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O marquês

21 Abril, 2014 912 visualizações

 

O marquês 
Sabemos todos, ou devíamos saber, que marquês é um título da nobreza, eufemismo para o cinto de asteróides que gravitava o sol, o escolhido, o rei, às vezes a rainha. condes, viscondessas, viscondes, condessas, duques e duquesas, pois cada asteróide andava por ali, à roda, umas vezes mais perto, outras debaixo, outras por cima, enfim, cumprindo as leis da gravidade. 
Não será esta a melhor definição para uma ideia de casta que atravessou toda idade média e que só começou a ser guilhotinada já a França ia no Luís XVI mais a sua esbelta Maria Antonieta L'Autre-chienne. Para o caso serve perfeitamente, ou não estivéssemos a falar da escolha de um local específico para festejar o título de campeão nacional.
Na extraordinária catarse nacional deste domingo de páscoa, 20 de abril do ano da graça de 2014, houve pormenores não menos extraordinários. Aparentemente, um dos autores da estátua do Sebastião José teria jogado no Sporting e, sendo escultor o Francisco dos Santos, foi dele a autoria do leão que acompanha o marquês. Portanto, pode colocar-se aqui uma questão de “direito”, mais ainda quando o leão “simboliza a força, a determinação e a própria realeza” – como está explicado aqui: http://www.lisboapatrimoniocultural.pt/artepublica/eescultura/pecas/Paginas/Marques-de-Pombal.aspx
“Se a estátua foi esculpida por um sportinguista, se representa a força, a determinação e a realeza, se tem um leão e se é local de festejos leoninos… qual é a razão dos benfiquistas festejarem aqui os seus títulos?”, perguntava alguém, certamente indignado com aquela enormíssima e efusiva manifestação popular transmitida em directo por quase todos os canais televisivos portugueses.
A parte do leão faz sentido. Que diabo, o Benfica tem uma águia no símbolo… Mas esse não era o problema, aliás como se viu: Sebastião José, que não foi propriamente um santo homem, vestiu um jersey encarnado e o resto da estátua serviu apenas para compor o cenário. 
O ponto podia estar na “realeza”, num eventual e estranho sentimento de posse, enfim nos resquícios de castas, ou apenas ideia delas. Que fazia o povo num local da realeza? Sim, como se atrevia a tal? As perguntas são apenas retórica, claro. Aliás, tal como toda esta abstração construída a partir de uma evidência: só vai festejar para o marquês quem pode. Com ou sem leão, querer apenas não chega.

 

Sabemos todos, ou devíamos saber, que marquês é um título da nobreza, eufemismo para o cinto de asteróides que gravitava o sol, o escolhido, o rei, às vezes a rainha. Condes, viscondessas, viscondes, condessas, duques e duquesas, pois cada asteróide andava por ali, à roda, umas vezes mais perto, outras debaixo, outras por cima, enfim, cumprindo as leis da gravidade. 

Não será esta a melhor definição para uma ideia de casta que atravessou toda a Idade Média e que só começou a ser guilhotinada já a França ia no Luís XVI mais a sua esbelta Maria Antonieta L'Autre-chienne. Para o caso serve perfeitamente, ou não estivéssemos a falar da escolha de um local específico para festejar o título de campeão de Portugal.

Na extraordinária catarse nacional deste domingo de páscoa, 20 de abril do ano da graça de 2014, houve pormenores não menos extraordinários. Aparentemente, um dos autores da estátua do Sebastião José terá integrado os atletas que representaram o Sporting e, sendo escultor o Francisco dos Santos, foi dele a autoria do leão que acompanha o marquês. Portanto, podia colocar-se uma questão de “direito”, mais ainda quando o leão “simboliza a força, a determinação e a própria realeza” – como está explicado aqui.

“Se a estátua foi esculpida por um sportinguista, se representa a força, a determinação e a realeza, se tem um leão e se é local de festejos leoninos… qual é a razão dos benfiquistas festejarem aqui os seus títulos?”, perguntava alguém, certamente indignado com aquela enormíssima e efusiva manifestação popular transmitida em directo por quase todos os canais televisivos portugueses.

A referência  ao leão faz algum sentido. Que diabo, o Benfica tem uma águia no símbolo… Mas esse não era o problema, aliás como se viu: Sebastião José, que não foi propriamente um santo homem, envergou um jersey encarnado e o resto da estátua serviu apenas para compor o cenário. 

O ponto podia estar na “realeza”, num eventual e estranho sentimento de posse, enfim nos resquícios de castas, ou apenas ideia delas. Que fazia o povo num local da realeza? Sim, como se atrevia a tal? Mais: como podia o edil gastar dinheiro, sim, dinheiro, na festa? As perguntas são apenas retórica, claro. Aliás, tal como toda esta abstração construída a partir de uma evidência: só vai festejar para o marquês quem pode. Com ou sem leão, com ou sem sangue azul, com ou sem títulos de conde ou visconde, querer apenas não chega.