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A propósito do nosso jornalismo desportivo

29 Dezembro, 2011 2856 visualizações

“(…)a memória coletiva das redações dos periódicos desportivos, a qual se manteve e perpetuou, ao longo do século XX, pela transmissão de saberes entre as várias gerações de jornalistas, existindo uma dialéctica permanente, nem sempre positiva, entre uma nova geração, ávida de protagonismo e celebridade social, e uma velha geração, conhecedora do passado do desporto e das cambiantes vivenciais do mundo desportivo. Em termos evolutibos, a primeira geração de jornalistas desportivos, a dos “pioneiros”, construiu a notícia desportiva até finais da década de 1910, seguindo-se a geração dos “mestres” até à década de 1950, sucedendo-se uma geração marcada pela herança desses mesmos “mestres” durante os anos de 1960 e 1970, herança que só desapareceu com a chegada de uma nova geração de jornalistas desportivos na década de 1980, pouco recetiva aos valores do passado e marcada pela assunção do total profissionalismo redatorial no jornalismo desportivo português”.

Francisco Pinheiro, in revista Jornalismo & Jornalistas, n.º48 Out/dez 2010

Como era inevitável, as dissertações académicas acabaram por chegar ao terreno do chamado jornalismo desportivo. Esta foi a última pérola que descobri. Francisco Pinheiro fala de gerações como quem fala de melões e é taxativo quando considera que a geração de 80 positivamente fez tábua rasa dos valores do passado em nome de um profissionalismo que diria feroz. Por outras palavras, uma geração que menosprezou o património que é a memória e que foi arrumando as referências vivas em prateleiras.

Só quem não viveu neste mundo desde 1980 consegue chegar a uma conclusão tão estúpida.

Esquecendo-se que não foram os jornalistas que mudaram mas sim os jornais, os seus públicos e os meios.

A vida acelerou e o jornalismo desportivo também. Em 80, apareceram dois novos jornais desportivos, O JOGO e a GAZETA DOS DESPORTOS, e outros nasceram e morreram mas deixaram marca, como foi o caso do OFF-SIDE.

Os jornais saíam três vezes por semana. Hoje, saem todos os dias…

O mercado alargou-se e deixou de ser exclusivo de 12 ou 13 famílias. As redações animaram-se e A BOLA deixou de passear no mercado. O RECORD começou a fazer cócegas nos anos 80 e nos anos 90 assumiu-se como um concorrente do jornal da Travessa da Queimada. A GAZETA DOS DESPORTOS disputou parte do mercado mas faleceu de morte natural quando Berardo, dono do RECORD, a comprou no início do Verão de 1995, nomeando diretor o hoje secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas. Foi neste período que os jornais desportivos fizeram a sua transição para diários e aqui, sim, podemos falar num corte com o passado.

Tudo mudou. As dinâmicas editoriais, sobretudo. Jornalistas trocaram de jornais, o investimento foi forte e a Imprensa desportiva ganhou um fôlego que até aí nunca tinha tido, ultrapassando medos e quebrando preconceitos. Isto é, deixando de estar tão à mercê dos interesses dos grandes clubes de futebol.

A última década do século XX teve dois momentos distintos. Na primeira metade, o crescimento foi consolidado. Na segunda, as vendas começaram a cair e as estratégias tornaram-se errantes. O mercado de transferências como que bloqueou e a colagem na qual os mestres eram de facto mestres aos altos interesses voltou a insinuar-se.

Mas nem assim a qualidade do jornalismo desportivo decresceu. Novas fornadas de jornalistas, muitos deles vindos das faculdades de jornalismo, arejaram as redações, embora ainda hoje lutem por um estatuto profissional comparável ao trabalho de produzem. Aos novos costumo lembrar-lhes que também eu, quando comecei, passei muitos anos a contar os tostões e a ter que optar entre almoço ou jantar, sobretudo quando decidi ir trabalhar para Lisboa por causa daquelas coisas que acontecem muito aos jovens: paixões! Foi o melhor tempo da minha vida profissional! Ai que saudades, ai, ai… Esfomeado mas feliz.

O que tenho visto é isto. As redações dos jornais desportivos não perderam memória, apenas vão perdendo aquelas que pela lei da morte se vão libertando ou aqueles que não conseguem acompanhar as mudanças ou aceitar o facto de não serem eles o agente dessa mudança. Cada vez mais verifico que a qualidade dos chamados estagiários é maior, o que não deixa de ser surpreendente quando reparamos nos licenciados que passaram pela 2.ª edição da Casa dos Segredos…

Concluindo, recuso-me a alinhar na ideia feita e fácil de que antigamente é que era bom, que antigamente é que se escrevia bem, que apenas no passado se tinham boas práticas.

As memórias foram transmitidas, as metodologias valorizadas e o jornalismo desportivo continua a evoluir. Com os mais novos e os menos novos e mesmo perante o desprezo daqueles que consideram que três jornais desportivos num país tão pequeno é um perfeito disparate. Os mesmos, porém, que dizem não ver a Casa dos Segredos mas que quando se descaíem revelam os nomes e as biografias de todos os concorrentes…

Não me falem nunca em gerações. Os bons profissionais não têm idade – têm apenas talento, boas práticas e gosto no que fazem.

Se repararem bem, não foi o jornalismo desportivo que piorou. O seu público é que não melhorou.

Aqui deixo em destaque a opinião de Júlio Moreira, que caiu na caixa de comentários:

Vou escrever em relação ao post e emitir, apenas, a minha opinião. Nada mais que isso.

EQ

Eu ainda venho do tempo em não havia, pura e simplesmente, jornalistas desportivos, sindicalmente reconhecidos.

Era tido como um “jornalismo menor”.

Claro que os tempos são outros e fazer comparações são sempre subjectivas, porque as circunstancias são diferentes.

Nasci em 48 portanto posso falar da decada de 60 e 70, onde A Bola, e muito justamente, era considerada o melhor jornal.

Porque tinha, sobretudo, optimos escritores.

Hoje, posso dizer-lhe, que a qualidade da prosa, para o meu gosto, deixa muito a desejar em termos de Português.

Aurélio Márcio

Outro ponto já aqui exaustivamente denunciado, com vários exemplos, deriva do chamado “jornalismo engagé” que se pratica.

Para mim jornalista, desportivo ou não, não se restringe á simples condição de pessoa que escreve em jornais.

Por isso existe um código na profissão. Porque não é qualquer um que é, ou devia ser, jornalista.

E esse código tem que ver com a formação humana do jornalista.

Com o ter-se principios e honestidade intelectual.

E isso, infelizmente, ou não existe ou tem poucos seguidores.

Uma coisa é não haver isenção absoluta, porque ninguém é perfeito, outra coisa é o não se fazer tudo para que a isenção seja a máxima possivel.

E estamos longe, muito longe, disso.

E não colhe o argumento que os jornalistas têm familia para sustentar, logo não podem ser isentos e independentes.

Trabalhei, entre 72, e até ao seu encerramento, no jornal República, ainda que na area administrataiva, e via, diáriamente, os meus colegas da redacção, brilhantemente chefiada pelo enorme Vitor Direito, desafiarem a censura, o mesmo é que dizer, a propria PIDE. E alguns iam de cana. E tinham familia.

Por ter tido a honra de trabalhar no mesmo  local que essas pessoas, é que digo que poucos, muito poucos, daqueles que diariamente leio na Bola ou no Record considero como jornalistas.

Esta profissão apenas devia ser exercida, seja na área desportiva ou noutra qualquer, por pessoas que  tivessem o objectivo de serem respeitados, quer pelos seus patrões, quer pelos seus leitores, por via das opiniões por si  emitidas.

É a minha opinião pura e simples e não quero com ela ofender seja quem fôr.