O paradoxo da inevitabilidade das eleições

21/03/2011
Colocado por: Rui Peres Jorge

Em princípio, o melhor momento para uma oposição enfrentar eleições será o pior momento para o Governo. E vice-versa. Mas estes os sobre a popularidade de cada um dos líderes em Portugal permite desconfiar sobre um acontecimento paradoxal: este pode mesmo ser o momento mais vantajoso para eleições, tanto para Sócrates como para Passos Coelho.

 

Fomos olhar para a evolução desde 2006 dos níveis de aprovação do primeiro ministro e do líder do PSD no  barómetro mensal da Marktest. Algumas conclusões:

 

a) A julgar pela história recente do seu partido, Passos Coelho pode nunca chegar a ser (muito) mais popular do que é agora (ver notas em baixo);

b) José Sócrates, cuja popularidade está em queda livre, deverá ficar bem pior nos próximos meses;

c) As popularidades de Sócrates e Passos Coelho somadas equivalem hoje à popularidade de Sócrates em 2006

  

Para o paradoxo ser verdade, é preciso no entanto que ambos os lados acreditem (e tenham razão) que vão estar pior amanhã do que hoje. Ou seja, que sem eleições, o futuro será um pântano lamacento que os engolirá tanto governo como oposição. Esta parece ser a tese prevalecente, e será então por isso que faremos o nosso caminho para as eleições.

 

O confundir mais as contas está a baixa popularidade de Sócrates e Passos Coelho: juntos valem tanto hoje, como Sócrates em 2006. O que nos deixa com um cenário pouco animador para o pós-eleições. Mas, bom, como diz o nosso politógo, isto já são cenários a mais.

 

Índice de aprovação política da Marktest:

 

 

Fonte:  Marktest; PSD: Luis Marques Mendes até Setembro.07 / Luis Filipe Menezes desde Outubro.07 / Manuela Ferreira Leite desde Junho.08 / Pedro Passos Coelho desde Abril.10

 

Leituras: 

 

Sobre Passos Coelho:

 

a) O nível de aprovação de Passos Coelho em Fevereiro – 34% dos inquiridos aprovavam a sua actuação – não é muito melhor que a de Marques Mendes um ano depois deste ter chegado à liderança. Mendes acabou por ter maior aprovação do que essa e por perder o partido um ano depois;

 

b) Passos Coelho conseguiu  fazer disparar a popularidade da liderança do PSD nos dois meses seguintes à sua vitória (Abril e Maio) – bateu nos 49% de aprovação – mas esta voltou a cair em Junho, um mês após o acordo com o PS para o PEC 2;

 

c) Desde então a sua popularidade do líder laranja tem andado errática em torno de um valor ligeiramente superior a 30% – mesmo com Sócrates a afundar;

 

 

José Sócrates

 

a) Sócrates conseguiu no final de 2009 recuperar popularidade, beneficiando de uma campanha eleitoral desastrosa para Ferreira Leite e de um comportamento críptico de Cavaco Silva. Em Outubro de 2009, 42% dos inquiridos aprovam a sua liderança, um valor que não era visto desde Maio de 2007;

 

b) Com o défice orçamental a disparar para 9,3%, e um plano de austeridade como programa de governação que foi sendo cada vez mais duro, a popularidade do primeiro ministro não pára de cair no último ano. Desde Outubro – mês de apresentação do Orçamento e do PEC 3 – a popularidade teima em estar abaixo dos 20%

 

C) O primeiro ministro pagou sempre em popularidade as medidas de austeridade que foi apresentando (e ainda não pagou de forma visivel a última actualização do PEC)

Rui Peres Jorge