Vestidos deslumbrantes, as marcas mais exclusivas, puro luxo e sofisticação enchem a passadeira vermelha por estes dias. E quantas de nós, já fizeram de polícia da moda: escolheram os melhores vestidos, aqueles que morriam por poder vestir.
Saída de uma cidade do interior, nunca sonhei um dia poder experimentar algum desses vestidos mas, foi o que aconteceu e se tornou absolutamente rotineiro.
Imaginem trabalharem no Press Office de uma das marcas de luxo mais famosas do mundo, todos os dias chegarem ao escritório e terem caixas gigantescas, cheias de roupa e acessórios vindos de Milão, Paris, Nova Iorque e Tóquio. Pura tentação não experimentar umas sandálias deusas ou um vestido para o qual nunca terão uma festa onde o usar!
A chamada Award Season é definitivamente a altura do ano em que os Press Offices das marcas de luxo se enchem com vestidos de alta-costura e o stress de conseguir que as atrizes mais famosas vistam os nossos vestidos é no mínimo, enorme! As fotos dos vencedores de prémios como os Oscares ou os Gloden Globes vão circular pela imprensa durante anos. Esta é definitivamente a melhor aposta a nível de relações públicas e a visibilidade da marca será gigantesca. Todos os jornais, revistas, blogues e televisões vão querer uma imagem dessa atriz com a tal estatueta.
Num caso específico, andei vários meses a trabalhar num projeto super secreto e nem sabia bem para quem eram aqueles vestidos. Na minha cabeça nada me fazia pensar que um desses vestidos seria usado nos Oscars, por uma lenda do cinema!
Meses antes e no maior secretismo, começaram a vir de Paris dois vestidos exatamente iguais mas em cores diferentes. Por sua vez, de Milão vinha o mais importante costureiro da marca só para se encontrar algumas horas com a tal atriz no seu quarto de hotel e fazer várias provas ao vestido. No escritório de Londres, apenas o meu chefe, o VIP and Events Manager sabia de todos os detalhes e supervisionava juntamente com o costureiro cada etapa do vestido. Algumas semanas antes dos Oscars, soube no que realmente estava a trabalhar e só no dia da passadeira vermelha é que vi qual dos vestidos tinha sido escolhido. O suspense de saber a cor eleita foi encoberto pelo espanto das alterações de última hora; na parte da frente do vestido estavam agora uns folhos que o mudavam completamente.
Mas este não foi o único caso! Várias vezes apareceu no escritório um vestido super delicado e pesadíssimo que todas as minhas colegas simplesmente adoravam. Mais tarde, este acabou noutra atriz hollywoodesca, uma que até começou os seus dias por ser princesa. Nas fotos o vestido parece absolutamente divino, mas na realidade para lá dos brilhantes havia escamas que mais pareciam de plástico. Confesso que quando vi as fotos nas revistas nem queria acreditar que aquele era o mesmo vestido; a atriz estava deslumbrante. Acho que simplesmente não tive a visão de conseguir perceber que o tal vestido iria ser um estrondo, o favorito dos críticos de moda e absolutamente deslumbrante nas fotos.
Fica apenas na memória o facto de o ter tido inúmeras vezes atrás da minha secretaria e ser o alvo do meu gozo. Tantas coisas que vesti e brinquei no escritório, mas aquele vestido ficará para sempre como o que poderia ter experimentado e simplesmente, não o fiz.
Como me arrependo agora!
