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Olhos de ver

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Portugal tem de abrir a boca

24 Março, 2011 519 visualizações

José Sócrates demitiu-se. Ninguém foi apanhado de surpresa, pois já todos sabíamos que a última versão do PEC ia ser rejeitada na Assembleia da República e que, como consequência disso, o Primeiro Ministro iria abdicar. Complicado, agora, é adivinhar o que vai acontecer, sendo certo que, para não variar, vamos continuar num período de imensa instabilidade social, com a economia em recessão e o desemprego a galgar para patamares cada vez mais assustadores.

Legalmente, Cavaco Silva tem o poder de, sem a consulta do povo, tentar encontrar uma solução governativa. Contudo, não creio que o futuro imediato passe por aí. Agendar um acto eleitoral será, sem dúvida, a medida mais lógica, embora não me pareça que isso seja suficiente para mudar grande coisa. Da mesma forma, também é relativamente fácil antever a entrada do “papão” FMI no país. E isso, bem mais que as eleições, é que está a assustar muita gente. Pessoalmente, assumo, já estou por tudo. Em condições normais, seria dos primeiros a estar contra a possibilidade de instâncias internacionais decidirem o que fazer no meu próprio país. No entanto, já percebi há muito que Portugal tem sido governado exactamente sobre os pressupostos lá de fora, sejam eles oriundos do FMI, da chanceler alemã ou de qualquer outra proveniência. Não só nas questões económicas, mas em tantas outras, Portugal – assim como várias outras nações – deixou de fazer aquilo que considera melhor ou mais adequado, sendo obrigado a trilhar os caminhos indicados pelos “amigos”. Exactamente aqueles que, directa ou indirectamente, nos ajudaram a cair nesta delicada situação.

Portugal está, decididamente, dentro de um buraco enorme e sendo certo que os problemas alheios não resolvem (nem minoram) os nossos, é capaz de ter chegado a hora de, juntamente com outros países em situação de aflição, abrir a boca e, de uma vez por todas, tentar travar o processo que nos está a levar para a bancarrota.

Sem ignorar que os nossos governantes são culpados de muitos disparates internos – e atenção que José Sócrates (e o PS) não foi o único a descarrilar, pois convém não esquecer que agora também estamos a levar com a factura dos deslizes cometidos por pessoas e partidos que, de momento, falam como se não tivessem nada a ver com a questão -, a verdade é que Portugal (tal como a Grécia e Irlanda) está a ser sugado por um autêntico cartel bancário internacional que, tão depressa solicita ajuda aos governos, como semanas depois apresenta lucros pornográficos. A Alemanha, por exemplo, tem recuperado rapidamente da crise financeira à custa da desgraça alheia. Não quero com isto dizer que os germânicos não tiveram mérito nas medidas económicas que aplicaram no seu país, no entanto, se não beneficiassem do aperto dos outros, demorariam muito mais tempo a ressurgir.

Não é por acaso que, nos últimos meses, as taxas de juros da dívida nacional não pararam de subir, independentemente da aprovação do Orçamento, da aplicação de medidas suplementares, etc, etc. Por muito que se faça ou não, o desfecho é sempre o mesmo. A conversa esgotada da “instabilidade dos mercados” reflecte, muito bem, o que nos andam a fazer muitos dos pretensos “amigos”. Para os alemães (e não só), o melhor que lhes pode acontecer é os países mais pobres estarem cada vez mais endividados e a pagar juros sempre maiores.

Posto isto, creio que chegou a hora dos mais fracos (Espanha, Bélgica e Itália podem alinhar com Portugal, Irlanda e Grécia visto terem a perfeita noção que a sua hora de cair no buraco está cada vez mais próxima) juntarem forças e recusarem este sistema em que só “engordam” os poderosos. Só abrindo a boca e ameaçando a moeda única, os chamados países periféricos podem travar o esquema. Uma crise geral na Europa, e não apenas nas nações com menor poder, deixará Alemanha, França e Inglaterra em situação de alerta, pois tal significará, quase de imediato, uma quebra de influência económica perante os Estados Unidos e os emergentes chineses. E aí, claro, a táctica terá forçosamente de passar a ser outra. Muito provavelmente… mais justa e honesta.