— ler mais..

Há uns anos, penso que durante o Mundial 2006, um camarada de trabalho lamentava: “não me lembro onde estava naquela final.”  Já não sei precisar a qual delas se referia mas chateava-o não saber on..." /> — ler mais..

Há uns anos, penso que durante o Mundial 2006, um camarada de trabalho lamentava: “não me lembro onde estava naquela final.”  Já não sei precisar a qual delas se referia mas chateava-o não saber on..." /> A vida é uma coleção de momento e… de cromos - Honores liga - Record

Honores liga

Voltar ao blog

A vida é uma coleção de momento e… de cromos

1 Junho, 2014 1493 visualizações

Há uns anos, penso que durante o Mundial 2006, um camarada de trabalho lamentava: “não me lembro onde estava naquela final.”  Já não sei precisar a qual delas se referia mas chateava-o não saber onde tinha visto um dos jogos decisivos. Fiz esse exercício. Puxei pela memória e percebi que sabia onde estava em cada uma das finais a que assisti, desde a primeira, a de 78 (embora não tenha visto o jogo todo porque na altura ainda não gostava assim tanto de futebol).

Desde então, inevitavelmente, penso nisto a cada dois anos, sempre que aparece uma nova coleção de cromos do Euro ou do Mundial, um ritual que mantenho desde o Argentina’78, na altura uma de edição portuguesa. Percebi que o facto de conseguirmos situar-nos em cada um desses dias permite-nos algo mais do que isso. Permite-nos recuar no tempo e reviver muitas partes da nossa vida e ela é isso mesmo, uma coleção de momentos, bons e maus, mas com os cromos, pelo menos comigo, dá para recordar apenas os melhores.

Posto isto, fica o aviso: este post é dedicado a quem gosta, e entende, o colecionismo. Quem  não o compreende não precisa de continuar a ler pois pode tornar-se aborrecido. Penso que é o maior texto que já escrevi por aqui, perdoem-me caso se torne chato.

Nos últimos dias, ao tratar da coleção do Mundial’2014, aproveitei para rever as anteriores e, mais uma vez, viajei no tempo. Recordei como corri meia Lisboa em 1982 (obrigado mãe, pela paciência) para encontrar a caderneta da Panini, a de capa verde. Em vão, estava esgotada. Nessa altura, fui pela primeira vez na vida ao Porto e numa papelaria onde passei havia uma, a última. Ainda me lembro da entrada da loja…

Em 84 a coleção fez com que passasse a dar-me com miúdos do bairro com os quais até então pouca relação tinha. Alguns continuamos amigos ainda hoje. E dois anos depois, com o regresso de Portugal aos mundiais, foi a loucura: toda a gente fazia a coleção do México’86, no liceu, na minha rua, os primos, todos tinham cromos para trocar.

Em 88 começou o drama: a malta da minha geração estava demasiado crescida para colecionar cromos, como se houvesse um limite de idade. Felizmente, a minha namorada de então aturava-me o vício (obrigado Patrícia), com uma condição: ela colava os cromos…

Itália’90, grande álbum, ou não fosse a Panini italiana. Já trabalhador estudante, foi fácil completar a coleção. Trabalhava num vídeoclube e trocava com alguns sócios, levavam os filmes VHS para devolver e os repetidos.

Os anos 90 foram, infelizmente, os mais fracos. Os dois Euros e os dois Mundiais tiveram coleções fraquinhas, em termos gráficos e de distribuição mas isso não impediu de seguir com a paixão, o bichinho continuava bem vivo. Em 98 fui aos Restauradores comprar os últimos cromos, nos vendedores de rua, e encontrei um antigo colega de escola que não via talvez desde 1986. “Também continuas?” disse-me com um sorriso.

Claro que continuava, estúpida pergunta. Nessa altura até já tinha cometido a loucura de ir atrás dos álbuns mais antigos, os anteriores à distribuição em Portugal, trocando ou comprando a outros colecionadores, europeus e sul-americanos. Já tinha conseguido o Euro’80, os Mundiais de 74 e 78 e até, pasmem-se, o México’70, a coleção mais valiosa do mundo, a mais cara, a mais preciosa do meu espólio – antes de me considerarem louco: não, não paguei os 3 mil euros que vale atualmente, foi oferta da minha mulher no meu aniversário.

 

Já no novo século passei a trocar os cromos com o pessoal do jornal, ainda somos uns quantos a transformar estes meses numa espécie de estágio para o Mundial. Vamos conhecendo as caras dos jogadores menos famosos e quando começa a festa normalmente as cadernetas já estão completas, prontas para preenchermos os resultados e o emparelhamento da fase a eliminar.

Com os filhos esta fase passou também a ser mais dispendiosa. Agora tenho de completar dois álbuns, o meu e o deles, a quem já passei o bichinho (será genético?). Na 6.ª feira, depois de muitas trocas, as duas coleções estavam quase completas. Faltavam dois cromos em cada, o belga Lukaku, nas duas, Postiga na minha e Blind na dos miúdos.

Sábado voltei aos Restauradores, pela primeira vez na companhia dos herdeiros. Pelo caminho expliquei-lhes que vou lá desde miúdo para completar as coleções. Muita malta na fila para comprar os últimos mas o tempo de espera foi aproveitado para trocas. Adultos que “sofrem desta doença”, adolescentes que já vão lá sozinhos e outros mais novos com os pais como organizadores da jornada. Lá conseguimos dois Lukakus e o Postiga, além de outros para amigos, faltava só um. E quando parecia impossível encontrar o cromo do Blind apareceu mais um colecionador com um monte de repetidos. “Por acaso não tem o 134?”, disparei. E o homem tinha o holandês repetido, proporcionando aos meus filhos aquela sensação de felicidade que eu vivo há tantos anos: está completa.

Já em casa, quando colávamos os últimos cromos pensei: cá está mais um episódio para a coleção dos momentos da minha vida. Daqui para a frente, vou saber onde estava quando completei o álbum do Mundial’2014.