Precisamos de miminhos
PORTUGUESES NÃO MERECIAM A DESFEITA DA SELEÇÃO. NUM AMBIENTE DE CRISE TÃO GRAVE É NECESSÁRIA MAIS ESPERANÇA
Como se já não bastassem as contas que todos somos obrigados a fazer pelo autêntico ataque fiscal a que fomos submetidos pelo Governo, agora até no espaço lúdico das nossas vidas nos vemos obrigados a recorrer à calculadora. O empate da Seleção Nacional ontem no Dragão deixa a equipa de Paulo Bento dependente de terceiros no que respeita ao apuramento para o Mundial e a única coisa em que dependemos só de nós é no apuramento para o playoff. Triste sina para quem tinha no futebol pequenas alegrias.
Com as mensagens de Vítor Gaspar a deixarem as famílias portuguesas à beira de um ataque de nervos – vá lá, desta vez não aproveitou para fazer mais uma comunicação… – e sem que haja alguém entre os que lideram o país capaz de uma mensagem de esperança, que indique onde há uma luz ao fundo do túnel, o futebol, como outros entretenimentos, é um dos poucos escapes que restam ao povo. Merecemos que os craques, privilegiados com bons ordenados e a quem a crise dói menos, nos deem um pouco mais.
É óbvio que os jogadores fizeram o melhor que puderam e não é justo derramar neles as frustrações que a vida nos traz. Mas se entre os jovens que compõe a que gostamos de chamar a equipa de todos nós, alguns tiverem consciência cívica, não é difícil entenderem que neste momento Portugal requer alegrias. Não porque o futebol seja o ópio do povo, só porque é impossível viver sem que de vez em vez um sorriso nos passe pelos lábios. Por isso é que o estádio gritava só mais um. Precisamos de miminhos.
O empate frente aos irlandeses foi dececionante. E tem algumas explicações simples. Houve muitas peças a render pouco. Moutinho esteve muitos furos abaixo do habitual, Ruben Micael não pegou e Miguel Lopes, coitado, nunca fez esquecer Coentrão. Provavelmente Bento poderia ter tomado outras opções, por fácil que seja dizê-lo apenas após o jogo. Mas Veloso é muito melhor na esquerda, Amorim foi mais pendular e fresco e Éder deu-nos presença na área. Ronaldo e Nani, esses, infelizmente não resolveram.
Texto publicado na versão impressa de Record de 2012
