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  O treinador do Benfica deu muitas voltas até chegar à Luz. E se é certo que o seu trajecto profissional pode (e deve) ser analisado desde que iniciou a carreira, também não deixa de ser verdade ..." /> As lições de Jorge Jesus - Olhos de ver - Record

Olhos de ver

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As lições de Jorge Jesus

20 Outubro, 2010 504 visualizações

 

O treinador do Benfica deu muitas voltas até chegar à Luz. E se é certo que o seu trajecto profissional pode (e deve) ser analisado desde que iniciou a carreira, também não deixa de ser verdade – pelo menos para mim – que a avaliação mais rigorosa começou quando, finalmente, entrou num clube com reais condições de jogar para ganhar. Não há ninguém que rejeite, a priori, ter sucesso e conquistar títulos ao serviço de outros emblemas mas, em traços gerais, basta viver em Portugal para saber que, por cá, só é racional pensar em arrebatar vitórias “a sério” – no futebol – se se estiver ao leme de Benfica, FC Porto ou Sporting.

Jesus conseguiu, à primeira tentativa e com inteira justiça (independentemente das questões laterais, o Benfica foi a equipa que mais e melhor futebol exibiu a temporada passada), conquistar o título nacional. Prometeu uma equipa a jogar o dobro em relação à época transacta e não falhou. Pelo meio, ajudou a confirmar o potencial de determinados jogadores (Coentrão foi o maior exemplo), recuperou outros que pareciam afastar-se do nível exigido (Carlos Martins e Aimar), tratou de sacar um rendimento mais uniforme de bons mas irregulares atletas (Di Maria foi o caso mais flagrante) e transformou aquilo que era um conjunto errático, de altos e baixos, numa máquina oleada, de forte pendor ofensivo, com apetite pelo golo. Mais: as águias sugeriam ter andamento para jogar olhos nos olhos com qualquer adversário.

Mas, finda a temporada e em clima de euforia, Jesus não soube medir as palavras. É um problema que sempre teve e, estou certo, jamais o abandonará. Possuir a ambição de fazer figura na “Champions” é mais que legítimo, tal como é desejar sempre mais e melhor para a sua equipa. Mas, não ter a noção das fragilidades do conjunto que dirige é mau. Porque eleva, desnecessariamente, a fasquia da exigência ou, visto de outra forma, porque revela algum desconhecimento da realidade. E isso, claro, não fica bem. Aliás, como se tem visto, até internamente os encarnados têm sentido problemas, embora também seja justo dizer que dá a ideia de o pior já ter passado.

O Benfica teve a felicidade de cair num grupo simpático da Liga dos Campeões, numa série em dificilmente está alguém capaz de chegar mais longe que os quartos-de-final. Mas, nem o facto de ter encontrado Schalke e Lyon a léguas do nível dos últimos tempos, parece ser suficiente para que as águias consigam, sem sobressaltos, garantir a ida aos “oitavos”. Aliás, nesta altura, o seguir em frente já passou a ser uma missão bem complicada. Na Alemanha e em França, mesmo com os opositores em crise, o Benfica não somou um único ponto, não marcou golos, encaixou quatro e, pese um ou outro momento de qualidade, foi uma presa relativamente fácil. É impossível, com garantias, dizer que tal aconteceu só por causa desta ou daquela razão. Acredito até que, se fosse possível repetir os duelos, talvez os desfechos fossem outros, mais agradáveis. Contudo, o desporto não vive de suposições.

Tem sido comum ver muita gente (com Jesus incluído) explicar o momento menos vistoso do Benfica com as saídas de Dí Maria e Ramires e com o facto de vários elementos terem estado no Mundial. Concordo que isso não ajudou, mas recuso concordar que tudo se resume assim. Nem metade, provavelmente menos de um terço…

A forma inexplicável como Quim foi empurrado do clube (ele que era titular indiscutível); a estranha obsessão por César Peixoto como solução efectiva; a aposta exagerada em elementos jovens e sem experiência europeia como Gaitán e Sálvio (ambos com potencial, mas que precisam de tempo e de um clima mais favorável a nível de resultados); o tremendo erro de “casting” com o guarda-redes (estando melhor, continua a não justificar o investimento), o súbito desaparecimento de elementos experientes como Nuno Gomes e Weldon; a incapacidade de Airton, Felipe Menezes, Fábio Faria, Jara (que chegou com grande cartel) e até mesmo Sidnei se apresentarem como suplentes aptos a cobrir a ausência de habituais indiscutíveis; a evidente quebra de rendimento de valores fulcrais como Luisão, David Luiz, Javi Garcia e Saviola; a dispensa questionável de Éder Luís (a brilhar no Vasco da Gama); a incompreensível propensão para os erros infantis (Roberto, Peixoto e Martins, por exemplo, ofereceram pontos aos opositores) e o impressionante número de cartões em todas as provas são, também, justificações que devem ser apontadas.

Jesus tem de perceber que tem falhado em determinadas situações. E que lhe compete (só a ele) mudar algumas coisas. Se é verdade que pode falar das inoportunas lesões de Kardec, Cardozo e Ruben Amorim; de alguns deslizes dos árbitros e da falta de sorte, também deve aprender com as lições dos últimos tempos. Sim, isto no futebol (como em tudo) não é só dar lições… E uma das deve aprende depressa é que se perder por 2 não é a mesma coisa que perder por 3 ou 4, perder também não é a mesma que empatar ou ganhar.