Segundo a edição de hoje do Jornal Público o Governo prepara-se para injectar 500 milhões de euros no BPN, uma decisão que será acompanhada pela autonomização da instituição da gestão até agora entregue à CGD. É impressão nossa, ou começa a haver algo de Anglo Irish Bank no BPN?
A noticia replica os principais números sobre a instituição que nos últimos meses têm estado presentes na comunicação social:
1) A CGD emprestou até agora ao banco 4,8 mil milhões de euros
2) Os activos tóxicos do banco ascendem a 1,9 mil milhões
3) Situação líquida negativa de cerca de dois mil milhões
Se se confirmar o cenário traçado pelo Público então:
1) A CGD tem na sua conta corrente com o BCE cerca de 5 mil milhões de euros que pediu emprestados para o BPN. Este é um valor que por enquanto não preocupa, mas quando o BCE fechar a torneira, a Caixa gostará de ter esse dinheiro de volta. Prepara-se um claro conflito de interresses entre o Estado dona da CGD e o Estado dono do BPN;
2) Mas, mais dramático, se o Estado ficar com o banco e apurar todas as perdas, então há um buraco que pode ascender a pelo menos aos dois milhões de euros de activos tóxicos, a que se juntará o dinheiro necessário à regularização a situação líquida do BPN para que este possa funcionar. Ou seja, segundo os números do público, qualquer coisa como 4 mil milhões de euros;
Isto é, se o Estado reconhecer nas contas públicas os 4 mil milhões (ou mais, se o dinheiro da CGD tiver de ser pago) o défice orçamental subirá qualquer coisa como 2,4 pontos de PIB, eliminando toda a consolidação orçamental deste ano.
Olhando para estes números, é inevitável achar que há algo de “Anglo-Irish” no nosso caso BPN. Não será assim de estranhar muito se ouvirmos o Governo a dizer que pede ajuda ajuda à UE e FMI, mas apenas para apoiar o sistema financeiro.
É claro que seria mais fácil se a CGD (que fica fora das contas de défice orçamental) comprasse o banco…
Tags: CGD, BPN, défice orçamental, Anglo Irish, FMI
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