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Sinto-me triste. O dia das eleições do Sporting está a chgar. Quer isto dizer que estamos a poucas horas de ver terminar uma campanha eleitoral histórica, recheada de momentos tão hilariantes que,..." /> Sporting: acabou a festa - Olhos de ver - Record

Olhos de ver

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Sporting: acabou a festa

25 Março, 2011 679 visualizações

Sinto-me triste. O dia das eleições do Sporting está a chgar. Quer isto dizer que estamos a poucas horas de ver terminar uma campanha eleitoral histórica, recheada de momentos tão hilariantes que, com toda a certeza, dariam um belo argumento para uma comédia. Pior: com a chamada às urnas dos associados leoninos desaparecem, num ápice, dezenas de milhões de euros; técnicos de nomeada que serviriam para orientar a equipa principal, a (eventual) B e os escalões de formação; dirigentes com as melhores ideias do planeta e uma quantidade tal de futebolistas de reconhecida valia que, no mínimo, o clube poderia dar-se ao luxo de utilizar jogadores diferentes em cada competição em que participasse. Resta saber se, pelo menos, se confirmarão as “ofertas” do candidato vencedor. Tenho as minhas dúvidas!

Esta campanha foi mesmo ímpar. E uma das principais novidades foi constatar que os candidatos – seis que entretanto passaram a cinco, o que constituiu uma machadada tremenda no “espectáculo” face à saída de cena do homem que tratava por tu os árbitros todos – pouco ou nenhum tempo tiveram para falar directamente ao eleitorado, pois estavam sempre enfiados num qualquer estúdio em debate. Bom, a expressão debate talvez não seja a mais adequada, pois quando cinco pessoas resolvem passar o tempo a lançar calúnias, suspeições e farpas de todo o género é capaz de ser exagerado apelidar isso de debate. Visto de outra prisma, se esta gente é assim com os da sua cor, imaginem quando tiverem de enfrentar os dirigentes de Benfica e FC Porto…

Falemos mais a sério: não deixa de ser curioso ver aparecer tantos interessados em gerir os destinos do clube quando, objectivamente, a situação é de extrema gravidade. Desportiva e economicamente, o Sporting está nas ruas da amargura. Ao longo dos últimos anos – e perante a serenidade dos associados – foram cometidos disparates de toda a ordem que empurraram os leões para um buraco mais pequeno que o do país, mas igualmente gigantesco. A conversa de ser diferente, de ter uma Academia (que muito jeito tem dado a Benfica, FC Porto e não só), do ecletismo (como é possível falar disto sem ter um pavilhão e equipas de basquetebol e voleibol ou o hóquei em patins na divisão principal?) e dos milhões de títulos no passado só serve para animar os mais distraídos. E mesmo esses, na sua maioria, já acordaram para a triste realidade.

Tenho ouvido por aí muita gente dizer que o aparecimento de tantas listas é sinal de vitalidade. Não concordo. Parece-me mais indício claro de desespero, de guerrilhas individuais, de interesses pouco perceptíveis. E também estranho ter visto em confronto pessoas que, durante muito anos, pareciam estar na mesma onda de pensamento. É verdade que todos temos o direito e a capacidade de, a qualquer altura, mudar de ideias, mas tanto é de desconfiar.

E quem é que vai ganhar? Acredito que será Bruno de Carvalho. E isso será bom para o clube? Não faço a mínima ideia, até porque, com toda a sinceridade, não me lembro de ter ouvido falar da personagem antes desta campanha eleitoral. Aliás, nem sei se alguém será capaz de recuperar o clube tal o estado a que ele chegou. O que sei é que o homem – que aparentemente corria por fora – esteve muito forte nos debates, nomeadamente no primeiro. Foi aí que se mostrou em grande forma, que “aviou” toda a concorrência com uma facilidade tremenda, desmontando os opositores que, penso eu, jamais acreditaram estar ali um potencial vencedor.

Bruno de Carvalho sabe falar e teve o mérito de conseguir mostrar os tais investidores russos e Marco Van Basten. Para muitos tal não passa de uma trapaça, mas a verdade é que aquilo que prometeu… exibiu. E isso, num emblema à deriva, pode ser suficiente. Depois… logo se vê. E em caso de vitória teremos a garantia de mais “shows” a ter em conta. Alguém imagina uma Assembleia Geral liderada pelo cirurgião dos gritos alucinados e das frases assassinas para o seu próprio candidato? Tenho para mim que se Bruno de Carvalho perder saberá rapidamente quem o tramou.

Sem olhar às várias sondagens e inquéritos realizados, tenho dificuldade em dizer quem é o grande opositor de Bruno de Carvalho. Com excepção de Abrantes Mendes (o mais simpático, divertido e – por vezes – realista dos candidatos, embora sistematicamente condenado a votações residuais por se recusar a dizer o que povo quer ouvir), os restantes três podem surpreender. Pessoalmente, creio que Pedro Baltazar é o que estará mais longe da disputa. E porquê? Devido à habitual postura que combina algo de arrogância com agressividade e à falta de jeito para falar em público. Dizem-me que o homem é o melhor gestor de todos. Admito que sim, mas confesso que sempre que olho para ele fico com a ideia de que vai esbofetear alguém no minuto seguinte. De resto, também exibe alguns tiques snobs, algo que o adepto comum do Sporting (sim, eles também existem…) já teve a sua dose.

Godinho Lopes, à primeira vista, parecia ter o assunto controlado. Por mais que o tente desmentir, é o rosto da continuidade (como se fosse possível prosseguir algo que, analisando bem, não era praticamente nada), dos interesses exteriores, da elite que, ao longo dos anos, delapidou o clube. Confesso que me fartei de rir quando o ouvi dizer, vezes sem conta, que com ele o Sporting foi campeão. A forma como o afirmou quase indiciava que tinha marcado 25 golos. Ou, no mínimo, que tinha feito as contratações e/ou as substituições. E vê-lo colocar em causa a honorabilidade dos outros também teve a sua piada…

Resta Dias Ferreira. O eterno candidato a candidato, desta vez, foi mesmo a votos (sem ninguém lhe dar uns tabefes) e fê-lo renegando um passado de colagem a tanta gente que, afinal, não era assim tão útil ao clube. Como sempre, contudo, revelou falta de sentido táctico. A sua campanha começou demasiado cedo e secou quando era necessário estar nas bocas do mundo. Já em desespero lançou o tudo por tudo com Futre a anunciar um ror de aquisições e ideias mirabolantes num momento também ele para a história. Não chega.

Bom, o grave é que domingo a festa acabou e o clube continuará a ser uma sombra daquilo que foi no passado. Será possível recuperar o estatuto anterior? Claro, mas para tal será preciso mais clarividência, consciência e paciência. E uns trocados. Muitos, de preferência. Ressurgir em pleno demorará vários anos. Estragar é rápido, construir é que não…