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Bettencourt: culpado ou vítima?

16 Janeiro, 2011 646 visualizações

Quando José Eduardo Bettencourt assumiu o cargo de presidente do Sporting, acreditei que, pese as muitas dificuldades tradicionais, o clube teria condições de recuperar da letargia em que havia mergulhado. Tive a sensação que este dirigente, já habituado aos bastidores do futebol e com conhecimentos no sistema bancário, podia ser um interveniente precioso em dois “tabuleiros” essenciais para o presente e o futuro do emblema de Alvalade. Ainda por cima – e mesmo sabendo que se tratava de alguém da ala “aristocrática” – gostei de o ver, logo de entrada, a aproximar-se das massas, do adepto anónimo. Contudo, não foi preciso esperar muito para compreender que, afinal, o cenário não ia ser diferente do habitual.

O Sporting deixou, há uns anos, de ser um clube estável, onde dirigentes ou profissionais do desporto podem trabalhar, serenamente, em busca de resultados positivos. Em Alvalade, a exigência de triunfos não é para amanhã. É mesmo para ontem e isso, podendo acontecer uma vez ou outra, não é o caminho lógico. Não é assim que se constrói o que quer que seja. Num clube cada vez mais à deriva, onde todos parecem ter soluções quando estão de fora e onde ninguém acerta quando entra em funções, basta um ou dois resultados negativos e tudo, rigorosamente tudo, é colocado em causa.
Surpreendentemente, Bettencourt vacilou logo ao primeiro abalo. A excessiva colagem a Paulo Bento marcou, desde logo, o seu futuro no clube. Como é que um presidente pode contratar treinadores de nomeada depois de se referir ao actual seleccionador nacional como um autêntico Deus? Um líder, por muito que tenha apreço por determinado funcionário, jamais o deverá colocar acima de tudo e todos. Aliás, começa logo por ser estranho permitir que alguém tão essencial possa deixar o clube. Se Bento era mesmo “forever”, nem com uma chuva de derrotas deveria sair. Em Inglaterra, no Manchester United ou no Arsenal, por exemplo, os postos de Ferguson ou Wenger nunca estiveram em causa por causa de um desaire, de um ciclo menos bom ou mesmo de uma temporada falhada. Quando se acredita sem reservas num plano, no trabalho desenvolvido, resiste-se a qualquer problema, mesmo se a maioria dos adeptos estiver interessada em alterações.

Bettencourt deixou escapar Bento e, de seguida, nunca mais se encontrou. A aposta, a prazo, em Carvalhal foi um bom exemplo. Recrutar um técnico para escassos 6 meses é, desde logo, mostrar que não se acredita no seu trabalho. Tal opção, susceptível de ser tomada num clube de outra dimensão, não pode ser feita no Sporting. A menos que internamente alguns dirigentes já não tenham problemas em assumir que o Sporting, de grande, só já tem o passado. Nos últimos tempos, acrescente-se, o clube leonino protagonizou um sem número de situações que, por norma, não devem suceder num emblema de topo. Porém, em Alvalade ou em Alcochete, já percebemos que tudo pode acontecer.

Parece-me que Bettencourt acabou por ser mais uma vítima deste longo e agonizante processo em que o Sporting se encontra há décadas. Porém, ao mesmo tempo, também não tenho dúvidas em apontá-lo como um dos culpados das más opções recentes. Bettencourt foi o primeiro presidente profissional do clube, mas teve um desempenho ao nível de um amador. Acrescentou pouco ou quase nada. E ainda se fez pagar bem por isso. Para a história, é isso que fica: o facto de ter recebido muito bem para, basicamente, fazer pouco que se veja. Bom, também será recordado por uma estranha colagem ao FC Porto, por ter permitido que João Moutinho se transferisse directamente para um rival, por ter andando sempre muito distante dos centros de decisão, por ter permitido um distanciamento cada vez maior entre o clube e os simpatizantes, por não ter recuperado o ecletismo de forma evidente, por não ter edificado um pavilhão, etc, etc…

Resta saber se, agora, o Sporting vai encontrar, finalmente, alguém que consiga dar a volta ao texto ou se, pelo contrário, irá manter esta tendência de caminhar, paulatinamente, para um buraco cada vez maior. Por muito que isso custe a admitir a determinados sportinguistas, a verdade é que o futuro da agremiação está cada vez mais em equação. O Sporting é como o País: não pode adiar para sempre a recuperação. Caso contrário, de repente, o mal já não terá solução…