Paineleirices
Entre os nossos painéns de paineleiros – neologismo criado por Alfredo Farinha, um dos primeiros a exercer este sacerdócio -, alguns destacam-se particularmente. Destaco os seguintes:
– Manuel Serrão, um cromo dos antigos, histrionicamente imbatível, por vezes muito assertivo no humor, fanático q.b. mas também crítico quando é preciso pôr o dedo na ferida que mais lhe dói. Cenograficamente avantajado, é ajudado pelo seu vozeirão e marca a diferença não apenas pela resistência neste tipo de ambiente, onde a pior doença é o desgaste de imagem.
– Eduardo Barroso, uma forma interessante de apreciar o lado popular da alta burguesia lisboeta, toldado pelo fanatismo, com maus fígados mas bom coração, mas nem sempre muito coerente, perdendo elan quando quer dar uma cravo e outra na ferradura. Projeta a imagem de um leão a 100 por cento algo conformado com o seu destino.
– Rui Gomes da Silva, também vice-presidente do Benfica mas nem por isso incapaz de ter voz própria e não apenas a do dono, contundente e muitas vezes indelicado, com aquele ar de boneco gozão, assumindo o papel de provocador máximo num painel, na SIC, onde ninguém lhe dá luta.
Qualquer um deles não depende do futebol. O Manel foi jornalista e é hoje um bem sucedido empresário associado à área dos eventos e das confeções. Eduardo é um reputado cirurgião e o Rui patrão de um importante escritório de advogados.
O facto de não dependerem do futebol não faz, porém, com que não sejam dependentes do futebol falado. Não propriamente dos cachets que recebem mas da exposição na qual se viciaram.
Nenhum deles é especialmente nocivo, pelo contrário, cumprem bem o papel de entertainers.
O que é surpreendente é que quem vive e depende do futebol se sinta na necessidade de, aqui e ali, reagir ao show off destes paineleiros, sem perceber um jogo de futebol não se decide num serão televisivo e, mais importante, mordendo facilmente o isco que é atirado.
Mas é um pecado que não é singular. O povo da bola também se assume como pato e faz dos paineleiros aquilo que eles não são mas que cada vez mais sonham ser – e com razões que o justificam.