Este Miúra não nos assusta
Para além da Nereida e do Quinaz, Portugal e Espanha têm muito em comum.
Os touros e as touradas, por exemplo.
É bem verdade que nuestros hermanos têm o possante touro Miura mas nós somos mestres na arte de bem cavalgar toda a sela e enquanto os espanhóis enfrentam o bicho com capa e espada, nós por cá vamo-nos a ele, embora já cansado da lide, de peito feito e mãos a abanar.
A tradição ainda é o que era apesar de alguns betinhos que fumam ganza andarem por aí a perorar contra as touradas, na defesa dos touros, das galinhas poedeiras e das minhocas.
Para além das touradas, Portugal e Espanha partilham a história e o sangue das suas monarquias. O sonho da nação ibérica esvaneceu-se sempre à sombra dos patriotismos bacocos mas até nem era uma má ideia este retângulo à beira mal plantado ser parte de um país maior. Ou vice-versa.
Afonso X, o sábio, D. Dinis, D. Duarte, Isabel a Católica, Hernan Cortez, Magalhães, Gama, Cervantes, Franco, Herculano, Garrett, Esteves Cardoso, Salazar… Grandes figuras da história foram por aqui paridas e a irmandade ibérica teve momentos bons. E outros menos bons. Mas é sabido que a guerra regenera. O que preocupa realmente é esta paz podre e esta multidão de mansos.
Temos agora frente a frente duas equipas de futebol. Só por um acaso da história, em 900 anos de mais de 30 mil de percurso do sapiens sapien na península, ou do Neandertal, como o ilustram as paredes de Altamira e os painéis do Côa, são adversários. Repare-se na estrela maior do Real Madrid. Quem é? Um português – Cristiano Ronaldo. Atente-se no melhor jogador do Benfica. Quem é? Javi Garcia. Até o nosso Nobel da literatura escolheu viver em Espanha, embora num escolho negro do Atlântico…
A nação ibérica defronta a sombra da sua história na 4.ª feira. Os fantasmas vão estar na bancada. A bola irá rolar e no fim alguém vai vencer. Apenas se espera um desfecho semelhante a Atoleiros, Aljubarrota ou Valdevez. A parte da nação minoritária há muito tempo que aprendeu a vencer os gigantes com aquilo a que o povo chama “esperteza saloia”.
No fim de contas, quer-me parecer que um touro sempre se surpreendeu mais com uma fila de homens enfaixados que o enfrenta aos gritos que com o gume da espada do matador.
Olé!
PS – Até podemos perder o jogo mas a Rosa Veloso continuará a ser nossa
Entretanto, descubra onde está o Wally: