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Olhos de ver

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Peseiro já merecia ser feliz

29 Agosto, 2012 603 visualizações

Há muita gente que não considera José Peseiro um bom treinador. Os que pensam assim argumentam que o ribatejano, invariavelmente, fica pelo “quase”, quando a história costuma reservar lugar de destaque só para aqueles que efectivamente consumam a “ameaça” de ganhar.

Apesar de concordar que, de facto, a carreira de técnico (ou de futebolista) precisa de títulos, não faço parte do rol que desvaloriza o desempenho de José Peseiro ao longo dos anos. Mais: aquando da sua passagem pelo Sporting (aquela que mais contribuiu para se criar uma ideia errada em torno das suas capacidades), muitos criticaram a forma como os leões deixaram escapar, em poucos dias, o título nacional e a Taça UEFA. No entanto, se o treinador cometeu erros, convém destacar que, dentro do campo, os jogadores protagonizaram tantos ou mais. Ainda assim, o que ficou para a história foram só os “quase sucessos” do técnico.

De forma sustentada, trabalhando com afinco, sem precisar de comprar guerras e apostando num discurso realista, Peseiro tem conseguido, quase sempre, algo que teima em passar despercebido, mas que, para uns quantos, ainda é importante: colocar as suas equipas a praticar bom futebol. Tenho a certeza que isso, por si só, não chega para quem é profissional. Porém, apostar na qualidade ainda é (e deverá ser sempre) um caminho a ter em conta.

Sabendo que muitos não concordam comigo, continuo a considerar que, no Sporting, foi Peseiro o último treinador a mostrar, de forma regular, futebol de qualidade. Jozic, por exemplo, também o conseguiu a espaços, mas não tantas vezes quanto o técnico português. Que terá faltado, então, para o sucesso? Se calhar… apenas um pouco de sorte. É verdade que isso da ajuda divina costuma dar muito trabalho, mas no caso deste treinador é difícil ignorar os inúmeros momentos em que os deuses da fortuna o têm abandonado. Recordo, por exemplo, a forma como viu escapar a possibilidade de levar a Arábia Saudita ao Mundial de 2010. Se não tivesse assistido ao jogo com o Bahrein tinha dificuldades em acreditar.

Neste “playoff” de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, o Sp. Braga de Peseiro foi sempre mais equipa que a Udinese. Foi fácil seguir em frente? Não, bem pelo contrário. Mas, quem acompanhou os dois jogos, sabe bem que os minhotos, se existisse alguma justiça ou lógica no futebol, tinham passado sem grandes sobressaltos. Foram felizes nos penáltis? Sim, mas também já está na altura de dizer que os desempates através das grandes penalidades não são apenas uma questão de lotaria. É que na saída das bolinhas ninguém (acho eu) consegue interferir, ao passo que jeito para bater penáltis e capacidade para aguentar a pressão inerente ao momento são coisas que se trabalham nos treinos.

Mas, para além da questão futebolística (Peseiro venceu de forma clara o duelo dos bancos e não teve medo de arriscar nas substituições), o treinador de Coruche esteve brilhante no discurso após a qualificação. Ao contrário de outros, que se colocam em bicos dos pés para ficar com parte dos louros alheios, fez questão de saudar o desempenho da equipa técnica de Leonardo Jardim (deixando também uma palavra para todos os que, antes do seu antecessor, ajudaram ao crescimento arsenalista) e não se esqueceu dos jogadores que, não estando no clube, contribuíram para o terceiro lugar da temporada passada. E até quando colocado perante a possibilidade de receber reforços, Peseiro brilhou ao dizer que não precisa, assegurando ter um plantel forte e onde já é bastante complicado escolher o onze para cada embate.

Peseiro chegou ao ponto de afirmar que, sendo possível perder jogadores até ao fim do prazo das inscrições, que isso não deve ser visto de forma negativa, pois é a prova de que o Sp. Braga está forte e que os “tubarões” acompanham a evolução da equipa e dos seus profissionais.

Com todas as condições para poder perder-se nas palavras e nos actos, Peseiro foi sublime na forma como geriu as emoções nas horas seguintes ao sucesso de Udine. E se ele já merecia ser feliz…

Resta dizer que, sem desprimor para o Sp. Braga, acredito que este técnico ainda vai voltar a sentar-se no banco de um emblema com maiores responsabilidades. A competência esteve sempre lá, agora parece que a estrelinha da sorte também já se rendeu…