Os teatrinhos de Matosinhos
A reportagem veio publicada na edição do “Diário de Notícias” de 4 de janeiro deste estrondástico ano de 2011: a câmara municipal de Matosinhos estará na disposição de comprar os estádios do Leça e do Leixões. O valor da aquisição andará, segundo o mesmo jornal, pelos 7 milhões de euros.
O extraordinário negócio pretende “impedir que o património desportivo caia nas mãos de privados”. Mais: a eventual compra, diz ao “DN” António Pinho, pres. do Leça, é a “única hipótese para resolver a situação financeira” do clube, impedindo, avança a reportagem, a extinção do Leça “por dívidas a rondarem os 5 milhões de euros”. Já o Estádio do Mar (casa do Leixões), esteve recentemente em hasta pública por preço a começar nos 3 milhões de euros. Não apareceram as tais “mãos de privados” com o dinheirinho.
Nada disto espanta. É Portugal no seu esplendor; é exemplo de lógica autárquica que também dá pistas sobre o que seria deste rectângulo caso avançasse a tão desejada (por alguns) regionalização.
Pormenor: ouvido pelo “DN”, o sr. José Guilherme Aguiar, vereador do Desporto da CM de Matosinhos nos dias seguintes ao “Dia Seguinte”, foi claro: “Comprar estádios é o mesmo que comprar um teatro”. Ora cá está. Eis uma prova em como parte do futebol português, para não dizer todo, mais não é do que uma peça de teatro. Quase sempre de revista, por vezes daquelas em que os actores falam muito alto e, não obstante os esforços deles e dos encenadores, ninguém percebe pevas.
Pena é que as pancadinhas de Moliére não sejam aplicadas de outra forma, sei lá, talvez na cabeça de toda esta gente.