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João Carneiro Ferreira, técnico adjunto da seleção principal do Togo, conta-nos como jogar em África é sempre uma aventura: Não costumo escrever muito aqui no FB, mas acho que hoje se justifica. ..." /> As aventuras de um português no Bením - Bola na Área - Record

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As aventuras de um português no Bením

1 Dezembro, 2012 773 visualizações

João Carneiro Ferreira, técnico adjunto da seleção principal do Togo, conta-nos como jogar em África é sempre uma aventura:

Não costumo escrever muito aqui no FB, mas acho que hoje se justifica. Encontro-me em Cotonou, capital do Benin, país que se situa entre o Togo, a Nigéria, o Níger e o Burkina Faso. Estão 42 graus, e amanhã vamos jogar o último jogo de apuramento para o Campeonato Africano de Sub-17, num sempre emocionante Benin-Gabão. Para irmos para o treino, em Porto Novo (como devem estar recordados das aulas de história, esse nome foi dado pelos Portugueses que lá chegaram e é a antiga capital do país), tivemos de ir escoltados pela polícia, único modo de passar por entre as milhares de motas, praticamente o único meio de transporte aqui utilizado.
Chegados ao estádio, além de encontrarmos os portões fechados, vemos pneus a serem queimados como meio ritual para se fazer vodu's e marabus, e toda a gente une-se à volta do autocarro a fazer-nos sinal de como nos vão degolar o pescoço. Os jogadores preparam garrafas de água, e desde a saída do autocarro, passan

do pela entrada dos campos e até às bancadas, iam despejando água, como se estivesse benzida para afastar os feitiços, para irritação geral.
De seguida, enquanto aguardaram, combinaram urinar (!!!) nas garrafas que tinham acabado de esvaziar, e quando entraram em campo voltaram a ter o mesmo comportamento, o que levantou a ira da população presente, pois, aqui, urina é sinal de eliminação de feitiços! Tentaram invadir o campo, mas em vão.
Começámos o treino, e não é que alguém consegue mesmo invadir o campo, e agride o nosso treinador de guarda-redes? De resto, o treino ia decorrendo com normalidade, até que ligaram as regas mesmo onde nós estávamos =/ Impedi os jogadores de saírem, e treinámos nesse mesmo local, o que pelos vistos enervou os 25 (!!!) tratadores de relva que lá se encontravam e que começaram a tentar expulsar-nos do relvado…
Escoltados pela polícia, lá conseguimos passar pelos adeptos presentes e chegar ao autocarro, onde os miúdos começaram todos a cantar canções para afastar espíritos. No regresso ao hotel, vou com mais atenção à beira da estrada, onde, além das cabras e galinhas, vejo que se vende muito peixe frito, sabão, cana de açúcar e…gasolina em garrafas de coca-cola! Nos terrenos baldios, muita gente a jogar à bola, e entre uma camisola do Barcelona e outra do Chelsea, lá se vai vendo uma camisola do Benfica…
O que aconteceu hoje só é comparável com o que já tinha vivido pela selecção principal no Togo e no Níger, lamento agora não o ter escrito, pois assim recordar-me-ia sempre que quisesse. Relativamente ao jogo de amanhã, cheira-me que vai ser duro…relativamente aos acontecimentos de hoje, como me disseram, “mon ami, ça c'est Afrique!”
 
 
Parte II

Mon ami, ça c'est Afrique! – Parte II
Amigos, não podia deixar a história de ontem incompleta, portanto eis-me, regressado ao hotel, para pôr um término na mesma.
Ao almoço, e em função de más experiências anteriores com intoxicações alimentares nos dias de jogo (habitual nos Camarões, Togo e Benin), resolvemos almoçar no buffet, no meio dos outros clientes, em vez de almoçarmos na sala reservada

para nós. Apanhámos os funcionários do hotel, mas pelo que se conta, não é só a comida que pode vir alterada, mas também nos pratos e talheres, que são lavados especialmente para nós sabe-se lá com o quê…
Até ao estádio, nada de incidentes de maior, e até ficámos agradavelmente surpreendidos com os 800 gaboneses que vieram ver o jogo, uns que habitam aqui no Benin, outros que vieram do Togo de propósito.
A seguir começaram os episódios…
Para entrarmos no balneário, foi o nosso doutor à frente, com água benzida, que despejou por todo o lado. De seguida, os jogadores entraram…de costas!
Vendo como eles estavam, a única coisa que lhes referi era que o nosso principal objectivo deveria ser a invasão de campo no final, pois isso era sinal que nós tínhamos ganho. Mesmo que houvesse consequências nefastas para nós, tínhamos atingido tudo a que nos tínhamos proposto…a face deles mudou! Passou de “não sei se quero ir lá para dentro” para “quando é que começa o jogo?”
Continuando…o treinador adjunto e o treinador de guarda-redes levaram o material para montar os exercícios de aquecimento…mas a polícia do estádio não os deixou entrar em campo! Melhor ainda, depois de resolvida a questão, e de montados os exercícios, entrou um jornalista em campo…para retirar o nosso material =/
Isto, claro, enquanto os bruxos do Benin davam voltas ao campo para fazer os seus marabu's!
Entretanto, o controlo dos árbitros, nigerianos. Entraram no balneario, e obrigaram os nossos jogadores…a cortar as unhas!!
Depois do aquecimento, prontos para o jogo? Ainda não…faltava os jogadores, no balneário e antes das suas preces, urinarem nas suas mãos, onde colocariam posteriormente sal grosso (!!!), pois assim sabiam que não haveria vodoo's nos cumprimentos iniciais!
Da arbitragem, que dizer? Aos 15 minutos já tínhamos um penalty sofrido (ao qual se juntou outro na segunda parte) e cinco amarelos (aos quais se juntaram outros tantos posteriormente). Posso também falar dos 12 minutos de desconto de tempo na segunda parte (apesar da placa ter indicado 6…).
Felizmente, isso não chegou…o jogo terminou empatado 1-1, o Gabão qualificou-se pela 2a vez na sua história para a CAN Sub-17, e a festa foi (e está) a ser feita! Relativamente ao público do Benin, depois disto tudo…aplaudiu-nos de pé, com o maior desportivismo!
Bom…esta foi a experiência, que fica para recordação! Glória para nomes como Retenou, Ruch, Bongo, Ongaye entre muitos outros, que merecem este momento…Ça c'est Afrique! =)

 
Entretanto, se quiserem comprar já um calendário para 2013…
 
…podem-no fazer aqui.