da terceira avaliação regular aos primeiros meses do programa de ajustamento, fazendo um balanço muito positivo em todas as frentes, incluindo a macroeconómica. O défice público caiu menos que o esperado, mas o externo superou as expectativas. E nem o disparar do desemprego afectaram a confiança no Terreiro do Paço. Aliás, Vítor Gaspar, na única referência que fez ao desemprego, procurou desvalorizar a sua evolução, lembrando que se trata de um indicador desfasado da actividade económica e que a retoma chegará ainda antes do desemprego cair.
Vítor Gaspar, defende, por exemplo, que o facto de já ter revisto várias vezes em baixa a taxa de crescimento de 2012 não é preocupante porque, diz, como 2011 foi um ano melhor que o esperado (leia-se uma recessão menor que a antecipada), mesmo com a queda superior do PIB agora prevista para 2012, no final do ano PIB medido em milhões de euros estará ao nível previsto no início do programa de ajustamento. Tudo acaba bem. Ou não?
Bom, admitindo como boa a formulação de Gaspar, que é secundada pela troika mas tem muito por onde ser desafiada – a começar, por exemplo, por ignorar os riscos que decorrem da dinâmica negativa preocupante que despontou dos últimos meses na economia – vale a pena aplicá-la também ao desemprego. Quantos portugueses estarão sem emprego em 2012 e como é que isso compara com as previsões iniciais do programa de ajustamento.
Segundo o Governo, a taxa de desemprego média de 2012 ficará nos 14,5% e só começará a baixar já bem dentro de 2013. Ou seja, entre 2010 e 2012, o desemprego aumentará 3,7 pontos de 10,8% para 14,5%. Este valor compara com um aumento previsto anteriormente pelo Governo de apenas 2,6 pontos percentuais (No Orçamento de Outubro o Executivo apontava para uma taxa de desemprego de 13,4% em 2012).
Isto quer dizer que a variação efectiva do desemprego (se as novas previsões não se mostrarem optimistas) será 42% superior à previsão do OE (o que, grosso modo, significa bem mais de 800 mil pessoas sem emprego no final de 2012). É caso para dizer que se trata de um desvio colossal.
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