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O futebol português é bastante peculiar. Por cá não são necessários grandes feitos para que o Mundo olhe para nós. O problema é que, em muitos casos, o desporto-rei é notícia pelas piores razões. P..." /> Andam a brincar com a Selecção - Olhos de ver - Record

Olhos de ver

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Andam a brincar com a Selecção

20 Agosto, 2010 604 visualizações

O futebol português é bastante peculiar. Por cá não são necessários grandes feitos para que o Mundo olhe para nós. O problema é que, em muitos casos, o desporto-rei é notícia pelas piores razões. Para alguns, tal não é grave, para outros (aparentemente poucos) é embaraçante. Eu, assumo, não gosto nada de ver o meu país ser alvo de chacota por causa de uns quantos “artistas” que, tranquilamente, usam e abusam da nossa paciência, criando ou gerindo processos como se o povo não passasse de um bando de atrasados mentais que serve apenas para ir ajudando a subsidiar o “espectáculo”.

O imbróglio em torno de Carlos Queiroz é o último episódio de uma regular sequência de situações aberrantes que teimam em fazer parte do futebol luso. O interessante, desta vez, é que o argumento é suficiente para criar várias “mini-séries”. Assim, depois de um caso “gravíssimo” porque foi ofendida a mãe de um doutor (a situação era evitável, merece ser repudiada mas, para mim, não é tão grave quanto, por exemplo, socar um opositor em pleno relvado), agora resolvemos ir mais longe e iniciar a qualificação para o próximo Europeu… sem seleccionador! E como o seu último acto irreflectido foi tão ultrajante, nada melhor que, para além da suspensão, multá-lo em 1000 euros. Ainda bem que o Natal está distante, pois a punição podia impedir o treinador de comprar presentes!

Falando a sério: este processo é, desde o começo, uma autêntica palhaçada que, claro, não deixa de chamuscar todos os envolvidos que, curiosamente, parecem lidar tranquilamente com tudo isto. Um bocadinho de vergonha na cara não lhes ficava nada mal. E aproveitar para sair de cena também não…

Já o disse e repito: Queiroz teve um percurso estranhamente complicado na qualificação para o Mundial. Cometeu vários erros, mas acabou por carimbar o apuramento. Depois, é verdade, somou opções questionáveis na hora de eleger os convocados, de escolher os “onzes” e de proceder a alterações (de atletas e tácticas) durante os jogos. Ainda assim – e deixando de lado o futebol pouco apelativo -, passou o grupo mais complicado da fase inicial e só foi afastado pelo futuro campeão mundial… com um golo irregular.

Longe de ter sido um comportamento brilhante, também não foi vergonhoso. Vergonhoso é o que se passa agora. Havia possibilidades de fazer melhor? Seguramente, mas para isso teria sido necessário contar com Bosingwa e Nani, com Ricardo Carvalho e Pepe “rodados”, com Deco e Liedson “normais”, com o “verdadeiro” Cristiano Ronaldo e, quem sabe, com mais um ou outro jogador que foi esquecido.

Embora não fosse apologista dessa opção (essencialmente po falta de soluções evidentes, por causa dos custos da operação e porque o tempo era escasso), aceitaria que, aquando do balanço da presença na África do Sul, a Federação optasse por despedir Queiroz. Era legítimo que Madaíl e seus pares pretendessem mais. E até acabaria por ser normal que, juntando os resultados, as exibições, os desaguisados com alguns jogadores e as várias intervenções infelizes do técnico fora do campo a decisão passasse por aí.

Mas, como se sabe, a FPF encolheu-se. Por causa do dinheiro ou não, o presidente segurou o treinador e, pelos vistos, a restante direcção “comeu e calou”. Contudo, pouco depois, entrou em acção o Governo, pela mão (voz) de Laurentino Dias. E foi com a absurda cena do controlo anti-doping na Covilhã que se tentou “despachar” o técnico. Como ninguém teve coragem de despedir Queiroz, o derradeiro trunfo foi recuperar uma cena que, apelidada de tão grave, esteve escondida mais de 2 meses. Em Portugal, temos reparado, a tutela gosta de esperar antes de atacar as situações graves…

Pensaram, alguns inteligentes, que estava encontrada a maneira fácil de correr com o seleccionador sem lhe pagar a astronómica indemnização a que tem direito em caso de quebra de contrato. Só que, afinal, o tal trunfo não passava de um mísero duque ou terno. Só que com essas cartas, todos sabem, não se vai longe. Queiroz também tinha essa noção desde a primeira hora mas, à cautela, avisou que não hesitaria em levar o caso às instâncias internacionais (onde se mexe bem), confirmando o que era óbvio desde o anúncio do caso da Covilhã: Laurentino Dias e/ou o Governo estava a forçar a sua saída. Resta saber se por não pactuar com má educação, por considerar fraco o rendimento desportivo da Selecção, por clubite política ou por tudo junto.

Feitas as contas, a cena do controlo não deu nada. Claro. Apenas confirmou que o Carlos Queiroz actual é um homem nervoso – em contraste com o de há 20 anos – e que, por isso, tende a oferecer trunfos a quem não os tem. Só assim se entende que ainda com este assunto por encerrar (a Adop pode, através do Instituto do Desporto, aumentar o castigo, numa situação que seria anedótica, já que acabaria por funcionar, directa ou indirectamente, como queixosa e juiz), já sabe que vai enfrentar outro processo porque, em entrevista ao “Expresso” – a exemplo do que sucedera numa conversa anterior com “Sol” -, falou sem medir as palavras. São erros impensáveis para quem é inteligente e possui o dom da palavra, a menos que com isso esteja apenas a forçar algo, que é como quem diz… a sua própria demissão. O anúncio do recurso do actual castigo também pode ser explicado por isso mesmo. 

Independentemente de tudo isto, o mais caricato é que a Selecção vai começar a qualificação para o Europeu sem Queiroz no banco. Para alguns, eu sei, isso até pode ser considerado benéfico, mas é essencialmente ultrajante para o país e para a própria equipa que, em traços gerais, é um dos símbolos maiores de Portugal. Estamos a falar de um tremendo auto-golo.

PS – Sabe-se que Queiroz não poderá, durante o tal mês de suspensão, entrar nas instalações federativas. Gostava de saber como irá responder ao novo processo disciplinar, a menos que este possa ser lento como é costume na justiça cá do burgo. E também é público que o treinador está impedido de assinar a convocatória. Alguém pretende apostar que os eleitos serão escolhidos por Agostinho Oliveira? Eu aposto contra!

Que palhaçada!