Sem stress por pouco tempo

19/07/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

A confiança, especialmente no sector bancário, é um activo inestimável. Infelizmente, os resultados dos testes de resiliência à banca europeia anunciados na sexta-feira não parecem ter tido a força suficiente para afastar o stress por muito tempo. 

 

À primeira vista, os resultados pareceram bons: apenas oito chumbos entre os 91 bancos testados, ou seja, menos de 10% dos bancos, em apenas 3 países (ver lista em baixo) e implicando insuficiências de capital de 2,6 mil milhões de euros. Contudo, um olhar mais atento força a cautela na análise. Vejamos:

 

Se os testes tivessem em conta a situação dos bancos no final de Dezembro, então teriam chumbado não oito, mas 20 bancos, representando uma insuficiência de capital de quase 27 mil milhões de euros, como nota a Autoridade Bancária Europeia na página 3 do sumário executivo do seu relatório.

 

O que aconteceu foi que medidas de reforço dos balanços tomadas pelos bancos entre Janeiro e Abril – e incentivadas pela EBA e pelos reguladores nacionais, como bem evidenciou Carlos Costa – resultaram na angariação de 50 mil milhões de euros para capitais próprios, evitando assim o pior, frisam os responsáveis da EBA no seu relatório. Sem estes aumentos de capital e outras medidas, os resultados teriam sido bem diferentes: o BCP, por exemplo, teria chumbado, juntamente com vários outros. (Segundo Tracy Alloway no FT Alphaville há mesmo casos em que a EBA admitiu medidas de reforço de balanço ainda não concretizadas) 

 

Mesmo com este esforço, se o limite dos testes fosse de um Core Tier 1 (peso dos activos mais líquidos no total dos activos ponderados pelo risco) ligeiramente mais elevado – de 6% e não de 5% – então teriam chumbado 24 bancos (26% do total). Isto é, há 16 bancos com rácios CT1 entre os 5% e 6%: os que abaixo (ver lista) chamamos de quase-chumbos. Entre eles estão dois portugueses, o Espirito Santo Financial Group e o BCP, que já se comprometeram a reforçar os seus balanços nos próximos três meses. O Negócios teve aliás na sua edição de ontem em papel o detalhe dos compromissos assumidos.

 

Acrescem ainda dois outros factores de tensão:

 

Os testes não prevêm a possibilidade de qualquer “default” na Europa (o que parece cada vez mais provável), nem consideram uma materialização efectiva de riscos de contágio, por exemplo à Itália. Como nota o FT Alphaville, para as obrigações a dois anos italianas os testes assumem como pior cenário uma desvalorização/haircut de 3% e um “spread” face aos bunds de 180 pontos base, valores ultrapassados a semana passada. 

 

(E na “rua”, pelo menos na do Wall Street Journal, já corre, que se os bancos europeus registassem nos seus balanços os títulos de dívida pública de Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda e Itália ao preço de mercado, então 27 bancos precisariam de aumentar o capital em 82 mil milhões de euros para conseguirem um Core Tier 1 de 7% …)

 

Finalmente, haverá certamente quem defenda que, para cenário hipotético de stress, as permissas macroeconómicas não são suficientemente exigentes: no caso português prevê-se uma recessão de 3% este ano e 2,6% no próximo. São valores mais pessimistas que qualquer projecção oficial, mas a Grécia, por exemplo, experimentará contrações do PIB na casa dos 4% em 2010 e 2011 (os dois primeiros anos da intervenção). No desemprego, talvez ainda mais importante para os bancos devido aos impactos no incumprimento de créditos, a taxa máxima prevista no cenário adverso é de 12,9% em 2012, pouco mais que os 12,4% que já se verificam.

 

A EBA poderá ter conseguido ser mais credível desta vez que nos testes de stress anteriores. Mas, olhando para os resultados, é fácil temer por mais stress dentro de pouco tempo.

 

   

Chumbos:

Espanha: 

 

Caja de Ahorros del Mediterraneo

Banco Pastor

Banco Grupo Caja3

Unnim

CatalunyaCaixa

 

Grécia:  

Agricultural Bank of Greece

EFG Eurobank Ergasias

 

Austria: 

Oesterreichische Volksbanken

 

Quase-chumbos, com core tier 1 entre 5% e 6%:

1) Espírito Santo Fin Group
2) Marfin Popular Bank
3) Piraeus Bank Group
4) Nova Ljubljanska Banka
5) Banco Popular Español
6) NovaCaixaGalicia
7) Bankinter
8) Banco Comercial Português
9) BFA Bankia
10) HSH Nordbank
11) Hellenic Postbank
12) Norddeutsche Landesbank
13) Grupo Banca Civica
14) Caixa Ontinyent
15) Banco Popolare
16) Banco de Sabadell

 

  

 

 

 

 

Rui Peres Jorge