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A humilhação do River Plate

27 Junho, 2011 694 visualizações

Assisti à transmissão do jogo que ditou a histórica descida de divisão do River Plate ao segundo escalão do futebol argentino. E confesso que, mesmo sabendo (e deu para confirmar) que a equipa de Buenos Aires é, hoje em dia, uma sombra daquilo que foi num passado não muito recente, jamais acreditei que os “milionários” não lograssem anular a desvantagem de 0-2 que traziam de Córdoba, cidade do modesto Belgrano, formação que concluiu a Série B no quarto lugar. Mas, foi isso mesmo que sucedeu. No final – e aí já sem surpresa – segui a explosão de raiva dos adeptos do River que, por sua vontade, tinham destruído o Estádio Monumental, a sala de troféus, os carros dos jogadores, técnicos e dirigentes e tudo o que pertencesse aos elementos da autoridade. Uma segunda vergonha dentro da primeira!

O River não é só um dos nomes sonantes do futebol argentino, a casa onde alinharam, entre tantas outras figuras, futebolistas como Di Stéfano, Fillol, Passarella, Gallego, Ortega, Salas, Crespo, Sorín, Gallardo, D’Alessandro, Cavenaghi, Mascherano, Higuaín, Ramon Díaz, Francescoli ou os “portugueses” Lucho González, Aimar, Saviola ou Falcão. O River é um gigante na América do Sul e um clube reconhecido em todo o Mundo. Em 110 anos de história nunca tinha passado pela suprema humilhação de perder o lugar entre os grandes do futebol local, feito que dividia até domingo com os rivais do Boca e com o Independiente. Mas, lá como em qualquer outro lado, quando se acumulam erros desportivos e de gestão, mais tarde ou mais cedo o impensável pode tornar-se realidade.

O futebol, assim como todo o desporto, deixou há muito de ter vencedores antecipados. Hoje, não basta o peso do nome, nem das camisolas, para se ganhar, para vingar. É preciso mais, muito mais, a começar por uma equipa dirigente inteligente, perspicaz, disponível e honesta. E que perceba que mesmo um clube talhado à exportação – como são os grandes argentinos devido ao desejo da maioria dos jogadores em experimentar a Europa, mas também por causa da débil economia local – não deve, de um dia para o outro, ficar com um grupo de profissionais sem qualidade suficiente para, a nível interno, continuar a garantir os serviços mínimos.

Já tinha visto este River jogar algumas vezes e fiquei sempre com a sensação que se tratava de uma equipa sem brilhantismo, sem qualidade. É evidente que é impossível dizer que, entre todo o plantel, não se encontram alguns elementos acima da média mas, em traços gerais, o River colocou-se a jeito, apostando num plantel vulgar. Para ajudar à festa, o presidente Passarella resolveu confiar os destinos da equipa a um técnico (Juan José López) que, no currículo, já somava três descidas de divisão…

Como não poderia deixar de ser, a Argentina está em estado de choque. Até os históricos adversários do River têm alguma dificuldade em desfrutar da situação, pois isto é um cenário que, sendo catastrófico para os seguidores do clube, também é mau para a indústria futebolística do país que, evidentemente, não irá beneficiar nada com o súbito “apagamento” de um grande. Imaginem o que seria se, em Portugal, Benfica, FC Porto ou Sporting descessem de divisão…

As imagens e os relatos que nos chegaram de Buenos Aires confirmam aquilo que tive oportunidade de testemunhar em 2002, aquando do Mundial de voleibol: os argentinos são completamente loucos por desporto. E seguem as suas selecções e clubes com uma devoção extrema. O amor incondicional que nutrem pelos seus símbolos acaba, contudo, por misturar-se vezes sem conta com uma imbecilidade tremenda. Qualquer derrota é suficiente para os deixar à beira de um ataque de nervos, razão pela qual têm enorme tendência para cometer actos verdadeiramente tresloucados. Felizmente, em Portugal – e pese o recente aumento de actos de vandalismo associados ao desporto – nada se compara ao que acontece na Argentina.

Mas, no meio do desespero, surgem sempre algumas luzes de esperança. E nas últimas horas tem sido noticiado o interesse de vários ex-jogadores do River em regressar ao clube para, de forma gratuita, tentarem recolocá-lo quanto antes na divisão principal. Um gesto bonito de profissionais que, antes de tudo, também são adeptos do clube que os ajudou a triunfar no futebol.

PS – Duvido que, logo no primeiro jogo caseiro, na segunda divisão, os adeptos do River não esgotem o seu Monumental. A paixão aguenta todos os dissabores.

PS1 – O dia 26 de Junho de 2011 vai ficar história do River Plate como o mais negro da sua história mas, paradoxalmente, 15 anos antes foi um dos mais brilhantes, pois foi nessa data que o clube assegurou a segunda Taça dos Libertadores, derrotando os colombianos do América do Cali.

Em baixo o vídeo do jogo da descida e os comentários de um jornalista que há duas décadas acompanha o River em todo o lado.