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No dia 12 de Agosto “postei” aqui um texto intitulado “Agora é a sério” onde, de forma resumida, lançava a temporada 2011/12. Depois de tecer os meus considerandos futebolí..." /> Árbitros: esses malditos! - Olhos de ver - Record

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Árbitros: esses malditos!

23 Agosto, 2011 635 visualizações

No dia 12 de Agosto “postei” aqui um texto intitulado “Agora é a sério” onde, de forma resumida, lançava a temporada 2011/12. Depois de tecer os meus considerandos futebolísticos, coloquei um último parágrafo mais geral que passo a recordar:

Mas, com o regresso do futebol “a sério” vão chegar também as críticas à arbitragem; os discursos de ocasião dos dirigentes (que historicamente mudam de opinião consoante os seus clubes são beneficiados ou prejudicados); as declarações repetidas de treinadores e jogadores (com essa particularidade de todos os compromissos serem bastante complicados); as guerrilhas estúpidas entre Norte e Sul; os preços exorbitantes dos ingressos; os jogos “fora de horas” e às segundas-feiras; as inúmeras simulações de profissionais sem brio e as partidas sem qualquer qualidade a que só deviam assistir as crianças que se recusam a comer a sopa. Enfim, como em tudo na vida, também o futebol não é perfeito..

Não era preciso ser adivinho para saber que o palpite era correcto, pois desde que acompanho o desporto-rei (e já lá vão umas décadas) nada se alterou. Ainda assim não estava à espera que bastariam duas jornadas para acertar em toda a linha. 

Pessoalmente apreciei o diferendo entre Jorge Jesus e Vítor Pereira, basicamente porque teve tanto de divertido, como de absurdo. O treinador dos encarnados colocou-se a jeito (e ouviu verdades incómodas), o dos dragões passou a mensagem que lhe encomendaram (bem se esforça para parecer alguém com uma postura que não é a dele) e, em traços gerais, ambos só arranjaram mais motivos para os adeptos radicais manterem viva essa estúpida guerra Norte/Sul que, como todos se recordam, a época passada proporcionou imagens tão tristes. Enfim…

Contudo, para a opinão pública, o mais interessante foi o boicote dos árbitros ao jogo do Sporting em Aveiro, no seguimento das críticas leoninas ao juiz (Carlos Xistra) do embate caseiro com o Olhanense. Admito que também é uma coisa interessante e igualmente penosa para o futebol nacional.

Como não poderia deixar de ser as críticas aos árbitros chovem de todos os lados. Surgem com maior intensidade da “nação verde”, mas também se estendem a outras influências. Já sabia que ia ser assim. E sabendo também, de antemão, que vou ser incompreendido, amaldiçoado e mais não sei o quê, assumo que consigo entender a posição dos árbitros. Atente-se que não estou a dizer que se trata da posição mais indicada, que faria o mesmo ou que este caminho leve a algum lado. Apenas digo que compreendo a atitude, pois é normal que ninguém goste de ser “carne para canhão”, nem de arcar com as culpas de tudo e mais alguma coisa. Viver com os seus erros já deve bastar.

Em Portugal, estou cansado de dizer isto, a maioria das pessoas não gosta de desporto. Nem de futebol. Gostam, isso sim, do seu clube. Querem, basicamente, que o emblema do coração ganhe os jogos todos, seja como for. São desportistas apenas no papel. Seguem à letra a célebre máxima do “façam o que eu digo, não o que eu faço”. E estão sempre dispostos a atacar os árbitros, os elos mais fracos. Até gente pretensamente com responsabilidades (e com direito a opinar na tv) só vê as faltas nas áreas dos adversários. Quando é ao contrário, não percebem bem, depende da intensidade, a posição do árbitro e dos auxiliares não é a melhor, as imagens não são nítidas e o opositor já vinha a cair desde o meio-campo. Hipócritas!

Eu, quando em causa está o Atlético, também sofro da doença da clubite. No sábado passado, no Restelo, barafustei com o juiz quando não marcava faltas contra o Belenenses. No entanto, quando vi um penálti não assinalado contra o meu clube… só sorri, fiquei caladinho. Como ficam sempre os dirigentes dos grandes clubes deste país. A diferença é que eles parecem proibidos de dizer que foram beneficiados. Contudo, o facto de não o admitirem não significa que não o sejam.

FC Porto, Benfica e Sporting são os clubes mais beneficiados da história do futebol português. E vão continuar a ser. Tal como em Espanha são o Real Madrid e o Barcelona e em Itália o Inter, Milan e Juventus. Será isto uma novidade tão grande? Se os adeptos dos grandes estivessem um mês a torcer por clubes do fundo da tabela ou das divisões secundárias iam perceber isto sem qualquer dificuldade. E de pouco vale dizer que o vizinho é mais ajudado. De repente até parece que as pessoas querem mais “empurrões” em vez de verdade desportiva. Não devia ser assim.

Em Portugal, é verdade, já aconteceram coisas muito estranhas envolvendo arbitragens (ninguém dos grandes deve cuspir para o ar), mas na última década, os títulos foram todos entregues às equipas que mais e melhor trabalharam no campo para os conquistar. Pretender colocar isso em causa é querer esconder os erros próprios. Agora, também convém realçar, o Sporting tem todas as razões para ter ficado revoltado no jogo com o Olhanense. Objectivamente, o clube foi prejudicado. Contudo, se a reacção dos árbitros logo de seguida pode ser considerada extemporânea, a dos dirigentes leoninos também pode ser avaliada assim. É comum ver um clube a lançar comunicados e a fazer conferências de imprensa logo à primeira jornada, mesmo sabendo que todos os pontos contam e que por vezes é no arranque da época que as provas ficam encaminhadas? Não, não é. E tal só aconteceu porque o Sporting não ganhou, como não tinha vencido os jogos anteriores. E alguém, bem, considerou que era melhor desviar as atenções da equipa (que de repente deixou de jogar com a desenvoltura da pré-época e de fazer golos) e atirá-las para outro lado. Só não imaginou que a reacção fosse esta. Nem sequer equacionou que a situação acabaria por perder impacto caso, tal como sucedeu, a equipa voltasse a não ganhar os jogos seguintes. Na Dinamarca e em Aveiro os árbitros foram culpados de quê? De nada! O que se viu foi o óbvio: o Sporting está melhor que a época passada, mas dificilmente terá condições de terminar à frente dos principais rivais. Apenas e só porque os os outros possuem melhores soluções (os orçamentos também ajudam a isso), a exemplo da época passada.

Não tenho a ideia de que os árbitros portugueses são os melhores do Mundo. Nem tão-pouco me passa pela cabeça afirmar que não cometem erros. Às vezes fico mesmo admirado como deixam escapar tantas coisas, como revelam tanta incapacidade para o ofício. Porém, ao contrário de muitos moralistas que querem cruxificar os árbitros de tempos em tempos, eu também vejo disparates nos jogos de Espanha, em Inglaterra, nas competições europeias (mesmo nas partidas com 5 juízes), nos campeonatos continentais e mundiais. Lá, contudo, o barulho é menor, a menos que estejam envolvidos portugueses. Aí, claro, o filme é o mesmo. De resto, a ideia é discutir futebol.

Para muito sportinguistas, o problema é que João Ferreira também já foi insultado, criticado e pressionado outras vezes, por outros emblemas, e não resolveu faltar aos jogos. Isso, obviamente, é verdade. Contudo, não consigo entender onde é que isso é assim tão relevante. Lá por ter reagido de determinada forma há um dia, um mês ou um ano perante certa situação, nada me obriga a reagir da mesma forma se deparar com uma situação similar no futuro. As pessoas não são máquinas. E mesmo essas funcionam vezes sem conta e um dia deixam de trabalhar.

PS – Acredito que o bom senso entre todas as partes vai acabar por imperar (como historicamente sempre sucedeu) e o boicote terminará na próxima ronda. No entanto, embora considere a ideia desprovida de qualquer lógica, até seria positivo passar a ter árbitros estrangeiros na nossa liga. E não falo apenas dos jogos do Sporting, mas em todos. Tal medida teria o efeito de acabar com a conversa que há uns anos escuto todas as terças-feiras, quando sai a lista dos juízes da jornada seguinte: “Esse? Estamos feitos, não te lembras do offside que não marcou em 2002 na terceira jornada ou o penálti que inventou para os outros em 2004?”. Enquanto se mantiver este tipo de mentalidade, dificilmente teremos paz. Tudo porque há demasiada memória selectiva. Será que também se lembram dos jogos em que as suas equipas foram ajudadas, dos lances de golo feito que os avançados desperdiçaram, das más opções dos treinadores, das compras sem nexo dos dirigentes, etc, etc. Provavelmente até se recordam… mas não o dizem. Claro, não dá jeito.