Inflação surpreende em baixa mas deverá subir

12/02/2014
Colocado por: Rui Peres Jorge

A taxa de inflação baixou para 0,1% em Janeiro. José Miguel Moreira, do Departamento de Estudos do Montepio, evidencia que o valor saiu abaixo do esperado, o que coloca a inflação em valores muito baios em termos históricos, mas ainda assim positivos. O economista aponta para uma inflação média em 2014 de 0,6%. Filipe Garcia, da IMF, também aposta numa ligeira subida da inflação no resto do ano, mas subinha que se a inflação baixa, que em princípio ajudaria o País a ganhar competitividade face ao resto da Zona Euro, poderá ter efeitos pequenos na competitividade, pois o resto da Zona Euro também tem está a registar inflação baixa.

 

Nota do editor: No “Reacção dos Economistas” pode ler, sem edição do Negócios, a análise aos principais indicadores económicos pelos gabinetes de estudos do Montepio, Millennium bcp, BPI, NECEP (Universidade Católica) e IMF, isto sem prejuízo de outras contribuições menos regulares. Esta é parte da “matéria-prima” com que o Negócios trabalha e que agora fica também ao seu dispor.  

 

José Miguel Moreira – Departamento de Estudos do Montepio

 

1. A inflação, medida pela variação homóloga do IPC, desceu em Janeiro de 0,2% para 0,1%, depois de ter aliviado no mês anterior de um mínimo desde Nov-09 (-0,2% em Novembro), para um máximo desde Jul-13, revelando uma leitura inferior à aguardada pelo mercado, que apontava para uma aceleração (consenso: +0.4%).

 

2. Tratou-se da 1ª desaceleração dos últimos 3 meses, depois de uma série de 4 desacelerações, sendo visível uma tendência descendente entre nov-11 e out-13 , havendo agora uma certa estabilização em valor perto de zero, mas com a variável a manter-se em terreno positivo pelo 2º mês consecutivo, depois de dois meses a evidenciar quedas dos preços, que foram as primeiras desde Dez-09 (-0.6%).

 

3. Os maiores contributos positivos para a inflação homóloga foram evidenciados pela habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis e pelas bebidas alcoólicas e tabaco, ao passo que as maiores contribuições negativas foram dadas pelos transportes e pelo vestuário e calçado. A taxa de variação homóloga do IPC core foi de 0.1% (+0.2% no mês anterior), mantendo-se pelo 2º mês idêntica à do IPC geral, depois de 3 meses consecutivos num nível superior.

 

4. Em termos anuais, recorde-se que o IPC registou uma taxa de variação média anual de 0.3%, em forte desaceleração (+2.8% em 2012). Estes últimos dados sobre a inflação têm continuado a confirmar as nossas perspectivas, de que as anteriores pressões sobre os preços advinham essencialmente das commodities (em concreto da energia) ou de alterações fiscais e subidas dos preços regulados, assumindo um carácter largamente temporário. A dissipação desses efeitos temporários ao longo de 2013, em conjugação com uma descida do preço médio anual do petróleo, um crescimento marginal dos preços de importação de bens não energéticos e a manutenção de uma forte moderação salarial traduziram-se numa redução da inflação (medida pela variação homóloga do IHPC) em 2013, de 2.8% para 0.5% – um valor que é o 2º mais baixo desde que existem registos, apenas superado pela queda de 0.9% registada em 2009, depois do colapso dos preços do petróleo –, apontando-se para uma inflação em torno dos 0.6% para 2014.

 

5. Refira-se, por último, que com este relatório de Janeiro do IPC, o INE passou também a disponibilizar, pela primeira vez, uma série longa do IPC para o período 1948-2013, consistente com a actual base do índice (2012=100). A série anteriormente disponível desde 1977 foi assim prolongada para o período 1948 a 1976, obtendo-se uma série longa de índices com um grau de detalhe relativamente elevado. Esta nova série revela três fases distintas na evolução do IPC em Portugal, ao longo dos últimos 65 anos: crescimento muito moderado até à década de 70, crescimento significativo até ao início da década de 90 e retorno a um crescimento moderado até ao presente.

 

Filipe Garcia – Informação de Mercados Financeiros

 

1. Janeiro é normalmente um mês de redução do índice de preços no consumidor, o que voltou a verificar-se. O efeito dos saldos pressionou os preços em baixa, enquanto os habituais aumentos de rendas, electricidade e outros tarifários impedem uma queda mais ampla do IPC. No entanto, deve notar-se que os aumentos são normalmente permanentes, enquanto os preços do vestuário e calçado têm um comportamento mais volátil.

 

2. A inflação homóloga e média continuam perto de zero, embora seja de esperar que possam subir ligeiramente ao longo do ano, sobretudo a partir de Março. Algo que parece evidente, mas que é frequentemente esquecido, é que se em termos médios a evolução dos preços é praticamente nula, os agentes económicos são afectados de forma diferente conforme o seu próprio cabaz de compras. Por exemplo, para uma família sem automóvel e que não viaje, é muito mais importante o que se passa ao nível da electricidade, rendas e alimentação do que a evolução do preço da gasolina ou dos bilhetes de avião.

 

3. A queda da inflação constitui uma ferramenta de “desvalorização cambial interna”. Dado que o câmbio é fixo entre os países da UEM, a queda dos preços, acontecendo de forma heterogénea, teria os mesmos efeitos de uma desvalorização cambial com os preços domésticos a subir menos (ou a cair) face aos principais parceiros comerciais, nomeadamente a Alemanha. Como a inflação na Alemanha é baixa (1.2% homóloga), isso significa que, para ganhar competitividade, os restantes países têm de ter uma evolução de preços ainda mais moderada, levando a que países como Portugal, Grécia ou Espanha tenham de registar taxas perto ou abaixo de 0%.

Rui Peres Jorge