O futebol barregão
Hoje, nas página de Record, António Oliveira, provavelmente o homem que mais sabe de futebol em Portugal (foi um grande jogador, foi treinador-jogador do Sporting, é cocriador da Olivesdesportos, foi bicampeão no FC Porto, fez grandes trabalhos na seleção nacional e depois aproveitou os tempos livres para se formar em Direito, sendo hoje proprietário talvez da maior coleção privada de pintura que existe em Portugal), diz que os nossos clubes se tornaram barrigas de aluguer. Ou seja, os jogadores que compram são todos para revender com mais valias. Não é nada que nos possa diminuir mas também não é propriamente engrandecedor. No fundo, é este o país que temos, exposto às brincadeiras dos banqueiros e às políticas agressivas sobre a classe média dos governos, de pouco nos valendo a possibilidade de viajar de borla de Braga para o Porto num comboio fretado pela CGTP para um passeio grátis pelas ruas de Lisboa.
O país não produz portugueses, produz pouca riqueza, tem uma dívida colossal que não sabe como vai pagar, foi só ao Brasil ver como estava o clima, mas, vá lá, estão aí os festivais de música de verão, o sol voltou a aparecer a Olá tem gelados novos.
Ou seja, a coisa está preta mas podia estar pior.
Voltando ao futebol, os adeptos dos chamados três grandes já perceberam o que as respetivas casas gastam, desde que Cristiano Ronaldo pouco tempo para mostrar o seu futebol no clube que o formou (bem, até o próprio se serviu de uma barriga de aluguer para ser pai pela primeira vez…).
Na Idade Média, os reis tinham as suas barregãs, de que a mais famosa foi a Ribeirinha, amante de D. Sancho I, filho de Afonso Henriques. Naqueles tempos faziam-se mais portugueses e os reis sentiam-se no dever de disseminar a respetiva estirpe.
Hoje, temos os clubes barregãs dos príncipes e reis do futebol europeu. Somos plebeus mas continuamos a ter a preferência dos nobres. Se isto porventura não for suficientemente reconfortante, pelo menos temos a certeza de que ainda cá estamos e servimos para alguma coisa e que essa coisa pode implicar algum sofrimento mas também pode proporcionar alguma prazer.