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Portugal não chegou à final do Europeu’12. E por isso mesmo, naturalmente, não vai poder alcançar aquilo que há tantos anos persegue… um título grande a nível internacional. Caiu perante a ..." /> — ler mais..

Portugal não chegou à final do Europeu’12. E por isso mesmo, naturalmente, não vai poder alcançar aquilo que há tantos anos persegue… um título grande a nível internacional. Caiu perante a ..." /> Olhos de ver - Record

Olhos de ver

É só futebol

27 Junho, 2012 0

Portugal não chegou à final do Europeu’12. E por isso mesmo, naturalmente, não vai poder alcançar aquilo que há tantos anos persegue… um título grande a nível internacional. Caiu perante a Espanha. Mas não caiu de uma maneira qualquer. Desta vez, ao invés do que se passou nos “oitavos” do Mundial da África do Sul, em 2010, a Selecção saiu de cena sem ter medo de ninguém, jogando olhos nos olhos com aqueles que são campeões continentais e do planeta. A sorte nos penáltis não nos sorriu. E falo na tão famosa estrelinha porque, neste desempate, o que esteve mesmo em causa foram as bolas que bateram no poste e ressaltaram para dentro ou as que teimaram em não entrar.

Mas, nesta altura, mais do que nunca, é preciso saber relativizar as coisas. Afinal de contas, por muito que o País desejasse este triunfo (e o do jogo seguinte já agora), estamos a falar apenas de futebol, de desporto, de algo que sendo o trabalho de muita gente, mais não é que um mero passatempo, algo que serve para nos distrairmos, ainda que por breves instantes, dos reais problemas da vida.

Ao contrário do que apregoava um jovem num anúncio televisivo, o futuro da nação, o nosso bem-estar colectivo ou individual, não dependia do que se passasse lá nos relvados da Polónia e da Ucrânia. Isso só podia ser uma mera figura de estilo. O que realmente conta, aquilo que mexe decididamente com a nossa vida, não passa por um jogo de futebol. Por vezes, aceito, até daria jeito, mas não é verdade. As tristezas e as alegrias que o desporto nos proporcionam não são comparáveis às outras. Com aquelas que efectivamente são fulcrais no nosso dia-a-dia e não se diluem horas depois de uma eliminação nos penáltis ou após a conquista de um título europeu ou mundial.

A 21 de Junho… só podia

22 Junho, 2012 0

Não sou muito dado a superstições de espécie alguma mas, ainda assim, gosto de saber o que nos diz a tradição quando a Selecção está presente nas fases finais das grandes competições. Dito de outra forma, nunca me esqueço de ver o registo nacional perante o adversário que se segue e, de caminho, espreito também o que se tem passado ao longo da história no mesmo dia em que se disputam os compromissos.

E foi assim, logo após a vitória contra a Holanda, que percebi que tínhamos as contas totalmente empatadas com a República Checa. E tanto fazia ter em atenção apenas os dois duelos que fizemos perante este opositor, como juntando os embates realizados com a entretanto extinta Checoslováquia.

Mas, bem mais interessante que concluir que chegávamos ao encontro de Varsóvia com 4 vitórias e outras tantas derrotas e igualdades face a este adversário, foi perceber que, até à data, Portugal somava por triunfos todos os quatro jogos feitos a 21 de Junho.

E ao contrário do que se poderia facilmente pensar, neste simpático dia… nunca a Seleção jogou em casa. Mas, ainda assim, fora ou em campo neutro, tem sido sempre a andar. A odisseia arrancou em 1956, em Berlim, perante a RDA, num particular (2-0); seguiu-se, em 1966, um êxito na Dinamarca (3-1), quando se preparava a fase final do Mundial; a profecia prosseguiu na fase final do Campeonato do Mundo de 2006, na Alemanha, aquando do sucesso perante o México (2-1) e continuou, em 2010, na África do Sul, com uma goleada (7-0) à Coreia do Norte, em jogo também válido para a fase final de um Mundial. Com um saldo assim… nesta quinta-feira, na capital polaca, só podia acontecer novo triunfo português. E não falhou!

O que continua a falhar são os golitos de Nani neste Europeu. Estava bastante convicto de que o extremo do United faria o gosto ao pé diante dos checos. Enganei-me. Ainda não foi desta. Mas não desisto da ideia. E espero que ele também não: estamos combinados para a meia-final, dia 27, em Donetsk.

PS – Como é óbvio já fui ver qual o registo da Selecção a 27 de Junho. E gostei do que vi. Não, neste caso, ainda não há um domínio das nossas cores. Não há… porque nunca Portugal entrou em campo nesse dia. E nem quero saber quem estará do outro lado. Essa data precisa de se estrear com mais um sucesso nacional.

PS 1 – Ronaldo parece ter “entrado” em definitivo no Europeu. E a jogar assim, sem surpresas, ele confirma o que todos já sabíamos: é o melhor futebolista do Velho Continente na actualidade. Que continue assim e, se for preciso, troque os remates aos ferros por golos. O pessoal com arritmias e outras problemas cardíacos agradece…

PS 2 – Uma equipa não é só um jogador. Ronaldo voltou a brilhar com os checos, mas seria injusto não destacar igualmente Moutinho, Veloso, Coentrão e Pepe. Não estou a dizer que os restantes foram maus. Longe disso. Apenas a salientar que este quinteto foi espantoso.

A Selecção e as críticas

19 Junho, 2012 0

Ninguém gosta de ser criticado. Faz parte da natureza humana. E por ser assim não considero nada estranho que Paulo Bento e os jogadores da Selecção tenham ficado algo sentidos com algumas coisas que leram ou ouviram antes do Europeu começar e até mesmo depois dos jogos com Alemanha e Dinamarca.

Percebo perfeitamente que os profissionais de determinado ofício não apreciem comentários menos agradáveis. É fácil, por exemplo, torcer o nariz quando um técnico de futebol se apercebe que companheiros de lides – alguns dos quais já ocuparam o seu posto e outros sonham em fazê-lo – vêm a público questionar tudo e mais alguma coisa, desde questões óbvias até outras que não lembram a ninguém. Mais: é bastante compreensível ver alguém desatinar quando, toda uma nação, considera ter conhecimentos suficientes para colocar em causa isto e aquilo.

No caso da Selecção Nacional também sei que as críticas da imprensa nem sempre são bem recebidas. É normal. Mais que não seja porque, tenho consciência disso, nem todas são justas ou, tão ou mais importante, devidamente fundamentadas. Ainda assim – e já sei que esta ideia não vai merecer a concordância da maioria dos leitores – é capaz de ser mais lógico ser criticado por um profissional da comunicação da área em causa do que por um médico, cineasta, advogado, sexólogo, músico, etc, etc.

Mas, regressemos ao essencial: criticar é um exercício típico da liberdade. Todas as pessoas, com ou sem conhecimentos evidentes de certo tema, têm o direito de se pronunciar. Da mesma forma que os visados têm o direito de não gostar. A liberdade funciona assim, sendo que de vez a vez acaba por produzir conflitos desnecessários.

E é exactamente um desencontro desnecessário aquilo que eu penso estar a verificar-se, por estes dias, no seio da Selecção Nacional. Paulo Bento – e bem – começou por nos dizer que, no final da participação portuguesa no Europeu, estaria disposto a abordar todos os assuntos, a responder a tudo o que lhe perguntassem. Todavia, após o jogo com a Holanda, provavelmente empolgado com a exibição, o resultado e a qualificação para os “quartos”, quebrou a promessa e tratou de enviar recados a todos os que considera não estarem com a equipa. Pior: denunciou existirem alguns portugueses que não se sentiriam contentes com o sucesso nacional e até admitiu que, desde logo, esses “traidores” já deviam estar a comprar cachecóis da Rep. Checa.

Paulo Bento não esteve bem nestas declarações. Porque o “timing” das mesmas não foi o mais adequado, porque a vitória sobre a Holanda e o embate seguinte com os checos deviam merecer todas as atenções e, já agora, porque fica mal atirar recados para o ar sem concretizar. Se o seleccionador conhece portugueses que torcem contra a Selecção – e seguramente não deve estar a pensar em cidadãos anónimos – deve dizer os seus nomes. Meter tudo no mesmo caso, generalizar, é sempre perigoso e injusto.

De resto, Paulo Bento e os jogadores – que entretanto iniciaram uma espécie de “blakcout” por solidariedade a Cristiano Ronaldo depois das críticas (algumas perfeitamente correctas) que o capitão foi alvo antes do duelo com a Holanda – têm de saber separar as coisas. Desejar o desaire de Portugal é uma coisa, mas criticar a lista dos 23 presentes no Euro, defender uma outra táctica, um onze formado por outros elementos, colocar em causa as substituições ou dizer que Ronaldo falhou um golo feito diante da Dinamarca, por exemplo, é outra bem diferente. Não é justo colocar do lado dos “traidores” aqueles que não concordam com tudo o que é feito na formação das quinas. Já critiquei muitas coisas na Selecção (antes e depois da entrada de Paulo Bento), mas sempre desejei (e jamais deixará de ser assim) as vitórias do meu país. E estou à espera de mais uma na quinta-feira…

PS – Não gosto de Michel Platini enquanto dirigente da UEFA. Da mesma maneira que não gosto de Joseph Blatter à frente da FIFA. Mas, independentemente dos meus gostos, tenho de dizer que ver o francês, horas antes da Espanha jogar a sua continuidade no Europeu, a dizer que gostava de ver uma final entre espanhóis e alemães é surreal. Pior só constatar, depois, que o árbitro do jogo (curiosamente um germânico) “não viu” dois penáltis contra a Espanha…

Com Ronaldo? ?à Ronaldo? é mais fácil

17 Junho, 2012 0

Tinha pedido para alguém avisar Cristiano Ronaldo de que havia jogo neste domingo e, pelos vistos, o assunto foi tratado. O madeirense fez uma exibição fantástica e guiou Portugal até ao triunfo frente à Holanda (2-1) e, mais importante, rumo aos quartos-de-final do Europeu, já que os alemães não foram em arranjinhos com a Dinamarca.

Com uma exibição “à Ronaldo”, do calibre de tantas que estamos habituados a vê-lo fazer ao serviço do Real Madrid, o capitão elevou a fasquia e, sem surpresa, aproveitou o espaço que a Holanda lhe ofereceu. No final, para além da importante e motivadora vitória, foi possível contabilizar 12 remates da nossa estrela. Dois acabaram no fundo da baliza, outros tantos embateram nos ferros, cinco foram parados pelo guarda-redes e três foram ao lado. Pelo meio, ainda mais três assistências, uma desaproveitada de forma impensável por Nani.

Quando Ronaldo joga aquilo que está ao seu alcance… Portugal pode ganhar a qualquer equipa no Europeu ou no Mundial. Estou cansado de o dizer e escrever: só Messi pertence ao mesmo “campeonato” de CR7. E como o argentino não alinha em torneios de selecções do Velho Continente, Ronaldo pode e deve mostrar ser o melhor futebolista entre todos os que estão a competir nos relvados polacos e ucranianos.

Não sei se Ronaldo engatou uma prestação tão boa devido ao excessivo adiantamento dos holandeses, se se cansou de ser criticado, se foi apenas feliz desta vez ou se ganhou uma motivação suplementar por se tratar da data de aniversário do seu filho. O que sei (já sabia, apenas confirmei pela enésima vez) é que quando tem a cabeça limpa, este rapaz consegue fazer quase tudo dentro de um campo de futebol. Marcou duas vezes e podiam ter sido três, quatro ou mais.

Mas, nesta altura, seria injusto falar apenas em Ronaldo. Ele foi o melhor – e será sempre que faça o que está ao alcance do seu potencial – mas não jogou sozinho, nem sequer foi o único a brilhar. Pepe, por exemplo, esteve sublime, confirmando ser, de momento, um dos centrais mais fortes do planeta. Imperial com a bola no ar ou junto ao solo, voltou a ser uma fonte de segurança para todo o sector recuado, onde os laterais foram esforçadíssimos (a defender e atacar, com destaque para a assistência de João Pereira), Bruno Alves “limpou” o que precisava de ser “varrido” e Patrício esteve seguro.

Na zona central, Moutinho esteve sempre muito bem e foi importante na primeira parte a seguir ao golo da Holanda, ao colocar ordem na equipa. Miguel Veloso (de quem não sou particular adepto) ocupou bem os espaços, foi um precioso auxiliar do quarteto defensivo e soube posicionar-se na transição defesa-ataque. Meireles não atingiu o nível normal porque, penso eu, “rebentou” fisicamente.

Na frente, Postiga foi o lutador de sempre, prendeu bem a bola e marcou… em fora-de-jogo. Nani, pese todo o esforço e os passes bem medidos, falhou na finalização. E se falhou. Acredito que já agendou o seu momento para quinta-feira, pois também ele – como Ronaldo – tem de deixar marca nesta competição.

E por falar em quinta-feira – e sem qualquer menosprezo pela equipa checa – convém assumir, sem rodeios, que Portugal é favorito. Agora, precisa é de actuar concentrado e sem medo de pegar no jogo logo de entrada. Sim, convém ser dominador como aconteceu no embate com a Dinamarca e não dar de avanço como nos jogos com Alemanha e Holanda. É que essa “táctica” nem sempre produz bons resultados. Com tudo normal, a vingança de 1996, da “chapelada” de Poborbsky, está aí à porta. Isso e (para já) a presença nas meias-finais… 

Ronaldo: domingo há jogo!

14 Junho, 2012 0

Portugal derrotou a Dinamarca no Europeu de futebol. Imperou a lógica, digo eu. No entanto, como faz parte da tradição nacional (e logo no dia do igualmente tradicional Santo António) só o fez depois de passar por um susto tremendo. Ter estado a ganhar, tranquilamente, por 2-0 não foi suficiente para que todos tivéssemos uma tarde serena.

Em condições normais – e mesmo sabendo que a vitória foi o mais importante – a nação devia estar agora a discutir a maneira como os dinamarqueses marcaram dois golos; o facto de toda a defesa ter estado a dormir no lance do primeiro golo de Bendtner; a falha no tempo de salto de Pepe (grande exibição) aquando do segundo cabeceamento certeiro do avançado nórdico; a forma algo arriscada como Paulo Bento se recusou a proceder a alterações no meio-campo durante a segunda parte, etc, etc. No entanto, as pessoas só falam de outro tema: Cristiano Ronaldo.

Já o disse vezes sem conta e não tenho problema em repetir: Ronaldo é o segundo melhor futebolista mundial da actualidade. Só fica atrás (e por pouco) de Messi. Na Europa, então, por muito que Robben ou Ribéry joguem; por mais golos que Huntelaar, Gomez ou Rooney marquem… não há nada a fazer, o português é incomparavelmente superior. Isso, contudo, não significa (nem podia) que esteja sempre bem. Por vezes, o madeirense fica longe do seu fulgor. E em alguns dias (felizmente escassos) pode mesmo dizer-se que joga mal. Contra a Dinamarca foi um desses dias. E considerar que não se deve abordar o assunto dessa forma é absurdo. Ronaldo é excelente, mas pode e deve ser criticado quando não rende o esperado. Por ser o melhor, não é diferente dos demais. É humano e erra. Como todos nós.

Perante os dinamarqueses – e sendo certo que o capitão se esforçou para que as coisas lhe saíssem de feição -, Ronaldo esteve completamente desastrado na altura de visar a rede contrária. E foi essa anormal incapacidade para aproveitar oportunidades soberanas que ia deitando tudo a perder. Se o milagre de Varela não caísse do céu, e mesmo sabendo que uma equipa não é apenas um elemento, Ronaldo teria de ser apontado como o grande responsável pelo empate.

Ronaldo está visivelmente ansioso, da mesma forma que surgiu nervoso no Mundial de 2010. Ninguém mais do que ele quer que as coisas corram bem, mas a pressão adicional que coloca nas suas costas não o ajuda, nem favorece a equipa. Bem pelo contrário. No intervalo do duelo com a Dinamarca, segundo o relato da Antena 1, Ronaldo queixou-se ao dirigente João Vieira Pinto que só tinha tocado meia dúzia de vezes na bola! Parece mentira, mas é verdade. Que raio de preocupação. Não era mais importante estar satisfeito com o resultado (2-1) e com a exibição? E, já agora, na segunda parte, que fez quando recebeu a redondinha?

Conforme não tenho problemas em criticar as exibições de Ronaldo, também assumo acreditar que, a qualquer altura, a sua genialidade acabará por aparecer. Contudo, se calhar seria importante alguém avisá-lo que há jogo domingo. Com a Holanda a ter de vencer (e logo por uma diferença superior a 1 golo), Portugal vai ter – como tanto aprecia– espaço para contra-atacar. Quer isto dizer que, em teoria, Ronaldo terá todas as condições para brilhar. Ainda por cima, também já se viu que a “Laranja” possui uma defesa consideravelmente vulnerável.

Ronaldo tem de perceber que todo o País o quer aplaudir. Mas não deve viver obcecado com a necessidade de ser a estrela do conjunto. Se jogar aquilo que sabe… chega e sobra. 

PS – Não quero acreditar que Dinamarca e Alemanha “cozinhem” um resultado, na última jornada do Grupo B, que os apure automaticamente e deixe Portugal de fora mesmo goleando a Holanda. Mas mentiria se dissesse que o assunto não me vem à cabeça de vez e vez…

PS 1 – Leio no “Correio da Manhã” que o Sporting vai custear a defesa de Paulo Pereira Cristóvão que estará a ser investigado por… burlar o clube! Nem sei o que dizer. Só sei que Godinho Lopes continua a coleccionar situações verdadeiramente inacreditáveis no seu mandato. Mas, pelos vistos, os sócios leoninos não se indignam. Enfim…

Ainda a final do playoff de basquetebol

12 Junho, 2012 0

 

Propositadamente deixei passar a histeria nacional que se abateu sobre os incidentes registados no final do quinto e último embate do playoff de basquetebol. E só agora, semanas depois e quando o mundo está a olhar para o Europeu de futebol, resolvi dizer algumas coisas sobre aquilo que ocorreu no Dragão Caixa.
Quem jogou basquetebol tantos anos e passou mais uns quantos a ser treinador jamais poderá dizer que não aprecia uma final de playoff até ao último encontro, até à derradeira posse de bola. Essa é a essência do sistema de disputa que, com o passar dos anos, em Portugal e não só, foi adoptado por variadíssimas modalidades. Por isso, a primeira ideia que pretendo transmitir é que Benfica e FC Porto foram dignos finalistas e tudo fizeram para ficar com o título.
Ganharam as águias, mas podiam ter ganho os dragões. Os encarnados foram mais fortes na final e na maioria dos confrontos directos, mas os azuis e brancos mostraram ser mais consistentes na fase regular, como se atesta pelo facto de terem terminado na frente, pese terem perdido os dois duelos com o rival.
Emoção e incerteza quanto ao vencedor não significa, desde logo, bons espectáculos. Benfica e FC Porto, durante a final, mostraram problemas exagerados para controlar a posse de bola, para acertar lançamentos relativamente fáceis, para cobrar lances-livres. Mérito das defesas? Sim, em parte, mas não sempre. Nervos e ansiedade próprios do momento? Sim, em parte, mas essa desculpa não pode servir sempre quando em causa estão os melhores conjuntos nacionais, recheados de elementos experientes e habituados a embates ao mais alto nível, nomeadamente ao serviço da Seleção Nacional.
Segunda ideia: ninguém falou dos árbitros após o jogo 5. E se ninguém o fez, tal deve-se ao simples facto dos juízes terem tido um trabalho sensacional em condições naturalmente complicadas face ao caractér decisivo do embate. O Benfica não ganhou por ter sido ajudado, nem o FC Porto perdeu por ter sido prejudicado. O mesmo se diria, aliás, se o “tiro” de meio-campo de Carlos Andrade tivesse entrado.
Bom, passemos então ao resto. No que pouco ou nada tem a ver com basquetebol, mas que conseguiu fazer com que o País, de repente, mais parecesse a Lituânia, visto que toda a gente só falava da modalidade. Falo dos cidadãos anónimos, mas também de um ror de opinadores que, pese nunca terem sido vistos num pavilhão, foram céleres a dizer de sua justiça.
Os gestos que Carlos Lisboa protagonizou no final do encontro não são bonitos. E não deviam ter sido feitos. Mas foram, no seguimento de um momento de enorme stress em que, nesta ou noutra modalidade, os intérpretes têm dificuldade em controlar as emoções, em ignorar os apupos. O técnico disse depois, em entrevista a Record feita por mim, que os gestos tiveram um único destinatário. Um sujeito que foi para o pavilhão carregado de cartazes a implicar com o treinador encarnado e com alguns jogadores.
Tenho para mim que a pressão vinda das bancadas faz parte do processo da alta competição. Considero que jogadores, treinadores ou dirigentes devem aprender a lidar com isso. Lisboa, pese toda a sua experiência, vacilou e ficou mal na fotografia. No entanto, como tantas vezes se diz, é preciso ver para além da imagem que nos chega. Que quer isso dizer? Basicamente que ele não é louco, da mesma forma que diria que Carlos Andrade não seria louco se, num dos duelos da Luz, fosse mais longe na resposta às contínuas provocações de que foi alvo por parte de muitos adeptos encarnados.
Lisboa não esteve bem e sabe-o, da mesma forma que sabe (e disse) porque reagiu de forma inapropriada. Ainda assim, para uns quantos iluminados da nossa praça, “devia ser irradiado” ou, mais engraçado, “não faz falta ao desporto nacional”.
Sou pela democracia e isso faz-me defender que todos têm direito a expressar as suas opiniões. Mas a liberdade, acrescente-se, também me permite não concordar com algumas das coisas que leio, vejo ou escuto. Mais: faz com que possa directamente criticar as opiniões alheias. E é exactamente por beneficiar desse previlégio que hoje, neste espaço, gostaria de saber o que é que esses entendidos recomendariam caso Carlos Lisboa tivesse agredido alguém?
Neste país de memória curta – e não me peçam para dar exemplos porque o texto já vai longo – muitos presidentes de federações, dirigentes ou treinadores não estariam em funções se os tais “moralistas” pudessem pintar o mundo à sua maneira. Ou as opiniões mudam consoante o clube do prevaricador?
Um senhor bizarro e estridente, que é excelente na sua área profissional mas não descansou enquanto não ganhou protagonismo no clube do coração, acha que “Lisboa está a mais no desporto nacional”. É uma opinião. Perante isso gostava de saber o que pensa sobre o treinador de futebol do seu clube? Provavelmente estava fora quando esse agora técnico atravessou a capital de uma ponta a outra antes de agredir o seleccionador… E também devia estar ocupado quando a mesma pessoa, então na pele de dirigente, agrediu um futebolista do seu próprio clube. É pena ser tão esquecido… Mas, acredito, a amnésia (selectiva) acabará um dia.
PS – Para quem não sabe ou já se esqueceu: não foi a primeira vez que um campeão nacional de basquetebol recebeu a taça no balneário e os incidentes registados no Dragão Caixa não foram os mais graves que aconteceram no basquetebol nacional (no Porto, por exemplo, já sucederam episódios consideravelmente piores). A diferença é que, no passado, não tínhamos twitter, facebook, telemóveis, vários canais televisivos, Internet, etc, etc. 

Propositadamente deixei passar a histeria nacional que se abateu sobre os incidentes registados no final do quinto e último embate do playoff de basquetebol. E só agora, semanas depois e quando o mundo está a olhar para o Europeu de futebol, resolvi dizer algumas coisas sobre aquilo que ocorreu no Dragão Caixa.

Quem jogou basquetebol tantos anos e passou mais uns quantos a ser treinador jamais poderá dizer que não aprecia uma final de playoff até ao último encontro, até à derradeira posse de bola. Essa é a essência do sistema de disputa que, com o passar dos anos, em Portugal e não só, foi adoptado por variadíssimas modalidades. Por isso, a primeira ideia que pretendo transmitir é que Benfica e FC Porto foram dignos finalistas e tudo fizeram para ficar com o título.

Ganharam as águias, mas podiam ter ganho os dragões. Os encarnados foram mais fortes na final e na maioria dos confrontos directos, mas os azuis e brancos mostraram ser mais consistentes na fase regular, como se atesta pelo facto de terem terminado na frente, pese terem perdido os dois duelos com o rival.

Emoção e incerteza quanto ao vencedor não significa, desde logo, bons espectáculos. Benfica e FC Porto, durante a final, mostraram problemas exagerados para controlar a posse de bola, para acertar lançamentos relativamente fáceis, para cobrar lances-livres. Mérito das defesas? Sim, em parte, mas não sempre. Nervos e ansiedade próprios do momento? Sim, em parte, mas essa desculpa não pode servir sempre quando em causa estão os melhores conjuntos nacionais, recheados de elementos experientes e habituados a embates ao mais alto nível, nomeadamente ao serviço da Seleção Nacional.

Segunda ideia: ninguém falou dos árbitros após o jogo 5. E se ninguém o fez, tal deve-se ao simples facto dos juízes terem tido um trabalho sensacional em condições naturalmente complicadas face ao carácter decisivo do embate. O Benfica não ganhou por ter sido ajudado, nem o FC Porto perdeu por ter sido prejudicado. O mesmo se diria, aliás, se o “tiro” de meio-campo de Carlos Andrade tivesse entrado.

Bom, passemos então ao resto. No que pouco ou nada tem a ver com basquetebol, mas que conseguiu fazer com que o País, de repente, mais parecesse a Lituânia, visto que toda a gente só falava da modalidade. Falo dos cidadãos anónimos, mas também de um ror de opinadores que, pese nunca terem sido vistos num pavilhão, foram céleres a dizer de sua justiça.

Os gestos que Carlos Lisboa protagonizou no final do encontro não são bonitos. E não deviam ter sido feitos. Mas foram, no seguimento de um momento de enorme stress em que, nesta ou noutra modalidade, os intérpretes têm dificuldade em controlar as emoções, em ignorar os apupos. O técnico disse depois, em entrevista a Record feita por mim, que os gestos tiveram um único destinatário. Um sujeito que foi para o pavilhão carregado de cartazes a implicar com o treinador encarnado e com alguns jogadores.

Tenho para mim que a pressão vinda das bancadas faz parte do processo da alta competição. Considero que jogadores, treinadores ou dirigentes devem aprender a lidar com isso. Lisboa, pese toda a sua experiência, vacilou e ficou mal na fotografia. No entanto, como tantas vezes se diz, é preciso ver para além da imagem que nos chega. Que quer isso dizer? Basicamente que ele não é louco, da mesma forma que diria que Carlos Andrade não seria louco se, num dos duelos da Luz, fosse mais longe na resposta às contínuas provocações de que foi alvo por parte de muitos adeptos encarnados.

Lisboa não esteve bem e sabe-o, da mesma forma que sabe (e disse) porque reagiu de forma inapropriada. Ainda assim, para uns quantos iluminados da nossa praça, “devia ser irradiado” ou, mais engraçado, “não faz falta ao desporto nacional”.

Sou pela democracia e isso faz-me defender que todos têm direito a expressar as suas opiniões. Mas a liberdade, acrescente-se, também me permite não concordar com algumas das coisas que leio, vejo ou escuto. Mais: faz com que possa directamente criticar as opiniões alheias. E é exactamente por beneficiar desse previlégio que hoje, neste espaço, gostaria de saber o que é que esses entendidos recomendariam caso Carlos Lisboa tivesse agredido alguém?

Neste país de memória curta – e não me peçam para dar exemplos porque o texto já vai longo – muitos presidentes de federações, dirigentes ou treinadores não estariam em funções se os tais “moralistas” pudessem pintar o mundo à sua maneira. Ou as opiniões mudam consoante o clube do prevaricador?

Um senhor bizarro e estridente, que é excelente na sua área profissional mas não descansou enquanto não ganhou protagonismo no clube do coração, acha que “Lisboa está a mais no desporto nacional”. É uma opinião. Perante isso gostava de saber o que pensa sobre o treinador de futebol do seu clube? Provavelmente estava fora quando esse agora técnico atravessou a capital de uma ponta a outra antes de agredir o seleccionador… E também devia estar ocupado quando a mesma pessoa, então na pele de dirigente, agrediu um futebolista do seu próprio clube. É pena ser tão esquecido… Mas, acredito, a amnésia (selectiva) acabará um dia.

PS – Para quem não sabe ou já se esqueceu: não foi a primeira vez que um campeão nacional de basquetebol recebeu a taça no balneário e os incidentes registados no Dragão Caixa não foram os mais graves que aconteceram no basquetebol nacional (no Porto, por exemplo, já sucederam episódios consideravelmente piores). A diferença é que, no passado, não tínhamos twitter, facebook, telemóveis, vários canais televisivos, Internet, etc, etc. 

Portugal tem de acreditar

9 Junho, 2012 0

Perdemos com a Alemanha. Não devia ter sido assim, mas foi. A Selecção não fez uma exibição notável, mas mostrou o suficiente para, no mínimo, empatar contra um opositor de valor, que teve mais posse de bola, mas que em momento algum mostrou ser consideravelmente mais forte que a equipa comandada por Paulo Bento.

Nesta altura, como em tantas outras, lamentamos a nossa triste sina que passa por criar situações de golo e atirar a bola contra o poste, a trave, os defesas contrários, os guarda-redes ou, em alternativa, acertar em todos os locais possíveis e imaginários menos naquele que é o alvo.

Portugal perdeu com a Alemanha, é verdade, mas mostrou capacidade. Não foi a equipa pálida e sem coração que vimos, recentemente, contra Macedónia e Turquia. Desta vez, mesmo sabendo que do lado de lá estava gente mais qualificada, os nossos futebolistas foram corajosos, determinados e raçudos. Deram o que tinham e, de facto, não teria ficado nada mal que, pelo menos, tivessem marcado um golito.

Perder este encontro foi uma injustiça tremenda, mas tal desfecho não deve, desde já, fazer com todos baixemos a cabeça. Acreditar que é possível derrotar a Dinamarca no segundo duelo não é uma ideia descabida. Bem pelo contrário. E se os nórdicos conseguiram bater a Holanda, nós também o poderemos fazer. Para que isso aconteça, contudo, é essencial acreditar, ter esperança que o melhor futebol acabará, mais tarde ou mais cedo, por se traduzir em golos e consequentemente em resultados positivos.

Individualmente, gostei muito de ver Fábio Coentrão regressar às exibições que lhe trouxeram fama no Benfica. Veloso também esteve bem na posição de médio mais recuado. Aliás, toda a equipa cumpriu com aquilo que se exigia. Então o que falhou? A finalização colectiva, um ou outro momento de inspiração de Ronaldo, o deslize no lance do golo alemão e a sorte que, decididamente, jogou do outro lado.

Mas, resumindo, o Europeu ainda não acabou. E independentemente de não concordarmos com os 23 escolhidos por Paulo Bento (faço parte desse rol), com o onze escolhido, com as substituições ou com a táctica… esta é a nossa Selecção e devemos estar com ela até ao fim. É que o futebol, verdade seja dita, é das poucas coisas que ainda nos dão orgulho neste país recheado de problemas e de gente incapaz nos respectivos ofícios.

PS – Após os dois primeiros resultados, creio que o denominado “Grupo da Morte” vai ser simplesmente espectacular até ao fim. E não me parece líquido que as duas nações que saíram na frente sejam aquelas que vão marcar presença nos quartos-de-final…

Bruce: o homem que rejuvenesce

4 Junho, 2012 0

Gosto de música e de ir concertos. Confesso, contudo, que não sou particular amante dos chamados festivais. Nem tanto pelo excessivo aglomerado de pessoas, mas essencialmente porque as bandas, na grande maioria dos casos, tendem a fazer espectáculos q.b devido às restrições de tempo. No domingo, porém, tive de alterar o meu procedimento habitual. O regresso de Bruce Springsteen a Portugal “obrigou-me” a marcar presença no derradeiro dia da edição 2012 do Rock in Rio. Ainda por cima, para além de apreciar imenso o estilo do norte-americano, também gosto de James e sou, desde sempre, um adepto incondicional de Xutos e Pontapés.

Não estou nada arrependido de ter passado mais 8 de horas de pé. A actuação de James foi notável – pela música, pela forma como o vocalista Tim Booth se exibiu em alto nível e pela mensagem política que o guitarrista Saul Davies (que é casado com uma portuguesa e vive no Norte do país) fez questão de assumir; os Xutos confirmaram ser uma banda à parte no contexto nacional (o alinhamento foi marcado por várias músicas de cariz político e Kalu não se esqueceu de enviar um recado à troika e não só…) e até os Kaiser Chiefs cumpriram a sua parte, com destaque para o facto do vocalista Ricky Wilson se ter lembrado de passear de “slide” durante uma música.

Mas, naturalmente, o protagonista da jornada tinha de ser Bruce Springsteen. E o cantor, de 62 anos, foi simplesmente brilhante, assinando um concerto memorável. Quem assistiu à performance de quase 2.40 horas até se esqueceu da valente seca que apanhou entre o final da actuação dos Xutos e a entrada em acção do norte-americano.

Com uma energia de fazer inveja aos jovens, Bruce não parou quieto um instante. Cantou, tocou, dançou, falou em português, discursou com o sentido crítico que sempre se lhe reconheceu e nem os foguetes a anunciar o fim de festa na Bela Vista o fizeram parar.

Com o público resistente conquistado – milhares foram abandonando devido ao adiantar das horas e ao cansaço -, Bruce mostrou, mais uma vez, que para ele concertos não são coisa apenas para cumprir calendário. O músico respeita a sua história, assim como todos aqueles que pagam bilhete para ver. Tanto que ficou no ar a ideia de que, por ele, a coisa ainda tinha ido mais além. Aliás, com ele são raros os concertos com menos de 3 horas de palco!

É justo dizer que se Bruce é uma autêntica força da natureza, o espectáculo só atinge patamares de excelência porque, ao seu lado, estão um sem número de músicos igualmente brilhantes. A The E Street Band segue com entusiasmo e classe as pisadas do líder. E ainda bem. É que mesmo cansado sabe muito bem ver e ouvir actuações tão deslumbrantes.