Saber admitir os erros
Estar de férias permite, entre outras opções muito melhores, arranjar tempo para arrumar papéis e coisas do género. Durante a tarefa tropecei numa página de jornal com a crónica de um jogo, do início de uma época não muito distante. Reli a escrita de então e sorri por recordar que fui acusado de estar a fazer a cama a um treinador (à acusação respondi que contei apenas aos leitores o que vi durante o jogo, como faço sempre).
Lembrei-me depois de uma conversa um pouco mais antiga, no final da época anterior, com um dirigente do clube em causa, convencido eu de que o técnico não tinha condições para continuar depois de uma temporada desastrada.
Foi mais ou menos assim:
– Então e treinador para a próxima época, já pensaram?
– Vai ser o mesmo, confiamos nele.
– Mas isso não é um risco? Acha que ele vai mudar?
– Acreditamos que sim. Você acha que não?
– Os resultados dizem tudo, rematei.
Começou a nova época e não se registaram melhorias: Empate caseiro contra um candidato à descida; derrota fora frente a outro candidato à descida; vitória caseira sofrível (1-0); empate milagroso fora (conseguido no último minuto); empate caseiro (0-0) com exibição muito fraca – o tal da minha crónica.
No dia seguinte a este último empate, de manhã, recebi um telefonema. Do outro lado, o dirigente com o qual tivera a tal conversa no final da época anterior.
– Alô Miguel, já viu o nosso site?
– Não, não vi. Há novidade?
– Há, vamos mudar de treinador.
– Pois, afinal não mudou nada…
– Temos de saber admitir os erros e mais vale agora enquanto há tempo para recuperar.
No final da época a equipa conquistou o objetivo.