As exportações portuguesas abrandaram o ritmo de crescimento, mas ainda assim avançaram mais de 10% em termos homólogos. Bárbara Marques, do Millennium bcp, realça que o forte dinamismo das exportações por oposição ao das importações, dará este ano um forte contributo para um reequilíbrio do défice externo e salienta que os destinos fora da UE já explicam 25% das exportações. A economista avisa, contudo, que há algumas nuvens no horizonte que é preciso analisar com cuidados nos próximos meses. Rui Bernardes Serra, do Montepio, diz que apesar da ligeira degradação na frente externa, Setembro registou o mais baixo défice externo desde Julho de 2004. Ambos os economistas esperam um contributo positivo da frente externa para o crescimento da economia no terceiro trimestre.
Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium BCP, BPI e NECEP (Universidade Católica), isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.
Bárbara Marques – Gabinete de Estudos do Millennium bcp
1. No 3º trimestre de 2011, as exportações e as importações de bens registaram uma taxa de variação nominal homóloga de 13,1% e de 3,6% respectivamente, o que significa uma melhoria do défice comercial de bens e um contributo importante para o objectivo de redução défice externo português. O contributo da procura externa para o crescimento do PIB real no trimestre manter-se-á muito significativo – cerca 4 p.p. , tomando como pressupostos os deflatores do trimestre anterior e as tendências recentes para a balança de serviços.
2. Em Setembro, as exportações registaram um acréscimo nominal de 13,4% face ao período homólogo, ligeiramente inferior ao verificado em Agosto, e as importações aumentaram ligeiramente face ao ano anterior (4%). A taxa de cobertura (exportações/importações) na balança comercial de bens foi de aproximadamente 74%, marginalmente inferior ao nível de Agosto, mas ainda assim um valor elevado para os padrões históricos recentes, denotando a influência do processo de contracção da procura interna.
3. O reforço da austeridade nos países da área do euro (decorrente das decisões da Cimeira do Euro) na evolução da actividade económica e nas trocas intracomunitárias poderá contribuir para um abrandamento das exportações, pese embora os indícios correntes não sejam conclusivos. As novas encomendas recebidas pelas empresas industriais provenientes do mercado externo permanecem robustas mas em abrandamento, enquanto que o sentimento do sector se apresenta mais optimista quanto à evolução da procura externa nos próximos meses. O tempo dirá se esta aparente divergência de comportamentos constitui um prelúdio de alterações significativas na capacidade de recuperação de quota de mercado, importante para a economia portuguesa assegurar a continuidade de redução do endividamento. A tendência de diversificação das exportações por mercado de destino, com o comércio extracomunitário a sustentar cerca de 25% do total das exportações, constitui um factor positivo, na medida em que gradualmente se reduz o risco de concentração a mercados específicos e se beneficia com processos de crescimento robustos que ainda prevalecem noutros países.
Rui Bernardes Serra – Departamento de Estudos do Montepio
1. Balança comercial registou um agravamento do défice, em Setembro, quando ajustada de sazonalidade, mas apresentando o 3º défice comercial de bens mais baixo desde Julho de 2004. Apesar do aumento do défice, em termos trimestrais, no 3ºT2011, estes dados evidenciam um desagravamento do défice da balança comercial, sugerindo um contributo bastante positivo para o crescimento do PIB no trimestre (entre 0.7 a 1.0 p.p.)
2. A balança comercial registou, em setembro, um défice de 1.324 milhões de euros (M€), valor que representa uma degradação face aos 1.306 M€ do mês anterior e que resultou de fortes acréscimos tanto das exportações, como das importações, mas bastante mais intenso nas primeiras (+28.9% vs +20.4%, respectivamente). Note-se, no entanto, que estes dados do comércio internacional são bastante afectados pela sazonalidade, sendo que, quando descontados desse efeito (cálculos do Departamento de Estudos do Montepio), continuam a revelar um agravamento do défice comercial (+2.3% vs +1.4%, quando não ajustados), mas para um nível bem inferior ao apresentado pelos dados não ajustados, apresentando o 3º défice comercial de bens mais baixo desde Julho de 2004. Esta ligeira degradação do défice esteve essencialmente associada a uma correcção das exportações (-3.6%), mas após um impressionante crescimento de 10.4% no mês anterior, que as tinha catapultado para níveis máximos históricos. Já as importações observaram a 2ª queda consecutiva.
3. Apesar do aumento do défice no mês de Setembro, em termos trimestrais, no 3ºT2011, estes dados evidenciam um desagravamento do défice da balança comercial de bens a preços correntes, sugerindo um contributo positivo para o crescimento do PIB no trimestre. Trata-se de um resultado que poderá ver-se parcialmente anulado em termos reais (atendendo ao desagravamento dos preços das matérias primas importadas, nos mercados internacionais), mas com as exportações líquidas de bens e serviços a deverem terem registado um contributo bastante positivo para o crescimento do PIB (entre 0.7 a 1.0 p.p.), de acordo com as indicações dadas actualmente pelos nossos indicadores compósitos.
- Carlos Costa e o colapso do BES. Negligente ou injustiçado? - 23/03/2017
- Os desequilíbrios excessivos que podem tramar Portugal - 21/03/2017
- A década perdida portuguesa em sete gráficos - 15/12/2016