Crédito: Miguel Baltazar, Lisboa, 10.02.11
Os olhos do mundo estão em Portugal e são vários os órgãos de comunicação social que têm passado pela capital para descrever a triste história de um País a caminho de uma profunda recessão e sem margem de acção governativa. Exemplos recentes são duas reportagens televisivas emitidas a 14 e 18 de Fevereiro, na Finlândia e Grã-Bretanha, respectivamente. Aqui ficam alguns dos excertos das emissões da areena e da BBC.
A quem respondem os governos: aos mercados ou aos eleitores, pergunta o PS
Na Finlândia, a 14 de Fevereiro, o canal televisivo areena emitiu uma abrangente reportagem de trinta minutos sobre a crise do euro e a “ditadura de mercado”. Portugal ocupa um terço do trabalho. A partir do minuto 14' são convidados um número significativo de actores portugueses. Aqui ficam alguns destaques:
Sandro Mendonça (professor, ISCTE):
Temos de conseguir dominar este surrealismo [da economia financeira] em que estamos
José Teixeira (transeunte na Praça do Comércio):
Há um descontentamento com certeza, pois ninguém gosta que lhe tirem o ordenado
Mário Nogueira (Frenprof):
O Governo decidiu reduzir em 803 milhões de euros o orçamento da Educação
Jorge Monteiro (desempregado):
Há muitas empresas a fechar
Benedicta Marzinotto (economista, Bruegel):
Os fundos estruturais deveriam ser usados para contrariar o choque recessivo
António Nogueira Leite (PSD):
Nós concentraríamos o ajustamento ainda mais do lado da despesa”
José Lello (PS):
Hoje os governos respondem aos eleitores ou aos mercados?
Boaventura Sousa Santos (Professor, Universidade de Coimbra):
Os cidadãos europeus precisam de reclamar a democracia
“Toda a jornada de um país chegou a uma pausa”
Quatro dias depois, a 18 de Fevereiro, Paul Manson, da BBC, pôs no ar uma reportagem dedicada em exclusivo a Portugal com o título: “Portugal sob pressão em revolução económica”. A situação do País é descrita de forma crua: “Toda a jornada de um país chegou a uma pausa” diz o jornalista, que termina com diagnóstico que poderia antecipar a viagem desta semana de José Sócrates à Alemanha: “o preço da estabilidade implicará que a Europa periférica perca todo semblante de controlo”
O que está em causa é a forma “como todo este país foi gerido nos últimos 20 anos”, avalia Paul Mason, que conta aos seus espectadores uma história já bem conhecida por cá: Portugal enfrenta grandes dificuldades em competir nos mercados internacionais, deixou de poder contar com gastos públicos para alimentar a economia; e assim experimenta o fim da era das grandes obras públicas; e vive com empresas que continuam uma enfrentar uma crise de crédito.
“Portugal precisa de resolver a dívida crescendo, mas neste momento pura e simplesmente não consegue”, sintetiza o jornalista, salientando o elevado desemprego num país que já é pobre: “tem salário mínimo mais baixo da Europa”, descreve. Em suma: a economia está em recessão. E vai continuar.
A peça continua com destaque para a moção do Bloco de Esquerda e para Francisco Louçã com sinal da tensão política no país. Vieira da Silva, dá a cara pelo Governo (coincidência ou não, fala numá sala soturna). Sobre pedir intervenção internacional, o ministro da Economia garante: “Nós decidimos não fazê-lo”, afirma , e acrescenta: “Nós achamos que estamos a ganhar o que temos a ganhar”. Mas não chega a especificar bem o quê. Jorge Silva Melo, dos Artistas Unidos (um veterano conhecedor da revolução de Abril, explica o jornalista), não concorda, e lamenta: “Não há esperança” em Portugal.
A reportagem termina com um diagnóstico dramático: o modelo social português vai ficar não escapará a uma grande pressão e, mais importante, “o preço da estabilidade implicará que a Europa periférica perca todo semblante de controlo”, conclui Paul Mason.
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