A outra face do PIB e do desemprego

22/05/2012
Colocado por: Pedro Romano

Os principais números do primeiro trimestre de 2012 tiveram um sabor agridoce. Do lado da actividade económica, as notícias acabaram por ser boas: o PIB manteve-se praticamente ao nível do trimestre anterior (-0,1%) e furou as expectativas mais pessimistas, que apontavam para contracções na casa dos 1 a 1,5%.

 

Infelizmente, a marcha da economia não teve grande impacto no mercado laboral, que continuou a bater recordes negativos e viu a taxa de desemprego subir para 14,9%, novo máximo histórico (ou, se quisermos ser puristas, “novo máximo da nova série estatística que começa em 2011″). Como em tudo na economia, há duas leituras possíveis.

 

A primeira, do copo meio vazio: a crise económica está a quebrar todas as regularidades estatísticas registadas na economia portuguesa. A proximidade do precipício mede-se pela forma como a evolução do desemprego parece ter “descolado” da evolução da actividade económica.

 

Este ponto já terá sido assumido por Vítor Gaspar, que revelou que o FMI, Governo e Banco de Portugal estão a conduzir um estudo para perceber o que poderá estar na origem deste fenómeno. Em todo o caso, ele parece bem real, como comprova o gráfico seguinte, que compara a variação do PIB com a variação do emprego para o período 1995-2012. Sem surpresas, os dois últimos trimestres são os que se afastam mais da linha de tendência (leitura rápida do gráfico: o emprego está a cair muito mais do que seria justificado pela relação histórica entre PIB e desemprego).

 

 

Agora, a do copo meio cheio. Se o emprego está a cair mais do que o antecipado e o PIB a contrair menos, o rácio entre os dois – também chamado de produtividade – também está a crescer muito mais do que o esperado. Isto pode ser ilustrado de duas formas, e tem uma implicação importante.

 

Primeiro, é possível comparar o crescimento da produtividade nos últimos 15 anos, o que mostra os dois últimos trimestres em destaque (primeiro gráfico). Mas, como a produtividade tende a crescer sobretudo em períodos de crescimento económico, optámos por isolar este factor apresentando os pares “crescimento do PIB vs. Crescimento da produtividade” (segundo gráfico) para vários trimestres.

 

 

 

De novo, os últimos dois trimestres destacam-se claramente da tendência histórica: nunca a produtividade cresceu tanto numcenário recessivo desta natureza. São boas notícias, embora as razões permeçam um pouco nebulosas. Talvez a produtividade esteja a crescer devido a mais eficiência, mas talvez tudo resulte apenas de efeitos composicionais (destruição de emprego em sectores menos produtivos), como está, aparentemente, a acontecer na Irlanda.

 

Em todo o caso, uma coisa é certa: os últimos dois trimestres foram óptimos para a competitividade da economia portuguesa, entendida no sentido lado “custos versus produtividade”. O que, a confirmar-se, significa, em princípio, que não será preciso cortar tanto os salários como se pensava para colocar a economia portuguesa de novo numa situação de equilíbrio externo. Os próximos trimestres poderão lançar mais luz sobre esta questão. 

 

 

 

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