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  Há-de fazer 20 anos lá para o final do mês, tive de confirmar datas, que olhar para o calendário é a circunstância. Há-de fazer 20 anos lá para o fim do mês, escrevia, que avancei para a reportag..." /> Senna da Silva - Variação Contínua - Record

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Senna da Silva

1 Maio, 2014 827 visualizações

 

Há-de fazer 20 anos lá para o final do mês, tive de confirmar datas, que olhar para o calendário é a circunstância. Há-de fazer 20 anos lá para o fim do mês, escrevia, que avancei para a reportagem do GP Espanha. Em 1994 não havia qualquer restrição aos testes entre corridas e meras 4 semanas depois do horror de Ímola, a discussão e acção no circuito catalão de Montmeló tinham um foco: os carros não eram seguros o suficiente. Esse suficiente começou aí o caminho que nos trouxe até a um presente onde, sabemo-lo agora, as últimas vida perdidas na Fórmula 1 foram as de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger naquele maldito fim de semana no autódromo Enzo e Dino Ferrari.

Haverá quem, olhando para a circunstância do calendário, seja capaz de reduzir a data a um qualquer desabafo desonesto sobre “números redondos”. Ironicamente, é a realidade, a viver momento de extraordinária amplificação, que reduz à insignificância quem assim pensa.

 Há-de fazer 20 anos lá para o final do mês que avancei para a reportagem do GP Espanha desse campeonato que haveria de ser o primeiro dos 7 conquistados por Michael Schumacher. De nada importa, é certo, mas como há dimensões diferentes na forma como construímos um ídolo, posso dizer que Senna da Silva não era propriamente o meu piloto favorito. Nada a ver com o talento inigualável, ou com o “commitment” único e extraordinário dedicado à Fórmula 1, apenas com as insondáveis questões da personalidade. Mas essa reportagem, de uma corrida ganha simbolicamente pelo Williams/Renault tripulado por Damon Hill, ensinou-me que a Fórmula 1 nunca mais seria a mesma depois daquele 1 de maio de 94. Não perdera apenas dois homens, dois pilotos, um deles 3 vezes campeão do Mundo e amado por milhões. Perdera também muito da identidade, da alma, se quisermos.

Paradoxalmente, julgo que pouco ou nada vale discutir se a F1 é agora menos ou mais interessante do que naquela altura. É apenas diferente. Senna e Ratzenberger já não estariam hoje no pelotão, os carros nunca seriam idênticos, pelo que a comparação deve fazer-se no capítulo reservado à segurança, à evolução tecnológica focada na protecção dos pilotos, e só depois partir para juízos de valor sobre os melhores, os mais rápidos, os mais carismáticos.

Os talentos chegam, maravilham o mortal comum e depois partem. Com mais ou menos drama, maior ou menor devoção subjacente. E se as inevitabilidades estatísticas “dizem” que a morte só está à espera de uma oportunidade para regressar, a realidade mostra que arriscar a vida numa competição automóvel só faz sentido se esse risco for minimizado até à fronteira do aleatório. Consegui-lo é, afinal, respeitar os ídolos, os talentos, não lhes pedir que entrem para uma corrida ou um rali como os gladiadores entravam na arena, saudando os que estavam vivos para os ver lutar e morrer.

O custo destes 20 anos sem drama foi demasiado alto, mas só um sacrifício daquela dimensão teria talvez o poder de influenciar a mudança de alguns dos fundamentos de uma corrida de carros. Pensando melhor, a alma da F1 não se perdeu, ela está aí de cada vez que uma foto, um texto, um vídeo, ou alguém recorda Senna da Silva — o derradeiro e poderoso gladiador sacrificado para que os “jogos” ganhassem maior humanização.

 

Senna da Silva
Há-de fazer 20 anos, lá para o final do mês, tive de confirmar datas, que nisso pois olhar para o calendário é a circunstância. Há-de fazer 20 anos, escrevia, que avancei para a reportagem do GP Barcelona. Em 1994 não havia qualquer restrição aos testes entre corridas e meras 4 semanas depois do horror de Ímola a discussão e ação tinham um foco: os carros não eram seguros o suficiente. Esse suficiente começou aí o caminho que nos trouxe até a um presente onde, sabemo-lo agora, as últimas vida perdidas na Fórmula 1 foram as de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger naquele maldito fim de semana no autódromo Enzo e Dino Ferrari.
Haverá quem, olhando para a circunstância do calendário, seja capaz de reduzir a data a um qualquer desabafo desonesto sobre “números redondos”. Ironicamente, é a realidade, a viver momento de extraordinária amplificação, que os reduz à insignificância. 
Há-de fazer 20 anos lá para o final do mês que avancei para a reportagem do GP Barcelona desse campeonato que haveria de ser o primeiro dos 7 conquistados por Michael Schumacher. E como há dimensões diferentes na forma como construímos um ídolo, posso dizer que Senna da Silva não era propriamente o meu piloto favorito.  Nada a ver com o talento inigualável, ou com o “commitment” único e extraordinário dedicado à Fórmula 1, apenas com as insondáveis questões da personalidade. Mas essa reportagem, de uma corrida ganha simbolicamente pelo Williams/Renault tripulado por Damon Hill, ensinou-me que a Fórmula 1 nunca mais seria a mesma depois daquele 1 de maio de 94. 
De nada interessa discutir se a  F1 é agora menos ou mais apelativa do que naquela altura. Senna e Ratzenberger já não estariam hoje no pelotão, pelo que a comparação só deve fazer-se no capítulo reservado à segurança.
Os talentos chegam, maravilham o mortal comum e depois partem.Com mais ou menos drama, com mais ou menos devoção subjacente. E se as inevitabilidades estatísticas “dizem” que a morte só está à espera de uma oportunidade para regressar, a realidade mostra que arriscar a vida numa competição automóvel só faz sentido se esse risco for minimizado até à fronteira do aleatório. Fazê-lo é, afinal, respeitar os ídolos, os talentos, não lhes pedir que entrem para uma corrida ou um rali como os gladiadores entravam na arena, saudando os que estavam vivos para os ver lutan