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É quase consensual que a chave hoje está a na comunicação. Só em Portugal se podem conceber autoestradas sem trânsito que custam fortunas aos contribuintes. No mundo globalizado, as estradas estão..." /> Problemas de comunicação - Bola na Área - Record

Bola na Área

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Problemas de comunicação

19 Junho, 2014 783 visualizações

É quase consensual que a chave hoje está a na comunicação. Só em Portugal se podem conceber autoestradas sem trânsito que custam fortunas aos contribuintes. No mundo globalizado, as estradas estão abertas ao fluxo informativo e quando uma borboleta bate asas no Japão no segundo seguinte esse efeito é sentido em Moimenta da Beira (se bem que dependa da borboleta, se estiver nua chega mais depressa).

Ontem, na SIC, o Nuno Luz, que é aquele repórter que os jornalistas portugueses em geral detestam e achincalham, mas que eu continuo a preferir porque mete o bedelho onde os outros não metem sequer a sombra, entrevistou o enviado especial de a Marca à seleção portuguesa e este queixou-se amargamente do pouco acesso aos jogadores de Portugal, em contraste com o que acontece na “La Roja”, que ainda é campeão do mundo em título.

Bem, o que se passa na seleção não é nada que não se passe nos nossos grandes clubes. Isto é, a seleção desenvolveu o seu departamento de comunicação – até levou para o Brasil um vídeoman que gosta de pôr music hall nas suas produções – e faz o que se chama filtragem de informação, isto é, aproveita o acesso exclusivo para difundir o que julga ter interesse sobretudo institucional. O departamento de comunicação da equipa como que se sobrepõe às centenas de jornalistas presentes, confinados às conferências de imprensa e a 15 minutos de treino aberto (é a mesma coisa que ter sexo mas apenas com direito a ver a rapariga a despir-se).

Dizia o nosso colega de a Marca que não é desta forma que se promovem os jogadores e o futebol e muito menos os patrocinadores. Entendam uma coisa: se nos clubes e na seleção há 15 minutos de treino aberto é precisamente por causa dos patrocinadores que têm os seus painéis no campo de treinos e por mais nada!

Sou do tempo em que se viajava com a seleção – o que ainda acontece para proporcionar à agência de viagens oficial maior receita – e, mais, até se ficava no mesmo hotel. Lembro-me de comemorar, em 86, a vitória sobre a Inglaterra com a equipa, ao lado do selecionador José Torres.

Os tempos mudaram, é certo, mas foi-se do 80 para o 8. Apesar dos cada vez mais numerosos assessores de imprensa, o trabalho dos jornalistas ficou muito mais difícil pois vai-se perdendo o contacto com os protagonistas. A informação veiculado tornou-se bem mais frouxa e ficou aberto o campo à especulação.

Um jogador não se desconcentra por dar uma entrevista. Os jogadores gostam no geral de dar entrevistas. O público gosta de ler estas entrevistas onde o protagonista até pode vender a imagem de quem o patrocina. Mas o medo fala mais alto. Quem é inseguro teme sempre algo. É o caso, manifestamente.

A manipulação da informação tem sempre um mau resultado, sobretudo quando as coisas correm mal.

A tudo isto subsiste ainda o problema dos jornalistas que pactuam com estas situações, que se agacham e que até conseguem fazer as suas carreiras graças às migalhas que lhes são atiradas pelos canais oficiais – o que, no mínimo, é um espetáculo degradante mas pelos vistos com benefícios.

Não é possível construir uma verdade mas é possível fazer passar uma narrativa (a tal palavra que Sócrates aprendeu no curso de filosofia que terá feito em Paris). Porém, também as narrativas se esboroam ao primeiro golpe de vento e no fundo quanto mais mentiras encobrirem mais ajudam os jornalistas e o jornalismo a prolongar histórias que se “vendem” bem. Mesmo quando só se apanha o mentiroso depois do coxo. Ou dos coxos, que os temos com abundância.