O grave problema de governo económico na Europa aumenta a expectativa sobre a reunião de amanhã do Banco Central Europeu.
Hoje voltaram a ouvir-se críticas da Comissão Europeia à irracionalidade dos mercados; lamentos em Itália e Espanha sobre a injustiça da subida dos seus juros e promessas de acção rápida, e garantias do Presidente do Conselho Europeu de tudo fazer para garantir uma implementação rápida do acordo alcançado da Cimeira do final de Julho (o qual, por exemplo, prevê a possibilidade do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira intervir no mercado secundário da dívida pública, o que poderia eventualmente aliviar a pressão sobre a Itália e Espanha).
Um problema central (mais uma vez) é que o comportamento dos mercados não respeita os tempos da política europeia – o que nem é estranho, uma vez que para aprovar e ratificar o acordo da Cimeira de Julho nos vários países serão necessárias semanas, talvez meses.
Dada a evolução dos juros nesta semana, a Europa dificilmente terá esse tempo. E é por isso que a reunião de amanhã do BCE será quente: O BCE é, neste momento, o único organismo europeu com capacidade para intervir no mercado secundário e tentar aliviar a pressão sobre Itália e Espanha. Mas esse é o último caminho que o BCE quer seguir.
Os entusiastas da intervenção do BCE lembrar-se-ão que o banco já gastou 77 mil milhões de euros em compras de obrigações de Portugal, Irlanda e Grécia. O BCE, por seu lado, terá bem presente que deixou de comprar obrigações há vários meses, sinalizando dessa forma o seu desconforto com a intenção dos governos de envolverem o sector privado na resolução da crise. Ora, os governo levaram a melhor, decidiram esse envolvimento no mês passado, uma decisão que, na visão de Frankfurt (e não só), contribuiu activamente para a subida de juros na Europa.
Amanhã, dia de falar à Europa em conferência de imprensa mensal, será um dia quente para Trichet.
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