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Três estrelas… e Wayne Rooney

26 Outubro, 2010 643 visualizações

Por considerar bastante interessante e pertinente, deixo aqui um texto de Rob Hughes, publicado originalmente no “International Herald Tribune”, no domingo. A tradução foi feita por Eloise De Vylder para o site brasileiro UOL. O artigo é, em traços gerais, um elogio a três sensacionais futebolistas da actualidade (Cristiano Ronaldo, Messi e Iniesta) e uma crítica bem directa a Wayne Rooney.

Durante o final de semana, Pelé, o maior jogador de todos os tempos, celebrou seu 70º aniversário – e três jovens aspirantes da era moderna mostraram-se confiantes.

Lionel Messi marcou os dois gols da vitória do Barcelona contra o Zaragoza no sábado. Andres Iniesta, seu colega de equipe, foi aplaudido de pé pelos torcedores derrotados em casa, numa demonstração da gratidão que toda a Espanha sente pelo modesto herói cujo gol foi responsável pela vitória na Copa do Mundo no verão passado. Na noite de sábado, Cristiano Ronaldo marcou quatro gols em 36 minutos durante a vitória do Real Madri por 6 a 1 contra o Racing Santander.

Nenhum deles marcará mil gols em mil jogos por um clube, como fez Pelé por seu amado Santos. Nenhum deles ganhará três Copas do Mundo, como Pelé fez com o Brasil entre 1958 e 1970.

Mas Messi, Iniesta e Ronaldo sempre serão ricos em dinheiro e memórias. Eles são os deuses modernos do futebol. Pelé é da velha guarda. O que não mudou é que a prova do poder do jogador acontece nos estádios. Todo o resto – a fama, a glória transitória e o que hoje chamamos de direito de imagem – é secundário.

É bom, muito bom na verdade, ver o que Messi, Iniesta e Ronaldo fizeram neste fim de semana. E é um contraste prazeroso ao suposto poder de jogo exibido por Wayne Rooney e seu agente manipulador quando eles sequestraram o Manchester United na semana passada.

Rooney não é um jogador com bom condicionamento no momento. Seu tornozelo está machucado, e enquanto sua equipe jogava no domingo, ele estava celebrando o maior aniversário de 25 anos que o dinheiro pode comprar em sua mansão no campo.

Suas celebrações incluíram conseguir extorquir o dobro de seu salário do United a pesar de seus piores seis meses de atuação desde que está no clube. Ele fez isso ameaçando sair a menos que os donos norte-americanos do Manchester endividassem ainda mais o clube contratando jogadores que Rooney considera bons o suficiente para dividir o campo com ele.

Alguns disseram que a atitude de Rooney foi uma ideia brilhante. Outros acham que foi simplesmente terrível.

Diferente de Messi, que, ao ouvir que o dono do Inter de Milão, Massimo Moratti, está contemplando uma proposta recorde para tirá-lo do Barcelona, respondeu educadamente: “obrigado pelo elogio, senhor presidente, mas sou Barça pelo tempo que me quiserem”.

Diferente de Iniesta, um peso pena em tamanho, poderoso em conquistas e homem de um clube só desde o dia em que entrou para a academia do Barcelona aos 12 anos. Iniesta jogará em qualquer posição, em qualquer momento, por sua equipe.

Diferente também de Ronaldo, ex-colega de Rooney no Manchester United. É claro, Ronaldo era o verdadeiro astro do time quando estava lá. Sim, ele preferiu sair quando o Real Madrid ligou para ele. E é fato que ele pode ser uma prima dona vaidosa e exagerada.

Mas o diretor do United, Alex Ferguson, deixou-o partir, e o receberia novamente a qualquer momento. O diretor percebeu que o jogador, nascido na ilha portuguesa de Madeira, tinha genuinamente o sonho de infância de jogar no Real Madrid, um chamado para jogar no estádio que ele considera a maior arena de sua cultura.

A meu ver, foi significativo que as boas respostas às más vibrações da saga de Rooney aconteceram na Espanha. A Liga é diferente da Premier League inglesa num detalhe fundamental: é menos um concurso físico, e mais um teste de habilidade com a bola.

A liga espanhola é dominada por seus dois clubes principais, o Barcelona e o Real Madrid, por motivos que envolvem a política, a tradição e a capacidade dos clubes de redigir seus próprios contratos com a televisão mundial.

A Inglaterra é mais imparcial uma vez que o dinheiro da televisão é dividido entre 20 equipes, mas não é diferente na forma como o dinheiro determina onde é que jogam os grandes jogadores.

O United é semelhante ao Madrid no mercado mundial. Se Pelé jogasse hoje em dia, é mais do que provável que ele jogasse para um dos gigantes espanhóis. Ele recebeu ofertas, mas permaneceu fiel ao Santos até que, no final de sua carreira, jogou durante dois anos para o New York Cosmos.

Pelé recebeu um milhão ou dois, mas os Rooneys e Ronaldos do mundo de hoje ganham isso em alguns meses. Os astros do futebol são como os astros de Hollywood antigamente. Eles sabem qual é o seu valor no pacote de entretenimento, e barganham com isso.

Rooney se destaca nos negócios do esporte pela forma como ele, ou seu agente ambicioso, Paul Stretford, mostraram um desrespeito absoluto em relação à equipe, ao clube, às normas de negociação.

A atuação de Rooney desde março passado, exacerbada por sua vida nem tão privada, transformaram-no numa obrigação, e não num bem, para seu time. Mesmo assim ele teve a insolência de tornar suas demandas públicas na última quarta-feira, enquanto seus colegas de equipe faziam todo o trabalho.

É um poder muito estranho para um jogador.

É muito mais aceitável o poder de Messi, jogo após jogo, de se dedicar à equipe, marcar quando outros não conseguem e aplaudir seus colegas por criarem oportunidades.

É muito melhor que Ronaldo, alimentado pela empatia que aumenta semana a semana no Real Madrid, marque muitos gols, e depois diga que é uma grande alegria, mas uma alegria compartilhada.

“Alguns dos meus colegas foram melhores do que eu hoje”, disse ele no sábado. “Mas como diz o técnico, não há motivo para ficar eufórico. Há um longo caminho a percorrer na liga, embora estar no topo seja importante.”

Os técnicos do Real Madrid e do Barcelona sabem que suas equipes são privilegiadas, e os outros times às vezes causam dó. Eles sabem que os jogos entre os dois grandes, o primeiro deles acontecerá daqui a um mês, pode determinar quem é o melhor.

E o Madrid manteve os pés no chão neste final de semana de um jeito particular. O clube chamou quatro dos 33 mineiros resgatados da mina no Chile como convidados especiais no estádio Bernabeu. Os jogadores e os mineiros, trabalhadores de mundos muito diferentes, comemoraram juntos um jogo.