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Sporting: E agora?

27 Março, 2011 644 visualizações

Nota de introdução: Não sou sócio do Sporting (nem de nenhum outro clube, acrescente-se), nunca falei com Godinho Lopes, jamais tinha ouvido o nome de Bruno de Carvalho antes destas eleições e, resumidamente, não tinha (nem tenho) nenhum interesse pessoal neste acto. Assim, como em qualquer outro tema, apenas faço questão de, neste espaço, dar as minhas opiniões.

Esta campanha eleitoral, como quase todas (desportivas ou políticas), foi pródiga em declarações “picantes”. Cedo se percebeu que as várias listas tinham inúmeros pontos divergentes e que, com o intuito de marcar pontos junto dos associados, era importante vincá-los em todas as oportunidades. Contudo, se isso se entende, já fica mais complicado perceber tanta falta de educação. O clima de insulto foi uma constante e com excepção a Abrantes Mendes, nenhum dos outros candidatos pode, nesta altura, dizer que teve um comportamento exemplar. Aliás, não deve ter sido por acaso que Godinho Lopes aflorou a questão no pretenso discurso de vencedor.

No entanto, pese tanto palavreado evitável, nunca me passou pela cabeça que, no sábado, o país assistisse a um dos momentos mais humilhantes da sua história desportiva. O que se viu em Alvalade foi um triste espectáculo que, em primeira instância, tem de envergonhar todos os sportinguistas, sejam afectos desta ou daquela tendência. E para que a coisa descambasse não contribuíram só as várias listas presentes às eleições. Os dirigentes em funções e muitos sócios anónimos também fizeram questão de “ajudar” ao caos.

Não estive em Alvalade, não ajudei a contar os votos e, assim sendo assim, faço a minha análise apenas pelo que li e ouvi, pelas informações que me chegaram através de muitas pessoas que viveram “in loco” algumas das horas mais alucinadas da história de um clube que vale bem mais do que o que mostrou no sábado. E depois de juntar vários elementos sou levado a colocar algumas questões: 

– Se a contagem decorreu sem erros e foi apenas feita uma vez, como declarou o impagável Lino Castro (como conseguiu tanto espaço de antena e, ao mesmo tempo, não dizer nada de jeito?), o que é que significa a expressão “afinar os números”?
– Se foi tudo tão regular na soma dos votos, qual a razão para “parar” e “reintroduzir os dados no computador”? Existia algum receio de que as contas não batessem certo?
– Se as cinco listas tinham delegados a fiscalizar a contagem, como é que umas dizem que existiu recontagem e outras não?
– Quem é que acha normal que Eduardo Barroso, figura mediática mas sem passado enquanto dirigente no clube, tenha ganho as eleições para a Assembleia Geral à frente de Rogério Alves (muito mais presente na vida interna do clube), mas que Bruno de Carvalho tenha perdido para o Conselho Directivo?
– Se a lista de Godinho Lopes estava a acompanhar os resultados “ao vivo”, como é que Rogério Alves deu entrevistas a confirmar a sua vitória para a Assembleia Geral? E com base em que informações assumiu, publicamente, ter dado os parabéns a Bruno de Carvalho por também ele ter ganho?
– Onde é que já se viu os resultados serem anunciados apenas com percentagens? Como é que os números reais só apareceram na tarde de domingo?
– Como é que um clube grande, com tantos funcionários, não consegue organizar um acto eleitoral “normal”?
– Como é que se justifica que contabilizar os votos de menos de 20 mil associados tenha demorado uma eternidade?
– Se surgiram várias informações oficiais a dizer que o anúncio dos resultados teria lugar nos minutos seguintes, qual a razão para tantos (e tão demorados) atrasos?
– Mesmo sabendo que as horas não convidavam a estar em Alvalade até às tantas, onde estavam os apoiantes de Godinho Lopes no momento de o vitoriar?

Com ou sem respostas para as minhas dúvidas (e tantas outras que já vi por aí), a verdade é que se o Sporting estava num momento delicado, agora está num bastante pior. A maioria dos sócios não apoia o novo presidente; Bruno de Carvalho vai impugnar os resultados; a claque mais representativa ameaça voltar as costas ao clube e, claro, a falta de dinheiro é ainda mais grave quanto a míngua dos resultados da principal equipa de futebol.

Não sei como vai ser o futuro imediato do Sporting, mas creio que a serenidade voltaria se os dois candidatos mais votados participassem numa espécie de segunda volta. Bem sei que isso não está previsto nos estatutos, mas está fácil de ver que só isso iria ajudar a poeira a assentar. De outra forma, o mais provável é, daqui a uns meses, estarmos a assistir a outro acto eleitoral. Aliás, não deixa de ser estranho que para tomar algumas medidas seja necessário ter bem mais que a maioria dos votos, mas para eleger um presidente a coisa possa ser feito apenas com 36%.

E para terminar uma observação muito pessoal. Só eu é que acho estranha esta ideia dos associados com mais anos de filiação terem direito a um número maior de votos? Esta política, seguida pelo Sporting e por muitos mais clubes, só contribui para arranjar confusão, como esta de Bruno de Carvalho ter perdido umas eleições em que mereceu a confiança de mais eleitores. Imaginem o que seria o meu voto para as legislativas valer menos que o do meu vizinho por ele ser “cidadão” há mais anos. Nos clubes, quem tem mais anos de sócios, deve receber emblemas comemorativos disso mesmo, mas jamais deveria ter direito a maior número de votos. Pelo menos, é o que a minha noção de democracia me diz…