(alegadas?) consequências económicas da morte de Bin Laden

02/05/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

Como sempre é nosso hábito, os jornais de economia rapidamente procuraram um ângulo económico sobre o acontecimento do dia: a morte de Osama Bin Laden.

 

Passando à frente de convidativas considerações sobre principios morais e de bom gosto do mercado (e dos jornais), é mais dificil resistir a parar uns momentos nas (alegadas?) consequências económicas da morte do líder da Al-Quaeda veiculadas pela imprensa especializada. Há de tudo: de convites à compra de acções em Lisboa e na Europa, à capacidade de sustentação do maior mercado bolsista do mundo (pelo oitava sessão consecutiva); da possibilidade de “continuar a capitalizar noticias positivas” ao receio de que “surjam actividades de retaliação dos seus apoiantes”; da euforia dos investidores em acções ao medo dos investidores em petróleo.

 

Tirar conclusões desta sequência não é fácil, mas ao ler os jornais é inevitável um sentimento de insegurança provocado, não exactamente (ou apenas) pela morte de Bin Laden, mas pelas associações, certezas e contradições dos mercados e dos jornais.

 

“Morte de Bin Laden convida à compra de acções, bolsas sobem”, titulou hoje de manhã o Diário Económico, que continuou no texto: “É que praticamente todas as bolsas europeias estão hoje a valorizar, acumulando oito sessões de subidas consecutivas. Para observar um ciclo de valorizações tão longo é necessário recuar dez meses”. Temi que a seguir viesse um … mercado antecipou em oito sessões a morte.

 

“Anúncio da morte de Obama sustenta Wall Street”, escreve o Negócios sem precisar bem as razões, mas tendo pelo menos o cuidado de usar como sujeito o anúncio da morte (e não a morte em si). Numa outra peça, com um vídeo de um analista, é titulado: “Morte de Bin Laden pode permitir que o mercado possa continuar a capitalizar notícias positivas”…

 

“Wall Street abre animada pela notícia da morte de Bin Laden” aponta o DN, numa peça onde pelo meio refere que, na verdade há também razões de preocupação: “nos últimos dez anos, a existência de Bin Laden consistia uma séria ameaça à estabilidade global. A preocupação é que com o anúncio da sua morte surjam actividades de retaliação dos seus apoiantes”, lê-se no jornal.

 

Aliás, a meio da tarde os jornais económicos em Portugal começaram a noticiar uma subida do preço do petróleo, justifica por aumento do medos relacionados…. com a morte de Bin Laden: “Petróleo sobe com receios de retaliações da Al-Qaeda”, escreve, por exemplo, o Económico, mas também Negócios ou o FT.

 

Uma pesquisa na Bloomberg permite encontrar várias noticias do mesmo tipo – onde se saliente o cuidado vincar a reacção do mercado ao anúncio, e não exactamente à morte (que aconteceu não se sabe bem quando). Mas também na agência noticiosa, e à hora de fecho desta edição, os investidores em acções continuavam a puxar em alta pelo mercado: das duas uma, ou estão atrasados em relação aos investidores em petróleo, ou discordam das análises de aumento de riscos.

 

Sobre o tema, vale a pena dar uma vista de olhos à Reuters que, entre as grandes organizações noticiosas ocidentais consultadas, tem uma das coberturas mais completa e equilibrada.

 

 

 

 

 

 

Rui Peres Jorge