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Se o que se passou durante o Sp. Braga-Benfica foi mau para o futebol, tudo o que se ouviu e leu depois da partida foi pior. Consideravelmente pior. Tudo porque, como tantas vezes acontece, há no..." /> Ofensas “à minhota” e “à espanhola” - Olhos de ver - Record

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Ofensas “à minhota” e “à espanhola”

8 Novembro, 2011 602 visualizações

Se o que se passou durante o Sp. Braga-Benfica foi mau para o futebol, tudo o que se ouviu e leu depois da partida foi pior. Consideravelmente pior. Tudo porque, como tantas vezes acontece, há no desporto quem tenha necessidade de arranjar confusão, de semear a discórdia, de encontrar justificações para as derrotas ou para os empates. Nunca tive paciência para esses “filmes”, o que não significa que desvalorize a vontade de ganhar, a defesa do grupo a que pertencemos ou a denúncia de situações graves.

A primeira declaração estranha que tive conhecimento após o termo do embate no Estádio Axa chegou-me via twitter. Artur, guarda-redes encarnado que a época passada estava ao serviço dos arsenalistas, disse que em Braga “é preciso jogar contra 11 e contra os truques fora de campo”. Não faço a mais pequena ideia sobre o teor da acusação do brasileiro mas, a partir do momento em que a li, passei a ter interesse em saber do que se trata.

Ninguém, em seu perfeito juízo, diz uma coisa destas sem que, de seguida, não tenha de se explicar. Já nem vou dizer que o Sp. Braga devia ter sido célere em exigir esclarecimentos, mas a Liga de Clubes, tão pronta a acudir a outras questões, devia ter instaurado de imediato um processo de averiguações e, mais tarde, chamar Artur para se pronunciar de forma directa. É que falar em “truques fora de campo”, num clube que tem lutado pelos postos cimeiros do Campeonato e esteve na final da Liga Europa da temporada passada não pode, pura e simplesmente, cair no esquecimento. Estão muitas coisas em causa, a começar pelo bom nome do clube minhoto e do futebol português. Ora, assim sendo, Artur só tem de contar o que sabe. Ou, em alternativa, pedir desculpa pelos incómodos causados a partir de uma declaração a quente, sem sentido.

Na segunda-feira, a troca de acusações foi mais forte. Começou Alan, respondeu Javi Garcia e fechou Djamal. Pelo meio, o Sp. Braga também emitiu um comunicado. Resumidamente… foi uma “peixeirada”, dentro do estilo a que nos habituaram aqueles doutores que às segundas à noite fazem com que a deplorável “Casa dos Segredos” pareça uma coisa interessante. Que tristeza!

Conforme facilmente se depreende, não faço a menor ideia se o espanhol do Benfica foi incorrecto na forma como se dirigiu aos seus companheiros de profissão, adversários no momento. Não sei e pouco me importa! Sim, não pactuo com atitudes racistas, mas não alinho facilmente com aqueles que se escandalizam porque no futebol, ou noutra modalidade, se ouvem frases ou expressões que, noutro contexto, podem ser consideradas muito ofensivas.

Joguei (e fui treinador de) basquetebol durante vários anos e assumo, sem orgulho mas igualmente sem vergonha, que chamei nomes a colegas, adversários, árbitros, treinadores e até elementos do público. Dentro do jogo, as pretensas ofensas e os palavrões têm um sentido diferente. São proferidas de forma instantânea no calor da luta, quando se tenta atingir objectivos, quando se pretende dar sentido ao trabalho da semana, de meses, por vezes de anos. Repito: chamei isto e aquilo, da mesma forma que dezenas e dezenas de opositores fizeram o mesmo comigo, com os meus companheiros. Com toda a sinceridade… não vejo nada de errado nisto. Faz parte. Não foi por isso que deixei de fazer imensas amizades no desporto. Eu e todos os outros.

O desporto é, pelo menos segundo o meu entendimento, uma boa escola de vida, mas tal como acontece nos verdadeiros estabelecimentos de ensino, nele não se aprendem só coisas positivas, nem todas as pessoas que por lá andam são de boa índole. Contudo, sejamos coerentes, um campo de basquetebol (ou de futebol) não é uma igreja. Ouvir expressões pouco cordatas é normalissímo, independentemente de estarmos numa partida profissional, amadora, de escalões de formação ou do sexo feminino. Quem pensa ou diz o contrário não sabe do que fala ou está a tentar ser mais papista que o Papa.

PS – Gostava de ter uma nota de 500 euros por cada ofensa dita durante um jogo de futebol. E tinha imensa curiosidade em saber quantos jogadores, na partida de Braga, chamaram nomes aos adversários e ao árbitro. Dando de barato que Javi Garcia o fez, aposto que não foi o único. Talvez Alan me ajude a esclarecer a dúvida…

PS 1 – Sei perfeitamente que, em Portugal e não só, muita gente utiliza a expressão “preto” de forma pejorativa. Não a entendo assim e sei que muitos africanos (conheço imensos desde os meus tempos de adolescente) pouco ou nada ligam a isso, sendo os primeiros a usar a palavra para se apelidarem uns aos outros. De resto, se uns são brancos e não claros, tenho dificuldade em perceber porque outros devem ser negros e não pretos. E escusam de inventar cenários: não sou, nunca fui e jamais serei racista.

PS 2 – A serem verídicas as acusações de Alan (e Djamal), verdadeiramente graves foram as palavras de Javi sobre os filhos do brasileiro. Isso sim, a meu ver, é uma ofensa gigantesca.

PS 3 – Também sobre esta celeuma entre os jogadores do Sp. Braga e do Benfica, a Liga deve tomar uma posição que, naturalmente, terá de passar por um processo. Tenho sérias dúvidas é que alguém consiga provar o que quer que seja.