O acordo anunciado ontem pelo primeiro ministro, que entretanto parece merecer o apoio dos principais partidos, e que, segundo Francisco Assis, quase ameaçou gerar euforia em Portugal, consubstancia a supremacia da Comissão Europeia sobre o FMI no processo negocial das últimas três semanas. Ajustamento será feito em pouco tempo e taxa de juro deve manter-se elevadas. A Comissão parece ter-se inspirado na famosa frase: o FMI não manda aqui.
Na parte em que podia influenciar directamente – duração e violência do ajustamento – o FMI perdeu em toda a linha: o programa português manteve no essencial o que a Comissão defendeu: uma redução do défice orçamental para o limite de 3% do PIB no máximo até 2013 (que é mais um ano do que o inscrito no PEC IV, mas é o limite oficial estabelecido desde, pelo menos, o ano passado)
Resta a parte em que o FMI não tem controlo: a definição da taxa de juro. Aí, nem o Governo, nem a troika avançou valores, mas tudo indica que Portugal pagará qualquer coisa na linha do que é exigido à Grécia. Se assim for, então as criticas de Olivier Blanchard terão caído em saco roto. (Talvez também o FMI pudesse ser um pouco mais generoso, mas essa é outra questão)
Eufórico? Nem por isso.
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