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Barcelona e Manchester United venceram fora (ambos por 2-0) a primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões. Não fiquei surpreendido, pois basicamente considero que ganharam as equipas favori..." /> A memória selectiva de Mourinho - Olhos de ver - Record

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A memória selectiva de Mourinho

28 Abril, 2011 464 visualizações

Barcelona e Manchester United venceram fora (ambos por 2-0) a primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões. Não fiquei surpreendido, pois basicamente considero que ganharam as equipas favoritas a marcar presença no embate decisivo. No caso dos ingleses, então, o seu domínio foi avassalador. Se os alemães do Schalke não tivessem na baliza um guardião fabuloso, teríamos assistido a uma goleada das antigas. Mas, como não poderia deixar de ser, os olhos dos portugueses (e de todos os que gostam de futebol por esse mundo fora) estavam centrados no clássico espanhol. Em Madrid, o equilíbrio foi maior, mas os catalães voltaram a confirmar que, independentemente dos gostos pessoais, são mais fortes.

Os madrilenos, os de sempre e os recentes, podem tentar encontrar desculpas para a derrota mas, de forma resumida, ela é fácil de explicar: o Barcelona é melhor. E digo isto baseado em quê? Somente no facto de a formação de Guardiola ser, em praticamente todos os jogos que disputa, a equipa que mais ataca, que maior número de remates faz, que mais oportunidade de golo cria e que mais posse de bola tem, chegando a atingir percentagens verdadeiramente absurdas neste capítulo.

O Real Madrid é um clube de topo que tem nas suas fileiras um dos melhores treinadores mundiais e, indiscutivelmente, um naipe de futebolistas de eleição onde se destaca Cristiano Ronaldo. O problema é que, em Espanha, e na Europa, os merengues contam com a concorrência do Barcelona. E isso significa ter de enfrentar a melhor equipa planetária da actualidade. Quer isto dizer que o Real não pode “enganar” o opositor? Não, é óbvio que não. A questão é que, em condições normais, tal não vai suceder muitas vezes, nem talvez em metade dos embates. O Barcelona é igualmente um clube de topo, também possui um dos melhores treinadores mundiais e um naipe de futebolistas de eleição onde se destaca Messi, o maior fenómeno do momento. Depois ainda tem uma “máquina” devidamente oleada que anda a carburar em grande estilo há cerca de 3 anos.

No final da partida, José Mourinho esteve implacável na conferência de imprensa. Disparou em todas as direcções, mas acabou por misturar alhos com bugalhos. Pior: denotou uma memória deveras selectiva. Só se recorda de jogos em que alegadamente foi prejudicado pelos árbitros. É triste ver alguém com o seu currículo – e que nos habituou a intervenções lúcidas e sem interpretações dúbias – a enveredar por este caminho. Ao seguir as pisadas de quase todos os técnicos e dirigentes do Mundo, o setubalense foi vulgar. Neste particular, não teve rigorosamente nada de especial. Limitou-se a carpir mágoas na hora da derrota e ressalvou, de princípio a fim, o facto da sua equipa ter, mais uma vez, terminado o jogo em inferioridade numérica. Só faltou esclarecer se concorda com algum dos vermelhos que os seus jogadores viram esta temporada nos jogos com o Barcelona? E, já agora, como qualifica a acção de Marcelo esta quarta-feira, quando pisou um adversário?

Mourinho terá, com toda a certeza, razão em algumas das críticas que faz aos árbitros, pois eles (a exemplo dos jogadores) não conseguem fazer exibições isentas de erro. Contudo, tendo uma carreira feita ao serviço de emblemas de topo, já devia ter reparado que, no final das épocas, é sempre beneficiado (e muito, acrescente-se) em comparação com os clubes pequenos ou de média cotação. Aliás, mesmo nos confrontos com outros concorrentes directos, Mourinho também já foi “ajudado” por várias decisões erradas. Em Portugal, em Inglaterra, em Itália, em Espanha e nas competições da UEFA. Pelos vistos, contudo, não se lembra. Parece só ser capaz de rever, de enfiada, todos os lances em que se considera prejudicado.

Não gostei de ver Mourinho ir por este caminho. E se ainda considero lógico que tenha tentado estabelecer um padrão nos jogos com o Barcelona (por causa das expulsões), foi uma tremenda falta de elegância colocar em causa a Liga dos Campeões que os catalães venceram recentemente. Será que Mourinho também gostaria que colocassem em causa a justiça dos seus títulos, devido a um ou outro erro? Não me parece!

O problema de Mourinho é que, sendo inteligente, já percebeu que vai terminar a época sem conquistar o título espanhol e a “Champions”. Pior: o Barcelona vai amealhar o principal troféu interno e terá pelo menos 50% de hipóteses de ser campeão europeu. Isso – e as memórias daquele jogo na Catalunha, em que o Real sofreu uma das maiores humilhações da sua história – é que lhe causa todo este desconforto (que desta vez se assemelhou a desespero) e o leva a mostrar um lado até agora escondido.