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Com regularidade, nos últimos meses, temos vindo a tomar conhecimento de várias situações de adulteração de resultados desportivos. Longe vai o tempo em que só existiam rumores, suposições ou, em a..." /> As malvadas das apostas - Olhos de ver - Record

Olhos de ver

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As malvadas das apostas

31 Março, 2011 701 visualizações

Com regularidade, nos últimos meses, temos vindo a tomar conhecimento de várias situações de adulteração de resultados desportivos. Longe vai o tempo em que só existiam rumores, suposições ou, em alternativa, um ou outro caso confirmado. Agora, é justo dizer, os atentados à verdade estão a crescer de forma preocupante, beliscando inúmeros países e desportos. Tal cenário só confirma que uns, já abastados, querem ganhar cada vez mais dinheiro e que outros, provavelmente apavorados com a crise económica e financeira que vai fazendo vítimas um pouco por todo o lado, estão dispostos a tudo para manter o seu estilo de vida. Sobram os vigaristas tradicionais que, claro está, só sabem viver de e para a vigarice.

Interessante, contudo, é registar a forma como a maioria da opinião pública reage ao aparecimento destas notícias. Invariavelmente, uns quantos espertos tratam de estabelecer a ligação das maroscas com o imparável fenómeno das apostas “online”. No entender dessa gente, que julga estar muito bem informada, deve-se ao aumento do número de apostadores via internet o crescimento das trafulhices. E esta mensagem, tantas vezes difundida, ameaça tornar-se uma verdade absoluta. No entanto, é preciso estar atento para perceber que o caso não é necessariamente assim. Aliás, desconfio que estamos bastante longe de poder estabelecer essa relação.

Quem é que lucra quando um clube favorito, por exemplo, perde um jogo de futebol com um opositor teoricamente mais fraco? Não são, com toda a certeza, os apostadores, pois estes, de forma geral, acompanham as tendências, o que significa que colocam a maioria do seu dinheiro do lado do emblema mais forte. Neste caso, naturalmente, ganham as casas de apostas. No entanto, também os operadores, vezes sem conta, são apanhados nestes negócios obscuros. Sempre que uma casa lança odds para um evento, desconhecendo, em absoluto, que a competição está decidida à partida… a probabilidade de perder dinheiro também é grande.

Se quisermos ser mais rigorosos, os “arranjinhos” não agradam nem a gregos, nem a troianos, pois mina a credibilidade das casas de apostas e deixa o consumidor na incerteza de estar a apostar em algo que, afinal, pode não ser um jogo leal. Mesmo o apostador que, por esta ou aquela razão, consegue ser beneficiado num episódio obscuro, fica a saber que, no futuro, pode estar do lado errado da barricada, o que equivale a dizer que, mais tarde ou mais cedo, sairá prejudicado.

O que muita gente ignora ou esquece-se de afirmar é que as falcatruas nada têm a ver com o súbito incremento das apostas desportivas “online”. Quem está por trás dos esquemas duvidosos, na quase totalidade dos casos, é o crime organizado, são as empresas clandestinas deste mercado, os casinos que funcionam em suites de hotéis ou apartamentos finos, na Europa, na Ásia ou nos Estados Unidos. São pessoas relacionadas com estes interesses quem se movimenta nos bastidores, quase sempre em busca de nichos (entenda-se provas) com escassa exposição mediática, mas capazes de garantir boas somas durante alguns meses. O segredo passa por mudar de ares antes que as casualidades se tornem motivo de alarido.

Já perdi a conta ao número de vezes que disse isto: ainda antes da Internet surgir em força no planeta já se compravam e vendiam jogos de futebol ou combates de boxe. E isto não é um rumor ou suposição. Aliás, nem precisamos de sair de Portugal para encontrar na história recente muitos relatos de anormalidades no nosso desporto. Querem ver que a culpa foi das malvadas das apostas “online”? Se calhar, um destes dias ainda se descobre que a mítica bola 0 que saiu uma vez no sorteio do totoloto foi feita por um conjunto de apostadores em conluio com uma qualquer casa de apostas! Aliás, sobre este tema, e ao contrário de muitas vozes que se levantaram na altura, a minha maior curiosidade nem é saber como é que foi possível sair o 0. O que eu queria saber é quem, e porquê, resolveu mandar fazer essa bola? Alguém me ajuda?!

(Texto publicado no site “Aposta Ganha”)