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Olhos de ver

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Obama não é diferente

20 Março, 2011 645 visualizações

1 – Nunca fiz parte do extenso rol de pessoas, espalhadas pelos mais diversos locais, que um dia acordaram a pensar que Barack Obama era o salvador do mundo. No entanto, confesso, apreciei a sua entrada em cena. Educado, divertido, sereno, dono de um discurso inovador e – bastante importante – apaixonado por basquetebol e mais especificamente pelos Chicago Bulls, duas “causas” que também subscrevo. Em suma, acreditei que os Estados Unidos iriam passar a ter um líder com dois dedos de testa, depois dos tempos conturbados com um paranóico à frente da nação.

A popularidade de Obama, contudo, tem decrescido de forma evidente. Dentro e fora dos “States”. Aceito, claro, que ele não é culpado de tudo o que lhe apontam, mas mentiria se dissesse que, aqui e ali, não dei comigo a torcer o nariz a determinadas decisões ou declarações. Mas, decididamente, nunca tinha ficado tão distante das suas políticas até o ver, nas últimas horas, a mandar bombardear a Líbia.

Não vou discutir se Kadhafi é um bom rapaz. Apenas faço questão de recordar que, há uns meses, quando em Lisboa ou Roma recebia abraços e elogios, não era melhor ou pior que hoje. Não discuto também se qualquer pessoa normal fica angustiada por saber que determinado líder resolveu atacar o seu próprio povo. Mais: parece-me perfeitamente lógico que a comunidade internacional defenda – sempre e em qualquer circunstância – os fracos e oprimidos e que tenha palavras críticas com todos os que se esqueçam de cumprir as mais elementares regras de civismo. O que não suporto é a hipocrisia que, sistematicamente, se observa nestes casos.

A principal justificação que o pretenso “eixo do bem” encontrou para atacar a Líbia é que Kadhafi estava a bombardear populações indefesas. O argumento parece válido, só que esbarra numa contradição óbvia. As bombas aliadas são inteligentes? Sabem exactamente onde caem e, mais importante, quem está nesses alvos? Atirar com mais de 100 mísseis para cima de qualquer cidade é um crime contra a humanidade, pois por mais avanços tecnológicos que se utilizem é impossível não matar ou ferir pessoas que nada têm a ver com o assunto. E não podemos falar somente de quem sofre no corpo as consequências desses actos. Quantas casas de família são destruídas? E escolas e hospitais?

O Ocidente devia perceber, de uma vez por todas, que não é a impor a sua força militar que contribui para um mundo melhor. A menos que continuem a considerar, por exemplo, que Iraque e Afeganistão estão, de momento, melhor que no passado. Antes, por culpa dos seus líderes, existiam lá muitos problemas? É verdade, mas agora a situação não melhorou. Bem pelo contrário. E nem sequer me vou pronunciar sobre as práticas inacreditáveis de muitos soldados ditos “civilizados”, baseio a minha opinião somente nos dados objectivos, que é como quem diz nos números actuais de mortos, feridos, desalojados ou desempregados.

2 – Estava eu a pensar escrever estas linhas quando, nem de propósito, vi uma reportagem do programa “60 Minutos” sobre o aumento brutal do número de famílias pobres nos Estados Unidos, mais concretamente na zona de Orlando, Florida, até agora considerada uma região abastada e local onde já estive várias vezes (em trabalho e de férias) e com a qual simpatizo imenso. Muitos dos que recentemente faziam parte da classe média norte-americana estão, agora, sem trabalho e sem dinheiro. Fiquei estarrecido ao ver dezenas de crianças, aparentemente oriundas de camadas sociais relativamente abastadas, a confirmar, com lágrimas nos olhos, que passam dias inteiros sem comer, que dormem em carrinhas ou motéis de berma de estrada, que se lavam em balneários públicos, que ficaram sem os seus brinquedos ou roupas. Tudo por que os pais perderam o emprego e, alguns meses depois, deixaram de conseguir honrar os respectivos compromissos com os bancos.

A crise, decididamente, não é um exclusivo português ou europeu, nem tão-pouco dos países asiáticos e africanos que, nas últimas semanas, resolveram marcar a agenda internacional. O poderoso gigante norte-americano está a contas com problemas tremendos. Diariamente, milhares de famílias são obrigadas a abandonar as suas casas e engrossam as estatísticas dos sem-abrigo. Mas, perante isto, o que é que Obama faz? Ordena o despejo de 110 mísseis “tomahawks” sobre a Líbia. Se tivermos em conta que cada “brinquedo” destes custa 750 mil dólares, só no sábado os Estados Unidos torrou 82 milhões! Tal soma, astronómica, não podia ser aplicada de melhor maneira, ajudando verdadeiramente alguém? Eu acho que sim…