Na primeira semana de Janeiro o massa monetária publica as perspectivas para 2012 de mais uma dezena de economistas e especialistas em áreas económicas e financeiras. Tratam-se dos comentários que incluiram nas respostas ao inquérito anual que o Negócios lançou mais uma vez, e com o qual procurou perspectivar o que poderá vir a ser o ano que agora tem início.
Poderá ler no blogue do Negócios as opiniões de Octávio Teixeira, Bagão Félix, Pedro Lains, Miguel Frasquilho, Sandro Mendonça, Pedro Bação, Emanuel Reis Leão, Pedro Cassiano Santos, Miguel St. Aubyn, Cristina Casalinho, Pedro Rodrigues, Mariana Abrantes de Sousa e Nuno de Sousa Pereira.
Hoje, Miguel Frasquilho analisa 2012 avisando que “o ano poderá ser pior do que o antecipado na Zona Euro – o que se deverá, sobretudo, à falta de liderança política e à erosão da confiança dos investidores”, não vendo outra saída que não uma intervenção mais profunda do BCE. Quanto a Portugal admite que seja possível renegociar o pacote de ajustamento; Sandro Mendonça, economista e professor no ISCTE, considera que “é tempo de reconhecer que há algo de radicalmente disfuncional do sistema económico” e identifica os principais riscos que pendem sobre Portugal; e Miguel St Aubyn, professor no ISEG diz não espera que os “cenários mais extremos” como o desmembramento da Zona Euro “venham a ocorrer” – “Seriam demasiado graves as perturbações resultantes do fim deste projecto europeu para que os actuais governantes assumissem essa responsabilidade histórica”, justifica.
Miguel Frasquilho, economista (BES) e deputado do PSD: “É possível que o programa de assistência financeira possa ser estendido no tempo”
Em 2012, como nos últimos anos, os países ditos emergentes, com a China à cabeça, continuarão a ganhar peso no mundo, em detrimento do “velho” Ocidente.
Nos EUA, apesar de ser um ano de eleições presidenciais e de as clivagens políticas entre republicanos e democratas estarem ao rubro, e de o endividamento público ser um sério problema (como na Euro-pa), a economia tem revelado alguma resiliência e dinamismo, que poderão propiciar uma evolução mais positiva do que se espera.
É minha convicção que o ano poderá ser pior do que o antecipado na Zona Euro – o que se deverá, sobretudo, à falta de liderança política e à erosão da confiança dos investidores, que deverá aumentar até que a crise da dívida soberana seja combatida de forma apropriada. O primeiro semestre deverá ser particularmente turbulento, adivinhando-se o corte do rating da dívida pública de vários dos países considerados core (com a França à cabeça), sendo também muito provável que a dívida de Itália, sobretudo, mas também de Espanha, volte a estar na mira dos “mercados”. Ainda durante o primeiro semestre, as eleições presidenciais francesas, pela incerteza de que se revestem, poderão igualmente constituir-se como um factor importante de risco.
“No fim do dia”, a par da austeridade e da maior união orçamental imposta por Alemanha e (menos) França, não creio que exista alternativa senão caminharmos no sentido de uma actuação do BCE a la Reserva Federal dos EUA, Banco de Inglaterra ou Banco do Japão, isto é, como “lender of last resort” (para o que não é necessário qualquer alteração de estatutos ou tratado); e também na direcção da emissão de obrigações europeias (eurobonds). Quando será dado esse passo?… Eis a one million dollar question!… Mas, the sooner the better: quanto mais tarde, pior a crise, mais difícil 2012 e mais árdua a recuperação…
Quanto a Portugal… executar a preceito o acordado com a Troika continua a ser a nossa melhor (e única…) alternativa – e também a melhor contribuição que poderemos dar para ajudar a resolver a crise da Zona Euro. Num ano em que as dificuldades económicas e sociais serão enormes (antecipa-se a maior recessão da nossa democracia e o desemprego deverá atingir máximos históricos), algumas das ditas e anunciadas transformações estruturais deverão ver a luz do dia, ajudando a criar condições para aumentar a competitividade e, provavelmente, recuperar a economia a partir de 2013. É possível que, depois de se tornar perceptível para os nossos credores que estamos a cumprir o acordado, o programa de assistência financeira possa ser estendido no tempo, tornando menos brutal o necessário e inevitável ajustamento por que temos que passar.
Para Portugal, 2012 será, enfim, depois da “grande bebedeira” dos últimos anos, o primeiro ano da verdade (desiluda-se quem acha que as facilidades serão maiores nos anos seguintes…), um ano em que não podemos falhar – e em que esperamos que a Europa não falhe. Se falhar, então de nada nos servirá cumprir o programa acordado. Mas isso, claramente, não está nas nossas mãos…
Sandro Mendonça, economista, professor no ISCTE: “É tempo de reconhecer que há algo de radicalmente disfuncional no sistema económico”
Quando todos os cenários prospectivos são maus é tempo de reconhecer que há algo de radicalmente disfuncional do sistema económico que rouba as pessoas de esperança e segurança, os trabalhadores de emprego e os produtores de oportunidades e de sustentabilidade.
O ano de 2012 começa com um agravamento de desequilíbrios nacionais (perda de condições de vida), europeus (subjugação de todos às imposições dogmáticas alemãs) e internacionais (aceleração da transferência de poder económico para a China).
Temos firmemente instalados em Portugal riscos que são especificamente agravados por escolhas voluntárias do Governo. Riscos associados:
– ao agravamento da desigualdade (que não podem ser estruturalmente resolvidos com caridade)
– à falta de transparência (vejam-se as persistentes nomeações sem concurso para a CGD)
– e ao esquecimento dos problemas ligados à sustentabilidade (o abandono da mobilidade eléctrica e das ideias de eco-inovação)
É por isto que 2012 tem de ser um ano de procura de equilíbrio.
Miguel St Aubyn, economista, professor no ISEG: “Não penso que os cenários mais extremos venham a ocorrer”
Já todos sabemos que o ano de 2012 vai ser um ano difícil. Vários dos custos são já conhecidos, foram anunciados e já foram interiorizados pelos trabalhadores, pelas empresas e pelas famílias. É possível que, e nomeadamente devido a factores externos, o cenário macroeconómico venha a ser menos favorável para o nosso país que o previsto. Mas os portugueses já muitas vezes mostraram ser um povo lutador, resistente e inteligente, e por isso o futuro continua a pertencer-nos, mesmo na adversidade.
Apesar das dificuldades, não penso que os cenários mais extremos venham a ocorrer. Nomeadamente, não conto com o fim ou com o desmembramento da zona do euro, e penso que algumas soluções se imporão para a a mais adequada governação da união monetária. Seriam demasiado graves as perturbações resultantes do fim deste projecto europeu para que os actuais governantes assumissem essa responsabilidade histórica.
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