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Está desfeito o mistério que, todos sabiam, há muito deixara de o ser: Nuno Gomes já não é futebolista do Benfica. Depois de despachar Quim de forma pouco digna no defeso passado, Jorge Jesus elev..." /> Jesus derrotou Nuno Gomes - Olhos de ver - Record

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Jesus derrotou Nuno Gomes

15 Junho, 2011 774 visualizações

Está desfeito o mistério que, todos sabiam, há muito deixara de o ser: Nuno Gomes já não é futebolista do Benfica. Depois de despachar Quim de forma pouco digna no defeso passado, Jorge Jesus elevou a fasquia e foi ainda mais longe. O avançado não foi apenas preterido agora, quando o seu vínculo contratual chegou ao fim. Aquele que é (e continuará a ser durante muito tempo) um dos jogadores mais concretizadores da história centenária do clube da Luz (e um dos nomes mais sonantes de todo o futebol nacional) foi humilhado, vezes sem conta, por um técnico que, depois de ganhar um campeonato, passou a pensar e agir como se fosse a figura encarnada mais consensual depois de Eusébio.

Jesus teve todo o mérito quando, em tempo recorde, transformou o futebol encarnado e conseguiu ganhar um título. Mas, depois, como é tradição na sua carreira, logo começou a improvisar, a desbaratar o capital de confiança conquistado junto de dirigentes, sócios e adeptos. Sugeriu a compra de jogadores sem qualidade, dispensou outros muito melhores, inventou tácticas sem nexo, fingiu não reparar no que era visível para qualquer leigo, procurou as desculpas mais esfarrapadas para os sucessivos deslizes e, pior que isso, tratou de “queimar” todos os que, pela sua competência, coragem e experiência tinham autoridade moral para lhe apontar erros e defeitos e, ao mesmo tempo, sugerir caminhos alternativos.

Já o disse e repito: Jesus sabe muito de futebol, mas não percebe nada de liderança. Um bom condutor de homens tenta, em qualquer situação, ter bons auxiliares ao lado, de forma a facilitar o seu trabalho. Nuno Gomes, naturalmente, era uma muleta fulcral no balneário. Só que este treinador rege-se por outra cartilha. Prefere gente que não levante ondas, que obedeça cegamente às suas instruções (mesmo que erradas) e, já agora, que não provoque grande agitação junto dos adeptos. Jesus detesta ter ídolos no plantel e não perde tempo a tentar desvalorizá-los, pretensamente para que o grupo seja o mais importante. Só vê uma excepção ao poder do colectivo: ele próprio.

Jesus pode fazer o que quiser com as aquisições e dispensas, mas não tem o poder (como ninguém tem) de mexer com o pensar dos adeptos. E esses, na sua maioria, estão com Nuno Gomes, como o ano passado estavam com Quim. Mesmo aqueles que, futebolisticamente falando, não eram incondicionais destes dois elementos, rejeitam a forma prepotente como o treinador os saneou. E se o fizesse para que a equipa ficasse melhor…

Quim, oficialmente, foi “aviado” porque facilitou no lance do golo do Rio Ave, na partida que selou o título encarnado na época 2009/2010. Concordo que o guardião podia ter feito mais nessa jogada mas, já agora, ajudem-me num exercício de memória. Nessa temporada, qual foi a defesa menos batida da Liga? E quem foi o único jogador do plantel que alinhou todos os minutos no Campeonato? Só mais um esforço: a época passada, o substituto de Quim, teve quantos lances iguais ou consideravelmente piores que o tal que ditou a sua saída? E quantas vezes foi criticado pelo técnico, quantas foi encostado em consequência dos “frangos”?

Nuno Gomes foi sistematicamente preterido nos últimos meses de Benfica. E sempre que Jesus resolvia tratá-lo como um ex-júnior, fazendo-o alinhar meia dúzia de minutos em jogos resolvidos, lá aparecia a ser protagonista. O prémio, de seguida, era sempre o mesmo: longas semanas sem jogar e muitas sem sequer se sentar no banco. Isto jamais podia ter uma explicação racional. Nuno Gomes foi “queimado” por capricho do treinador. E que ganhou Jesus com isso? Títulos significativos… não foi!

O mais estranho em todo este processo é ver Luís Filipe Vieira – que foi à televisão mostrar um “amarelo avermelhado” a Jesus – pactuar com o mesmo. Será que também ele considera que Nuno Gomes faz menos falta ao plantel do que Weldon, Uche, Melgarejo, Mora ou tantos outros? O presidente encarnado disse que o clube tinha de ser mais exigente nas aquisições, mas a avaliar pela extensa lista de reforços “sonantes” já se deve ter esquecido dessas palavras. Tal como se deve ter esquecido de Rui Costa, o homem decisivo no recrutamento, por exemplo, de “desconhecido” como Aimar e Saviola.

PS – Um amigo meu – benfiquista ferrenho e que fez o “favor” de me acordar para desabafar sobre este tema – diz ser irónico ver Nuno Gomes (um portista de nascença que se transformou no último grande símbolo nacional do Benfica e num adepto ferveroso do clube) ser “despachado” da Luz por um técnico sportinguista e um presidente que, antes de ser o principal responsável das águias, também era sócio dos principais rivais. Pensei um pouco no assunto e, de facto, a coisa não deixa de ter a sua piada. No entanto, acrescento eu, se José Veiga já foi dirigente encarnado… tudo é possível nos dias de hoje.