Bola na Área

Jorge Jesus volta a abrir a porta.

Já todos sabemos que sonha treinar um grande no estrangeiro.

Nesse entretanto, o Benfica já fez saber que não está disposto a pagar-lhe nem mais um cêntimo.

O que se sabe é que JJ ganha 4 milhões por época mas, atenção, entre 1,8 milhões de euros ao Estado.

O ministro das Finanças tem uma palavra perante a hipótese de o Fisco perder uma receita anual de 1,8 milhões.

Quanto ao Benfica, não tem de estar preocupado. Há sempre um Quique Flores ou um Fernando Santos disposto a treinar o Benfica.

Corre por aí a tese de que o Benfica tem uma liderança relativamente folgada porque tem sido beneficiado pelas arbitragens.

O argumento tem sido repetido nos painéis televisivos por paineleiros aparentemente tão independentes como a Madeira relativamente a Porto Santo.

Trata-se de uma falácia que está a ser vendido com o sentido de ter um efeito: condicionar o trabalho dos árbitros.

O chamado benefício do Benfica é igual ou quase igual ao benefício do FC Porto ou mesmo do Sporting.

Referir que um jogo podia ter um resultado diferente porque não foi assinalado um penálti ou porque um jogador foi expulso é tratar o futebol como ele não merece. Um jogo decide-se sobretudo pela qualidade de uma equipa e muito pela sua capacidade para aproveitar os pontos fracos do adversário.

O Benfica pode não ter uma equipa deslumbrante mas tem uma equipa. Tem um jogo bem estruturado, tem jogadas bem estudadas, tem automatismos e princípios que funcionam. No fundo, Jorge Jesus conseguiu pôr em prática a sua ideia de jogo, ao contrário de muitos idiotas que andam por aí a fazer do futebol uma ciência exata.

Vamos ver se esta falácia tem resultados práticos ou se o Benfica consegue ser mais forte que esta campanha que está a ser desenvolvida em várias frentes e especialmente por comentadores que nem no canal dos respetivos clubes teriam lugar.

 Enquanto isso, mais uma vez se percebeu em Penafiel que só um clube em Portugal consegue encher estádios!

Acho que foi Fernando Vaz, que foi treinador e jornalista de A Bola (ainda convivo com ele em algumas tribunas de imprensa), quem consagrou a expressão que nos diz que um treinador tanto é bestial como uma besta.

Jorge Jesus sabe bem o que é isso enquanto treinador do Benfica.

Num dia era o maior (quando venceu o FC Porto no Dragão), no outro o pior (quando foi eliminado pelo Sp. de Braga, na Luz, da Taça de Portugal).

Alguns adeptos do Benfica, muitos deles com assento nos painéis radiofónicos e televisivos e com avença na imprensa, ainda não perceberam que o melhor que aconteceu ao Benfica nos últimos 25 anos foi a contratação de Jorge Jesus.

Quem não aprecia Jesus costuma dizer que em cinco épocas “apenas” ganhou dois campeonatos e perdeu duas finais europeias. A memória dos homens é curta e estes benfiquistas de pacotilha estão esquecidos do que foi uma penosa travessia do deserto do clube da Luz, durante as gerências de Manuel Damásio e Vale e Azevedo.

Mas o futebol também é isto.

Não é grave a falta de estima e de razão quando se fala do percurso de Jesus no Benfica. O que é grave é não ter a consciência de que Jorge Jesus é o treinador que Pinto da Costa desejaria no seu FC Porto. Já o desejou, aliás, e muito.

Jesus não precisa de tolerância, aliás vive bem na intolerância, diria que até vive melhor, mas a estupidez é pouco digestiva e muitas vezes fica-nos atravessada na garganta como uma espinha grande de bacalhau.

Benfica fora das provas europeias e, pronto, eis mais uma saraivada de pedras a cair sobre Jesus, alguma lançadas por alguns companheiros de almoço.

O pessoal anda mesmo muito distraído.

O treinador do Benfica disse várias vezes, embora de forma subliminar, porque de outra não podia ser, que esta época se estava a borrifar para as provas europeias.

Jesus sabe melhor que ninguém que só tem plantel para vencer as competições caseiras e mesmo assim vai ter de explorar ao máximo as capacidades dos seus jogadores e a sua arte de organizar e motivar.

Só não percebeu quem não quis.

Mas lá está. O “envolvimento” mesmo de alguns comentadores com a causa é de tal ordem que lhes retira a lucidez.

JJ não nasceu ontem, até a dormir sonha com táticas, mas infelizmente ainda não teve oportunidade de sugerir um exercício de treino a Guardiola. Aliás, presumo que nem estará interessado. Se ainda fosse ao Cruyff…

Vejamos as coisas. O Benfica está nas 3 frentes do campeonato, tem 2 pontos de vantagem sobre o V. Guimarães, 3 sobre o FC Porto e 8, repito: 8, sobre o Sporting. O melhor jogador do campeonato dá pelo nome de Talisca e foi descoberto como por artes mágicas, preparando-se para render mais uns milhões ao Benfica.

A retoma do Benfica tem a assinatura de Jorge Jesus.

Os benfiquistas, esses, deviam pensar primeiro no que de bom lhes aconteceu desde que JJ chegou à Luz. Os de bancada e os de painel.

O Benfica de JJ continua forte cá na terra. Também por isso está a ser “atacado” pela concorrência. Mas imagino JJ no seu gabinete, com um sorriso maroto na cara, enquanto lê os jornais e vê a televisão.

Com claro domínio na posse de bola, dominando quase todos os momentos do jogo, atacando muito mais, criando sempre perigo quando avançava para a baliza de Artur, o Sporting fez um mau resultado no dérbi lisboeta e no clássico da 2.ª circular.

Jogando aos empurrões, sem ligação, por impulsos, o Benfica navegou à vista e foi salvo por Markovic. O resultado que conseguiu não pode ser ótimo mas foi o que se pôde arranjar.

No fim do jogo ficamos todos a saber, porém, que o Benfica foi claramente prejudicado pela arbitragem e que na 2.ª parte foi melhor (Jesus dixit).

É irritante ver um treinador dar erros de concordância quando é escutado por tantos miúdos que ainda estão a aprender português mas a bazófia é ainda pior. JJ tinha aqui uma primeira oportunidade para tomar um banho de humildade, agora que decidiu aparar o cabelo.

Mas não. Ficamos todos assim a saber que o Benfica é o grande candidato à Liga da Verdade.

Pelo menos da Verdade em que queremos “acraditar”.

1 . 4 épocas, um título nacional.

2. 4 épocas, um título oferecido ao FC Porto.

3. 4 épocas, muito mais que 4 penteados.

4. 4 épocas e 4 milhões por época.

5. 4 épocasx45 conferências de imprensa: é dose.

6. 4 épocas a dar pontapés na gramática.

7. 4 épocas que pareceram uma eternidade.

8. 4 épocas com o Pietra como adjunto.

9. 4 épocas de super ego.

10. 4 épocas? Ah, o que é uma época?

De um momento para o outro toda a gente começou a falar na renovação de Jorge Jesus.

Quadrantes normalmente bem informados garantem que JJ não vai renovar pelo Benfica, onde tem um contrato milionário.

O que vos posso dizer sobre o assunto? Podia dizer muito mas fico-me por aqui.

COMENTÁRIO EM DESTAQUE

Pearls&Pigs disse em 02-11-2012 às 18h06

Ainda o jogo de Barcelos não tinha terminado e já ouvíamos alguém dizer que o Benfica também empatou o primeiro jogo do último campeonato que ganhou…

Uma equipa que está a vencer por 2-0 e se deixa empatar não pode arranjar desculpas. Apenas a sua incompetência pode justificar que uma outra equipa com jogadores de qualidade bem inferior (será?) consiga fazer das fraquezas forças.

É também absurdo pretender justificar este empate com sabor a derrota com os dois grandes golos conseguidos pelo Gil Vicente. Foram, de facto, dois grandes golos.

Custa ainda ver um treinador justificar uma saída ao intervalo (Aimar) com o facto de este sentir um problema muscular. Porque um problema muscular não é necessariamente uma lesão muscular. Será que JJ quis poupar Aimar para o jogo europeu, convencido que a vantagem de um golo (2-1) bastaria?

É verdade que a entrada de Witsel contribuiu muito para conter o ímpeto gilista mas estava-se mesmo a ver que um lance fortuito podia mudar tudo. Como mudou.

O Benfica sai de Barcelos, onde mais uma vez defraudou os seus muitos adeptos que ali estiveram, sob o estigma que marcou a última época. Não vai ser fácil soltar-se deste colete de forças, sobretudo se os seus responsáveis continuarem a tentar imputar a motivos externos o que internamente não está nada bem.

Mas, lá está, não tarda nada e aí teremos os habituais “paineleiros” a tentar escurecer a vidraça com as suas doutas opiniões de cristal. Mas essa é uma guerra demasiado delgada para o nosso crivo.

PS – As acções do Benfica estão a escassos três cêntimos de quebrarem a barreira de 1 euro…

Diz Jesus:

“Nunca disse que ia ser campeão“.

Palavra do senhor.

Que me lembre, JJ até disse que ia ser campeão europeu, mas se calhar é o meu desvio de jornalista que me faz especular com isto.

O treinador do Benfica tenta dar a volta a uma situação complicada.

À desportiva.

E à (eventualmente) criminal.

Percebe-se o afã. Também se percebe a gabarolice. Que é genética.

JJ assume-se como o criador de alguns craques, de que Coentrão é exemplo máximo.

O treinador do Benfica não é propriamente um exemplo de deontologia profissional. Também não lhe pagam para isso. Pagam-lhe exactamente para ser campeão. Que eu saiba o objectivo principal. E não o de valorizar jogadores no mercado. Mas essas já são questões de que entendo pouco. Nunca fui ao fundo da questão.

JJ também dá sentenças sobre Rui Costa. Diz ele que está bem é o no lugar em que agora está.

Palavra do senhor.

Ora, todos já percebemos que Rui Costa está naquele lugar difícil: o lugar de quem está a mais.

O Benfica promete, definitivamente, uma nova época assustadora. Com o Sporting a reorganizar-se e o FC Porto firme e hirto, só mesmo um milagre poderá salvar o que aí vem. Percebe-se que JJ sublinhe a ideia de que não pode prometer ser campeão.

Embora se chame Jorge, como o papa do nosso futebol, Jesus deve conhecer minimamente a história bíblica. A cruz que carrega é pesada mas não vai ser ele a arranjar os respectivos pregos. E se for, atenção, terá operado o milagre de transformar pregos de ferro velho em pregos de ouro.