Há uns dias que paira um optimismo sobre a crise europeia. Há menos de uma semana, Portugal comprometeu-se a pagar 6,7% ao ano por um empréstimo de 600 milhões a dez anos – mais ou menos ao nível dos juros pagos em 1997, quando o escudo ainda circulava e a inflação rondava os 3% -, e o resultado foi, em termos genéricos, considerado positivo. Ontem, os ministros das Finanças do euro não acordaram nada de significativo, e a Bloomberg titulou que sinais de flexibilização da Alemanha relançam a política de resgates na Europa.
No entanto, apesar dos recentes sucessos, as taxas de juro em mercado secundário, sejam irlandesas ou gregas, sejam portuguesas, espanholas ou belgas mantêm-se teimosamente próximas de máximos. Uma explicação plausível para este comportamento dos investidores encontra-se no cepticismo crescente sobre a probabilidade de sucesso dos actuais e futuros planos de resgate na Europa.
O argumento cada vez mais repetido é o de os países periféricos enfrentam um problema de solvência e, como tal, os empréstimos da UE e do FMI só vão adiar os problemas, podendo até aumentá-los se agravarem as recessões e forem concedidos a taxas de juro excessivamente elevadas que contribuam elas próprias para a insolvência, como argumenta Paul De Grauwe (e criticam Sharon Bowles e Teodora Cardoso).
É por isso que economistas como Daniel Gros, do CEPS, Wolfgang Munchau, economista e colunista do Financial Times, ou Mohamed El-Erian, CEO da PIMCO, o maior fundo obrigacionista do mundo, defenderam durante a semana passada que a melhor solução seria ponderar uma renegociação da dívida (pública e em alguns casos bancária). Ao FT, estrategas de investimento chegaram mesmo a desaconselhar um resgate financeiro em Portugal, vincando a necessidade de apostar em políticas de crescimento. O problema, dizem todos eles, é de solvência. Não de liquidez.
E se assim for, então, num bom cenário, ao tentar travar insolvências com medidas de apoio a liquidez, a Europa arrisca-se a adiar sem prazo uma solução, pagando, com isso, vários anos de baixo crescimento e maus resultados orçamentais – especialmente nos países periféricos. Num mau cenário, o incumprimento ocorre na mesma, mas de forma desordeira.
É por isso provável que um debate sobre a solvência da economia nacional, e as vantagens e desvantagens de um incumprimento venha a ganhar espaço. Ou isolado, ou enquadrado nos debates de outras economias em dificuldades. A este propósito vale a pena dar uma vista de olhos à recente dinâmica da insolvência de Jorge Bateira, nos Ladrões de Bicicletas. Face aos resultados da simples mas eficaz simulação, o economista não vê outra saída que não um “plano B” de natureza federal europeia.
Nos EUA já se desenham outros planos B para a Europa. Mas em terra de eurocépticos e de casas de investimento os planos não são feitos de soluções federais: por lá, até já há quem estime perdas e projecções de saldos de dívida para múltiplos cenários de incumprimento português.
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