Passe Teleguiado

Foto: Reuters

‘Xavi pára-brisas’. Esta foi a alcunha que a imprensa espanhola arranjou para Xavi nos primeiros tempos do médio no Barcelona. A teoria era que aquele jovem, então com 19 anos, só sabia fazer passes para o lado, como que imitando o movimento das escovas que limpam o vidro do automóvel. O tempo encarregou-se de provar que Xavi sabia muito mais do que apenas lateralizar.

Há uns tempos, Xavi desvendou alguns segredos de como ser um mestre do passe. “A primeira lição que me ensinaram no Barcelona foi a de jogar com a cabeça levantada. Se olharmos à nossa volta apenas quando recebemos a bola, sabem o que vai acontecer, certo? Mas se levantarmos a cabeça antes de recebermos o passe do nosso colega, temos imediatamente noção do espaço em redor, ficamos a saber onde está o adversário mais próximo e quais as opções que temos para fazer o passe com sucesso. Tive muitos conselhos na carreira, mas este foi o primeiro e tornou-se no mais importante”, confessou Xavi numa entrevista à ‘Four Four Two’.

Neste artigo, as lições foram dadas por Xavi. “O mais importante de um passe é que chegue ao teu colega de forma a que que ele não tenha problemas na ação seguinte. Primeiro e mais importante: procuro alguém desmarcado. Porque vou dificultar-lhe a vida se lhe passo a bola quando ele tem um defesa por perto. Penso também se o meu colega é esquerdino ou destro e faço o passe de acordo com esse aspeto para que ele possa progredir rapidamente. Por fim, o passe tem de ser feito para que ele se direcione para a frente”, completou o espanhol.

Parece difícil só de ler, quanto mais de fazer – pior ainda se pensarmos que tem de ser feito em poucos segundos. Mas há mais: “Não sou forte nem alto, logo sempre tentei procurar espaço para criar e ter tempo de pensar, controlar a bola e procurar o passe seguinte. Isto significa que tenho de correr quilómetros em cada jogo em busca desse espaço e, assim, permitir que o meu colega desenvolva a jogada quando lhe passo a bola”.

Para Xavi, todo o trabalho vale a pena quando a bola acaba no fundo da baliza. “Não há sensação igual à de uma assistência. Quando fazes aquele passe que termina em golo… pensas: ‘Porra, isto é fantástico’. Um passe que rasga o campo até à ala e que, graças ao cruzamento seguinte, resulta em golo é muito bom, mas um passe no centro do campo, que parte a linha defensiva e deixa o teu avançado na cara do guarda-redes, é do melhor que existe. O meu passe para o golo do Pedro na final da Liga dos Campeões de 2011 foi um um momento incrível”, revelou Xavi.

O passe de que Xavi fala e que deu no golo de Pedro contra o Manchester United:

Hoje, Xavi faz 38 anos e ainda joga: está no Al-Sadd (Qatar), equipa treinada por Jesualdo Ferreira. Ficará na história do futebol como um dos melhores de sempre e não precisou de ser rápido, alto nem forte. Bastou-lhe ser inteligente.

Esta é a homenagem do Barcelona em dia de aniversário:

Quando Xavi punha em prática tudo o que sabia (acredite, não há só passes para o lado). As melhores assistências no campeonato, numa escolha de La Liga:

Why not take a moment to enjoy Xavi Hernandez’s top 6 assists in #LaLiga?

Happy 38th birthday, legend! ?? pic.twitter.com/XqVYckQPGs

— LaLiga (@LaLigaEN) 25 de janeiro de 2018

O Nápoles, uma das equipas que melhor futebol pratica na Europa, perdeu em casa do Manchester City, outro exemplo de uma máquina de jogar futebol esta época. Mas, apesar da derrota, houve um pormenor que mereceu a minha atenção: 562 passes e uma eficácia de 85% – a equipa de Guardiola chegou aos 88% –  em casa do adversário.

Na Liga dos Campeões o cenário podia ser melhor para a equipa de Maurizio Sarri, com uma vitória e duas derrotas em 3 jogos. Mas na Serie A ainda não houve quem travasse este Nápoles: 8 vitórias, 0 empates, 0 derrotas, 26 golos marcados (o melhor ataque) e 5 sofridos (uma das melhores defesas).

O exemplo é da pré-época… mas é um excelente exemplo de como joga este Nápoles.

#AudiCup2017 El tiki taka del Napoli ?¡Madre Mía! Que manera de generar un 3 contra 2 ????pic.twitter.com/7XHm4WHQ4V

— Diógenes Acosta (@DiogenesAcosta) 1 de agosto de 2017

Voltando à Serie A, o Nápoles é também a equipa com maior eficácia de passe (89,5%) e de posse de bola (60,2%). A nível individual, Koulibaly (93,7%) e Zielinski (93,3%) e Jorginho (92,3%) estão no pódio dos que melhor passam a bola, isto falando de jogadores do Nápoles. A diferença é que Jorginho arrisca mais passes longos e, por isso, acaba por falhar um pouco mais. Eu sei que são muitos números, mas para se ter uma ideia, Jorginho fez 530 passes com sucesso, contra 38 falhados, em 6 dos 8 jogos em que participou esta época na Serie A.

Nascido no Brasil, este médio de 25 anos mudou-se para Itália em 2007, tem nacionalidade brasileira e italiana e já representou a Squadra Azzurra em dois jogos… particulares. Ou seja, o Brasil ainda pode chamá-lo. Assim de repente, parece-me que é obrigatório que esteja no Mundial’2018, seja com o amarelo do Brasil ou com o azul da Itália – se ultrapassar a Suécia no playoff.

É ver com atenção o que faz o camisola 8 (além dos passes, há desarmes e golos).

Para se ter uma noção do impacto deste Nápoles, basta recordar o que disse Pep Guardiola após o jogo:

“Como jogador e treinador nunca vi uma equipa tão boa como este Nápoles. Se continuarem a jogar a este nível vão longe”

“Sofri muito com Isco”, disse Marco Verratti depois do jogo entre Espanha e Itália. É difícil haver maior elogio do que um vindo de outro grande jogador. No jogo em questão, as redes sociais vibraram com este momento:

Um pormenor bonito e, acima de tudo, eficaz. Ultrapassou o adversário, manteve a posse de bola e ganhou o espaço que precisava para desenhar o resto da jogada. Este túnel de Isco tornou-se viral e a Liga espanhola juntou-se à festa uns dias depois com uma compilação dos melhores ‘caños’, como lhe chamam os espanhóis, do médio.

E como a Internet é um Mundo, alguém decidiu juntar as melhores fintas de Isco sobre outros grandes jogadores. E sim, dá para ver que Verratti sofreu muito naquele jogo…

Isco é isto e muito, muito mais. Lembra-se do elogio de Verratti no início do artigo?

“Isco faz coisas em campo que nem todos conseguem fazer”, disse Zinedine Zidane. Agora sim, está mesmo tudo dito.

Facebook Thiago Alcantara

Já escrevi sobre um Thiago neste blog, agora escrevo sobre outro: Thiago Alcântara. Primeiro, porque o Bayern Munique anunciou esta sexta-feira a renovação do médio até 2021; segundo, porque é um dos jogadores que mais gosto de ver num campo de futebol. As receções de bola com a sola, qual jogador de futsal, as fintas que mais parecem jogo de consola e, claro, os passes – não podiam faltar neste blog – que me deixam impressionado, não só pela eficácia, mas também pela forma como são feitos – calcanhar, trivela, etc. Tipo este:

E o que vale é que há sempre alguém pronto a juntar os melhores momentos num só vídeo. Obrigado Bundesliga!

Verdade seja dita, melhor momento do que este é difícil – só prova a necessidade extrema de Thiago em fazer sempre um bom passe, nem que seja para o… Pai Natal.

Quando falamos de Thiago lembramo-nos de Pep Guardiola. O treinador trabalhou com o médio no Barcelona e, mais tarde, levou-o para o Bayern. Será que ainda vamos ver Thiago no Manchester City? Bem, pelo menos não deverá ser para breve, a avaliar pela renovação de contrato com os alemães.

Arranca este sábado a edição de 2017 da Major League Soccer. Confesso: sou fã do campeonato de futebol dos Estados Unidos. Sim, eu sei, não é o mais rico taticamente; até pode não ter a competitividade de outros, mas tem golos. Aliás, costuma ter muitos golos – um assunto que já abordei neste blog quando escrevi sobre Kljestan e Pirlo

E tem também jogadores de renome mundial como David Villa e Andrea Pirlo, ambos do New York City; Kaká (Orlando City); Giovinco (Toronto), entre muitos outros. Eu cá prefiro destacar outros dois, menos conhecidos. São eles Ignacio Piatti (Montreal Impact) e Mauro Díaz (Dallas). Ambos argentinos, ambos com a camisola 10, e com algo que aprecio: pormenores de classe. Seja num simples controlo de bola, seja quando apenas um pequeno toque para o lado chega para fintar o adversário. Veremos o que fazem este ano!

Alguns meses depois da criação deste blog, estava na altura de um artigo à altura do nome ‘Passe Teleguiado’. Senhores e senhoras, Paul Pogba.

O passe de Pogba é fantástico, a receção de bola de Rashford também, só faltou a finalização para o lance ser perfeito.

O exemplo seguinte é semelhante –  a ‘peitaça’ de Fellaini também merece ser destacada.

E, de vez em quando, também pode ir de trivela:

E que tal recordar mais uns quantos com a camisola da Juventus e da seleção francesa?

Esta época, Pogba é o segundo jogador com mais passes na Premier League – 1601 em 22 jogos, atrás do Jordan Henderson (Liverpool) – com uma média de 72,77 passes por jogo. Em passes longos, 116 chegaram ao destino certo, mas assistências para golo são apenas 3. Sim, eu sei, Pogba custou 105 milhões de euros. Não sei se vale tanto, mas sei que vale a pena ver passes destes.

Nunca fui adepto de comparações no futebol. Freddy Adu já foi o ‘novo Pelé’; Juan Iturbe e mais uns quantos já foram chamados de ‘novo Messi’, entre outros exemplos. Normalmente, a tendência é a previsão sair ao lado. Vem isto a propósito de Alexander Isak, avançado do AIK. Foi dado como quase certo no Real Madrid; assinou pelo Borussia Dortmund. Chamam-lhe o ‘novo Ibrahimovic’, não só porque é sueco, mas também pelas características. Alto (1,90 m), é elogiado pela capacidade técnica, pelo toque de bola e, claro, pelos golos – 10 em 24 jogos no ano passado. O Borussia Dortmund pagou cerca de 10 milhões de euros por Isak, mais do que o Ajax gastou para contratar Ibrahimovic ao Malmö em 2001, fazendo deste jovem a maior venda de um clube da Suécia. E desta vez não é comparação, são apenas factos.

Este vídeo ajuda a perceber se Isak tem – ou não – algo de Ibrahimovic.

Reforço que não defendo as comparações, mas junto mais um nome à discussão. A primeira coisa que pensei quando vi Gianluca Scamacca a jogar foi: “Parece mesmo o Ibrahimovic”.  A mesma altura (1,96 m), o toque de bola, os pormenores, a capacidade de segurar a bola, etc. Italiano, de 18 anos, começou a carreira na Roma e atualmente pertence ao PSV; curiosamente Ibrahimovic também foi para a Holanda (Ajax) quando deixou o país de nascimento.

As ‘cópias’ prometem mas será que conseguem fazer coisas destas como o ‘original’?

David Villa foi eleito o melhor jogador da Major League Soccer (MLS), a principal distinção individual do campeonato dos Estados Unidos. Mas há mais para destacar e numa competição onde os golos abundam, nada como olhar para quem os fabrica. O rei das assistências do ano passado foi Sacha Kljestan (New York Red Bulls). No total foram 20 passes para golo em 32 jogos deste médio norte-americano. Um registo que ajudou a alcançar outro na MLS: Sacha Kljestan, de 31 anos, participou em 113 oportunidades de golo em 2016. O máximo era 89.

113 – @SachaKljestan created 113 chances (including assists) in the 2016 regular season. No other player created more than 89. Playmaker.

— OptaJack (@OptaJack) January 8, 2017

Nada como ver as imagens (o vídeo só tem 19 e não 20 e há lances em que são mais assistências para… assistências para golo, mas a contabilidade oficial é da Major League Soccer)

Mas num artigo sobre um maestro do passe a jogar em Nova Iorque é obrigatório recordar outro: Andrea Pirlo (New York City FC). Fez 11 assistências na fase regular da MLS (10.º lugar do ranking final), metade do registo de Kljestan, mas Pirlo… é Pirlo.

Basicamente é isto: Pirlo – e Kljestan, já agora – consegues fazer o passe para o sítio certo?

Thiago Motta, de 34 anos, anunciou esta semana que vai sair do Paris SG no final desta época.  “Posso ainda jogar ao mais alto nível, talvez em campeonatos emergentes, o que poderá ser entusiasmante para a minha família”, confessou o médio em entrevista ao jornal ‘Gazzetta dello Sport’.

O futuro ainda é incerto mas, seja como for, a carreira já ninguém lhe tira: Barcelona, Atlético Madrid, Inter Milão e Paris SG, só para citar os mais importantes. O que se traduz em campeonatos conquistados em Espanha, Itália e França, entre outros troféus.

Em 2014, entrevistei Danilo Pereira, ainda o médio estava no Marítimo, e perguntei-lhe qual tinha sido o jogador mais complicado que já havia defrontado. Na altura, a resposta surpreendeu-me.

“A forma como Thiago Motta recebe a bola e lê o jogo torna-o difícil de analisar e até de antecipar a jogada”, explicou Danilo, atualmente no FC Porto.

Thiago Motta nunca foi um jogador muito rápido, mas compensa com a inteligência. Sabe quando fazer um simples passe para o lado ou para trás, ou quando é seguro arriscar o passe longo; entrega a bola e, de imediato, oferece uma linha de passe, entre outras qualidades. É um dos melhores do Mundo na primeira fase de construção.

O melhor é mesmo ver. Escolho este jogo contra o Real Madrid, em outubro de 2015, em que Thiago Motta teve 92% de passes certos – segundo dados ‘Opta’.

Fotografia: Central Coast Mariners

É normal que o nome Storm Roux não lhe diga muita coisa. Afinal, trata-se de um futebolista que representa uma seleção pouco famosa (Nova Zelândia) e que alinha num campeonato menos mediático (A-League, a 1.ª Divisão da Austrália).

Este defesa do Central Coast Mariners tornou-se protagonista quando, em fevereiro, ganhou a alcunha de ‘jogador mais azarado do Mundo’ ao sofrer três lesões no mesmo lance: rotura de ligamentos do tornozelo, fratura do perónio e ombro deslocado.

O Record falou com o jogador na altura má («OUVI LOGO UM ESTALO E PERCEBI QUE TINHA PARTIDO A PERNA»); voltou a entrevistá-lo este mês e por uma boa razão: o regresso aos relvados. (CHEGOU A BONANÇA PARA STORM)

Na última jornada da A-League surgiu mais um episódio desta história feliz e de superação, já que Storm Roux foi eleito o homem do jogo no confronto com o Western Sydney Wanderers. O caminho faz-se caminhando.

?? @Storm_Roux ??
1️⃣ Returns from injury ??
2️⃣ Plays 90 minutes ?
3️⃣ Returns to @CCStadium ?
4️⃣ Named skipper & MOTM ?#CCMFC pic.twitter.com/UxjJeOtleE

— #CCMFC (@CCMariners) October 30, 2016

Para trás ficaram 8 meses de recuperação, com muito sofrimento à mistura. E tudo por causa deste lance.

(AVISO: As imagens podem ferir os mais sensíveis)