“Quero deixar uma memória na vossa mente, como se fosse uma nódoa maravilhosa. Acontece qualquer coisa quando estamos num festival. Perdemos as inibições e sentimos uma noção de comunidade”, disse Catherine St Germans enquanto poetas declamavam as suas palavras sob as árvores no bosque, jovens desfilavam os seus vestidos feitos à mão num jardim murado e os festivaleiros se atiravam para a água lamacenta do estuário.
No Festival de Port Eliot, que teve lugar no fim-de-semana passado na costa ocidental da Cornualha, os St Germans – Lord Peregrine e a sua mulher Catherine – criaram uma ode à excentricidade inglesa. E eu tive a honra e o prazer de me juntar a eles.
Sempre me senti mais atraída pelo haute boémio do que pela moda formal. O tema da conversa que tive com a minha amiga e colega Sarah Mower foi a inimitável Zandra Rhodes, que foi uma pioneira dos padrões irreverentes e cores vivas na década de 1960.
Isto para não referir o cabelo pintado de cor de rosa choque de Zandra. As cores loucas estão totalmente na moda agora. Em Port Eliot, sprays de cabelo excêntricos de Bumble & Bumble, chapéus malucos do chapeleiro Stephen Jones e coroas feitas com flores do prado de Piers Atkinson foram apenas algumas das formas adotadas por mulheres de todas as idades para viverem o sonho de um dia de verão.
No centro do evento, que Stephen Jones apelidou de “um festival fundado em palavras”, esteve uma reunião literária de autores e críticos num sítio extraordinário: o terreno circundante do castelo em pedra cinzenta e os seus edifícios em ruínas, alguns dos quais remontam ao século XII, e a igreja com vitrais de Edward Burne-Jones.
A arquitetura histórica foi vestida com um alinhamento de espantalhos concebidos de modo a parecerem figuras desde Maria Antonieta a Anna Wintour. Houve outro um concurso, de proteções de bule: uma versão “bule sexy” em cabedal preto com atilhos da designer de guarda-roupa Sandy Powell e outra, em malha, representando a vencedora do concurso da Eurovisão, Conchita Wurst.
Em frente à casa, havia uma tenda cheia de flores e comida – sendo a componente comestível um novo foco do festival, que atraiu o chique empório alimentar londrino Fortnum & Mason para instalar uma versão pop-up na orangerie. Foi descrito por Peregrine St Germans como “o mais celebrado dos vendedores epicuristas do mundo”. Ewan Venters, CEO da Fortnum & Mason, comentou que era uma excelente oportunidade para “fazer 10 mil pessoas pensarem em nós”.
O concurso de flores teve lugar na gigantesca cozinha subterrânea. Com o seu alinhamento de campainhas de chamada de todas as divisões superiores e portas identificado como “Servants’ beer & cider store”, aludia a um mundo antigo de “upstairs/downstairs”, ao estilo Downton Abbey.
Diante da casa, estendia-se uma colina bem arranjada, com erva torrada pelo sol, polvilhada por tendas e yurts. No meio das bancas de comida e lojas, havia música a tocar bem alto, encorajando os festivaleiros a dançarem durante toda a noite.
Em que difere Port Eliot do famoso festival de lama e música inglês de Glastonbury ou dos norte-americanos Coachella Valley e Burning Man?
Muito menos centrado nos famosos e mais familiar, o evento de Port Eliot incluiu atividades criativas para os mais pequenos. Passei parte dos meus três dias no departamento de guarda-roupa, descrito no programa como “acampamento de base para a imaginação da moda largada à solta” e “bastidores de Narnia”.
Vi crianças de sete anos – e até mais novas – a pintarem, a fazerem impressões com as mãos e a criarem conjuntos sob a orientação de Jenny Dyson, diretora criativa da agência Pencil.
“É mesmo personalizado – é um festival de ideias”, disse Jenny. “No que diz respeito à moda, é fabuloso ver as crianças tão inspiradas pelo processo criativo.”
O resultado? Um desfile de moda onde fardos de feno substituíram as cadeiras douradas, e um desfile avaliado por Cathy St Germans, Stephen Jones, Sarah Mower e Barbara Hulanicki, fundadora da loja Biba de London Sixties. Ela ensinou as crianças a desenhar um tipi índio.
Com tantos eventos de moda, desde as entrevistas de Sarah a Simone Rocha e à ícone da moda Penelope Tree, foi difícil acompanhar a miríade de acontecimentos culturais, muito menos a cena musical.
Estaremos, então, perante um fenómeno “chega-te para lá Glastonbury” – Port Eliot é que está a dar?
“Glastonbury é o Sol que todos orbitamos”, disse Catherine St Germans. “Os ingleses organizam festivais melhor do que ninguém. E o eclecticismo do que aqui fazemos é difícil de superar.”