— ler mais..

Quantas vezes é que fazemos uma aposta e, passados alguns minutos – ainda antes de saber se a coisa vai acabar bem ou mal -, estamos a pensar que o melhor era ter ficado quieto? Embora alguns “ilu..." /> — ler mais..

Quantas vezes é que fazemos uma aposta e, passados alguns minutos – ainda antes de saber se a coisa vai acabar bem ou mal -, estamos a pensar que o melhor era ter ficado quieto? Embora alguns “ilu..." /> O valor das apostas - Olhos de ver - Record

Olhos de ver

Voltar ao blog

O valor das apostas

31 Maio, 2011 1002 visualizações

Quantas vezes é que fazemos uma aposta e, passados alguns minutos – ainda antes de saber se a coisa vai acabar bem ou mal -, estamos a pensar que o melhor era ter ficado quieto? Embora alguns “iluminados” garantam que isso nunca sucedeu com eles, não há ninguém que escape a este fenómeno, desde os apostadores sazonais (os que em menos de uma semana torram a verba com que pensavam ir conquistar 1 milhão), aos regulares, passando pelos profissionais. Todos, neste ou naquele momento, temos dúvidas, hesitações. Pessoalmente… acho piada a isto! OK, sei que parece estranho, mas o friozinho que se instala no estômago pouco depois de clicar no botão que confirma a aposta mais ou menos arrojada é uma das razões que me leva a ser apostador. Aprecio essa emoção, a ansiedade própria do momento. Quanto ao resto… logo se vê!

Já assumi que não sou, nunca fui, nem serei apostador profissional. Não vivo disto, nem para isto. Logo, sou o primeiro a considerar que os meus métodos não são ideais para ser seguidos por ninguém. Aliás, começo por considerar que não tenho um método muito definido. Basicamente sigo dois caminhos completamente distintos: o lógico e o irracional. Vou tentar exemplificar. Se gasto horas e horas durante a semana a compilar dados estatísticos sobre os principais campeonatos europeus de futebol, é normal que me socorra dessa informação para fazer apostas em determinadas partidas. Saber que a equipa A tem uma média de 11 cantos por jogo é, em teoria, ajuda importante para considerar que nos encontros em que intervém esse clube é mais provável que a fasquia dos 10 cantos seja atingida em comparação com aqueles em que alinham duas formações cujas médias juntas não chega aos 6. Na NBA, então, vou mais longe. Olhar só para os dados estatísticos do momento pode ser escasso para quem conhece um pouco da coisa. Imaginem que, quando tenho tempo, dou-me ao trabalho de ver todos os frente-a-frente de determinados jogadores! Este, digamos, é o método lógico.

O irracional, acreditem, é o que aprecio mais. Essencialmente porque não dá trabalho nenhum. Basta chegar a casa de madrugada, não ter sono, ver que está a começar um qualquer duelo no entusiasmante campeonato da Indonésia e toca de acreditar que vamos ter um golito na primeira parte. Para além de não perder tempo a estudar o que quer que seja, este modelo tem uma parte psicológica que me agrada em caso de desaire: não fico a pensar que não entendo nada sobre futebol indonésio pela simples razão que, de facto, nada percebo. É pior perder apostas em assuntos que julgamos dominar e onde as estatísticas deviam empurrar-nos para o sucesso.

Serve esta introdução para dizer o seguinte: não há boas, nem más apostas. Isto não é matemática, nem qualquer outra ciência exacta. Tudo depende, por vezes, só da sorte. As apostas são um jogo e as apostas desportivas dependem do desfecho de outros jogos. Estudar os mercados e ser racional é sempre uma boa medida, mas não é garantia de sucesso, pelo menos de forma uniforme. Se fosse, então sim, seria profissional disto. No futebol, então, é por demais evidente constatar que 2+2 nem sempre dá 4, já que se trata, em meu entender, da modalidade em que a sorte mais mexe com o resultado. Quantos jogos já viram em que uma equipa remata 20 vezes, acerta duas vezes no poste, falha um penálti e acaba por empatar 0-0? Era errado apostar na vitória desse emblema? Claro que não, mas o resultado é o mesmo que considerar expectável que o Almeria ganhe em Barcelona!

Isto leva-me a outra área em que, sem rodeios, choco com muitos apostadores. Fico boquiaberto quando vejo alguém dizer que a aposta A ou B não tem valor, por causa disto ou daquilo. Consigo entender que, feitas as contas, se considere que determinada odd devia ser mais alta. Percebo também que muitas pessoas considerem pouco vantajoso correr o risco de perder uma soma considerável quando em causa estão odds abaixo de 1,30 ou mesmo 1,40. Mas, façam lá um esforço, isso será mesmo assim?

Um destes dias, por exemplo, vi uma aposta de ténis que pagava 1.09 para o Novak Djokovic derrotar creio que o polaco Lukasz Kubot. Aparentemente, era algo desinteressante. Valeria a pena arriscar 10 euros para ganhar 90 cêntimos ou mesmo 100 para embolsar 9? Em princípio… não. Então para aqueles que consideram que as apostas só são boas acima de determinada bitola, isto seria uma perda de tempo. Para mim, confesso, foi das coisas mais sensacionais que vi nos últimos tempos. Admito que não joguei porque, distraído como sou, quando chegou a hora… esqueci-me. Mas, vejam as coisas deste prisma: milhões de pessoas jogam na Bolsa todos os dias à espera de conseguir ganhos mínimos que sejam. A valorização de um papel em 1% pode ser considerada, na maioria das vezes, uma mais-valia notável. O mesmo sucede com depósitos bancários que pagam 5% ao ano. Pensem bem nisso e qualifiquem a possibilidade de ganhar 9%, em menos de hora e meia, apenas e só confiando que o melhor tenista mundial da actualidade (que na altura seguia já com mais 30 triunfos consecutivos sem uma única derrota em 2011) iria ultrapassar um adversário colocado abaixo do posto 100 do “ranking”. E, já agora, imaginem os lucros que os grandes tubarões podem embolsar com uma coisa destas. É que se 100 euros produziam um ganho de 9, mil já dava 90 e 10 mil… 900!

Um favorito ganhar um jogo de ténis é algo muito mais seguro que acreditar na subida das cotações da empresa A ou B. Mais que não seja porque depende somente do desempenho desse jogador (quando a diferença de potencial é considerável nem é importante o que o outro consiga fazer), enquanto as oscilações nos mercados bolsistas começam e acabam muitas vezes em mera especulações que nem os verdadeiros “experts” conseguem entender, quanto mais explicar.

Resumindo: para mim as apostas com valor são aquelas que ganho. As que perco não têm valor nenhum, pelo menos depois de perdidas. Parecem um boletim do Euromilhões que me candidatou a 123 milhões, mas que acabou por representar a saída de mais uns trocos do bolso.

(Texto publicado no site apostaganha.pt)