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O regresso de Nani ao Sporting é a notícia da semana. O extremo português ofuscou a contratação de Júlio César pelo Benfica e deverá originar uma romaria esta noite a Alvalade, na estreia de Marco ..." /> — ler mais..

O regresso de Nani ao Sporting é a notícia da semana. O extremo português ofuscou a contratação de Júlio César pelo Benfica e deverá originar uma romaria esta noite a Alvalade, na estreia de Marco ..." /> Lado B - Record

Lado B

Entre Nani e Quaresma

24 Agosto, 2014 0

O regresso de Nani ao Sporting é a notícia da semana. O extremo português ofuscou a contratação de Júlio César pelo Benfica e deverá originar uma romaria esta noite a Alvalade, na estreia de Marco Silva em casa, mas sendo o menino da formação o grande chamariz. É num cenário festivo que os leões lambem as feridas de um empate sensaborão em Coimbra.

Já no Dragão, a deslocação a Paços de Ferreira surge envolta em dúvidas apesar da vitória em Lille, pelo caso protagonizado por Quaresma. A mão dura de Lopetegui percebe-se e o homem das trivelas ficou de fora da convocatória, para ver se entende que o tempo em que ditava regras no balneário acabou. O comportamento dentro e fora de campo sempre mereceu reparos, mas faltou na época passada quem tivesse a coragem de o colocar no devido lugar. Pelos vistos, hoje há.

Nani traz muitíssima qualidade ao Sporting. Opte Marco Silva por utilizá-lo a extremo ou por dentro, o internacional português é um homem que dá ao técnico soluções de um para um e de talento como não há no plantel. Para além disso, as bancadas estão ávidas de um símbolo e a aposta num jogador que a formação criou faz esquecer os baldes de água fria que foram Simão e Quaresma nos rivais. Mas não há nenhuma solução em que tudo sejam rosas. E a união no balneário leonino, que transparecia a época passada jogo após jogo, é testada com a chegada do craque do Manchester United. O salário de Nani não tem qualquer comparação com os dos seus companheiros. Em relação a alguns a diferença chega mesmo a ser pornográfica. E é aqui que a mensagem de Bruno de Carvalho e Marco Silva e o empenhamento do jogador não podem colocar dúvidas a todo o grupo. Porque é assim que se perdem as equipas.

A época passada não era fácil entender o endeusamento de Quaresma. Por cada golo, trivela ou finta bonita deixava um buraco aberto no corredor ou desistia dos lances como se fosse demasiado bom para correr atrás da bola. A desorientação e a ausência de talento nas alas terão levado os responsáveis a aturá-lo. Esta época com a chegada de Torres, Tello ou Brahimi, para nomear apenas alguns, já há ali muita gente para conquistar as bancadas. E o extremo portista ou se aplica como os outros ou terá um triste fim no Dragão. Lopetegui já mostrou não ter medo de tomar decisões difíceis. Quem aposta em Rúben Neves e deixa Casemiro sentado no banco na 1.ª jornada, é porque não está cá para agradar a ninguém mas para morrer com as suas ideias. E com as vitórias a solidificarem o trabalho do espanhol, vai ser vida dura.

Hoje foi dia de medalhas

20 Agosto, 2014 0

 

BRUNO DE CARVALHO
Vender Rojo e conseguir Nani é proeza assinalável. Há questões por resolver, mas a vitória do momento é inegável.

 

MARCOS ROJO
De patinho feio na seleção argentina e no Sporting ao Manchester United. O trabalho árduo compensa. Parabéns.

 

UKRA
Goste-se ou não dos banhos públicos, Ukra tomou uma posição social. É bom conhecer um jogador com opinião.

 

DIAKHITÉ
O jogador do Olhanense faltou aos treinos e tem um processo disciplinar às costas. Diz que não quer jogar na 2.ª liga…

 

 

 

 

 

A vida dá muitas voltas

11 Agosto, 2014 0

Nem besta, nem bestial. Provavelmente, as qualidades de Artur encontrar-se-ão algures no meio das duas nomenclaturas. A verdade é que ontem, após defender três grandes penalidades, numa Supertaça mais complicada do que os encarnados esperavam, o tão criticado guarda-redes brasileiro acabou por ser o herói da noite. Mas o homem que foi decisivo em Aveiro era o mesmo que nem cumprimentado foi no final do jogo com o Valencia na Emirates Cup. A vida é assim, dá muitas voltas. E mesmo quem é incompreendido, injustiçado ou por vezes apenas desaproveitado tem por vezes uma segunda oportunidade. Aconteceu a Artur e ele disse presente. Curiosamente, no prolongamento também esteve perto de borrar a pintura. Mas a vida é feita de derrotas e vitórias. Ontem foi a noite de Artur. Parabéns merecidos.

O Benfica abre a época com mais uma conquista e, à exceção da final da Liga Europa perdida com o Sevilha, conquista o quarto título consecutivo. Os encarnados fizeram um belo jogo e a vitória assenta-lhes tão bem. A morte anunciada do campeão não só era exagerada, como a histeria em volta da equipa excessiva. Já tinha escrito, o plantel não chega para ganhar a Champions, mas para consumo interno tem de dar para mais. Afinal, um jogador do Benfica paga o grupo vila-condense. Haja decoro no choradinho dos reforços.

Entretanto, o culpado de todos os males na preparação da época parece ser o BES. Compreendo a necessidade de encontrar bodes expiatórios, mas convém lembrar que os problemas começaram antes da chegada de Vítor Bento e da criação do Novo Banco. Não andamos todos a dormir.

Dier falou em Inglaterra, Cavaleiro na Corunha. Os jovens jogadores da formação têm dificuldades em perceber por que não são aposta. Cada caso é um caso, e estes não são iguais, mas revelam o difícil que é o acesso às primeiras equipas. O inglês sentiu-se discriminado por não ter renovado e elege o presidente como causa de todos os males. Já Cavaleiro elogia o líder do clube mas ataca o treinador, que não aposta na formação. Salta à vista que nem tudo correu bem e que as situações poderiam ter tido outro desfecho. Sporting e Benfica têm de parar de comprar estrangeiros menores. Quando não é para jogarem, mais vale apostar nos da casa. Pelo menos, sabem com o que contam.

Atenção ao Rio Ave. Mais uma final perdida, sim, mas com honra. E quem sabe como seria se não tivessem jogado 5.ª feira à noite… Pedro Martins e os seus jogadores lutaram e caíram nos penáltis. Parabéns também!

Ainda não estão fartos?

8 Agosto, 2014 0

Num país em que as elites tanto roubam, onde somos confrontados ano após ano com desfalques, enganos, esquecimentos e quejandos, tudo a somar milhões e milhões pagos por contribuintes a quem nem sequer é perguntado se ali querem aplicar o dinheiro, são poucas as almas que levam a sério a racionalidade quando toca ao futebol. Não que surpreenda, pois dos muitos milhares de milhões perdidos entre BPN e BES não há paradeiro e ninguém vai preso. Mas ainda assim, não deixa de espantar como queremos que se faça nos clubes o que evitamos em casa. Procuramos o bem de quem? Se no orçamento familiar tentamos equilibrar as contas e não compramos aos nossos filhos tudo o que nos pedem porque é preciso pagar o carro e o empréstimo da casa, como pedir a Vieira, Pinto da Costa ou Bruno de Carvalho para gastarem o que têm e o que não têm? É que a torneira um dia vai fechar. Se não secou já.

Claro que há exceções. Adeptos lúcidos que percebem que a sua equipa não pode ser tão forte quanto deseja porque não há dinheiro para mais. Mas serão eles a maioria? Só se forem a silenciosa.

Hoje, mais importante do que pedir reforços no Benfica ou no Sporting, é preciso compreender por que não há dinheiro para mais. Ou por que chegaram os clubes a dívidas tão impressionantes que na gestão corrente se veem todos os anos obrigados a vender para equilibrar as contas. Em Alvalade já se percebeu que o estrondoso falhanço do projeto Roquette e a gestão megalómana de Godinho Lopes levaram o clube à ingovernabilidade. Não fosse a chegada de Bruno de Carvalho e o acordo com a banca a tempo e horas e hoje dificilmente o Sporting seria o grande que todos conhecemos.

Na Luz, mais do que pedir reforços para estancar a sangria, é preciso tentar entender por que é que Vieira se vê obrigado a vender tudo o que mexe. Não é a pedir ao presidente para contratar jogadores que se mostra amor ao clube. É percebendo a política de contratações, o emaranhado de empréstimos obrigacionistas, qual o passivo que está a pesar e as obrigações emergentes de um grupo empresarial com mais de 500 milhões de euros de passivo. O problema não é de hoje. Pode estar é no que se fez ontem.

Mas o FC Porto compra tudo o que mexe. Verdade. Será essa a política correta? Não será mais lúcido o comportamento de Bruno e Vieira? O futuro o dirá. A verdade é que num país a sério, onde o futebol não fosse quase uma religião, os três grandes estavam fechados. E não era só para balanço.

Pede-se tempo e dinheiro

6 Agosto, 2014 0

São muitos os pedidos oficiais e oficiosos para que os adeptos não fiquem preocupados com os resultados da pré-época do Benfica – ontem, durante a transmissão do jogo com o Bilbao na BTV, isso foi mesmo público e notório. Há, de facto, tempo para que as coisas entrem nos eixos. Mas olhar para o que têm sido os jogos encarnados e não perceber que começa a haver razões para preocupação também é meter a cabeça na areia. Se até o treinador já pediu reforços publicamente…

É óbvio que Jorge Jesus continua a precisar de tempo para montar a equipa. E que a chegada de um guarda-redes e um médio-defensivo deverá deixar o plantel mais forte. Mas o que importa agora é fazer contratações cirúrgicas e que acrescentem mesmo valor à equipa que ficou na Luz. Todos sabem que os que saíram eram muito bons. É preciso que os que estão a chegar tenham qualidade e que o técnico faça aquilo de que tanto se gaba.

Salta à vista que um dos problemas do Benfica desta época são os chamados reforços, que pouco mostram até ao momento e vão precisar de mais trabalho do que é habitual para encaixarem. Se Talisca começou por encantar, o cansaço parece estar a tirar-lhe discernimento, César demonstra ainda alguma verdura para andanças tão exigentes e Luís Filipe tem mesmo alguns momentos em que chega a parecer um erro de casting, isto para citar apenas alguns. Mas o que se passa então?

O que falta no Benfica não são contratações. Elas são muitas e para todos os gostos. É da falta de reforços que os adeptos se queixam. Porque têm dificuldades em perceber que se contrate Djavan por um milhão de euros para após três treinos ser despachado para Braga. Afinal, trata-se de um lateral que jogou toda a época passada em Portugal. Se não era para fazer parte do plantel seria um negócio crucial? Como o argentino Fariña, por exemplo…

No fundo, todas estas políticas de contratações serão perdoadas caso se ganhe e escrutinadas a pente fino caso se perca. Foi assim durante anos. Pinto da Costa e Antero Henrique fizeram o que quiseram sempre que ganharam, assim como Vieira no Benfica. As questões levantam-se apenas quando não se vence. E essa é a grande guerra desta época. Vai confirmar-se o declínio portista e avançar a nova era de domínio encarnado ou os dragões vão voltar a arrasar como têm feito nos últimos 30 anos? E sim, há o Sporting, que no meio da luta entre os tubarões está atento à procura de uma oportunidade. Aí, perder Dier não é grande notícia. É bom para Marco que Rojo fique.

E quem diria que não?

5 Agosto, 2014 0

Estes dias de verão ditam muitas análises apressadas ao mercado e ao comportamento de dirigentes e jogadores. Aos primeiros, a acusação mais ouvida é de que estão a desmantelar as equipas quando vendem os craques mais apetecíveis. Aos segundos, que são mercenários sem qualquer amor ao clube que representam. Qualquer dos argumentos aceita-se bem numa qualquer conversa de café. A quem passa anos a conviver com o fenómeno futebolístico pede-se um pouco mais. Até porque nos anos recentes o equilíbrio financeiro do país se alterou muito. Os passivos dos grandes clubes, habilmente sustentados pela banca, que ia vivendo dos juros e alimentando o espetáculo do povo sem grandes percalços, passaram a preocupar após o fecho da torneira. O caso do BES, por exemplo, obrigou o Benfica a vender mais do que desejava, tentando chegar a um encaixe de 100 milhões para evitar novo empréstimo obrigacionista.

É aqui que têm de se perceber os papéis desempenhados, por exemplo, por Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho. O primeiro está, de facto, a enfraquecer a equipa. Não há forma de fugir à questão. Mas o que poderia o presidente encarnado fazer após oferecer um plantel de luxo a Jesus, que deu ao clube três títulos em 2013/14? É impossível manter encargos financeiros tão altos quando as receitas não esticam e a banca deixa de ajudar após um simples estalar de dedos. A troika não mudou só as nossas vidas. Mudou todo um país. Querer que Benfica, Sporting e FC Porto fujam a este novo paradigma é enterrar a cabeça na areia. E sim, é verdade que os dragões têm gasto mais do que a conta. Mas se não venderem o suficiente para equilibrar a balança, um dia a fatura vai chegar. Veja-se a política seguida por Godinho Lopes…

Quanto aos jogadores, eles são profissionais como todos nós, que vivemos do trabalho. Sim, com salários muito mais altos. Mas principescos, em Portugal, apenas os dos três grandes. Nos restantes clubes são muito poucos os jogadores que hoje ganham o suficiente para amealhar a despreocupação numa vida que termina pouco após os 30 anos… e se tudo correr bem.

É muito hipócrita querer que um jogador continue em Portugal quando lá de fora lhe acenam com ordenados tão superiores. Por exemplo, se o Sporting vender William Carvalho a um clube estrangeiro este defeso, o médio leonino poderá facilmente passar a ganhar 10 vezes mais do que em Alvalade. Qual seria o português capaz de dizer não a uma proposta milionária destas? Ricardo Salgado? Pois é, haja decoro.

 

Texto publicado na versão impressa de Record a 31-07-2014