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Hoje, no seu site, o FC Porto fala de fascimo, de talibãs e de madrassas. Não há nada mais estranho que ver um fundamentalista atacar os fundamentos do fundamentalismo a propósito da canção “..." /> Toma Xolipim que isso Madrassa - Bola na Área - Record

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Toma Xolipim que isso Madrassa

22 Março, 2012 1526 visualizações

Hoje, no seu site, o FC Porto fala de fascimo, de talibãs e de madrassas.

Não há nada mais estranho que ver um fundamentalista atacar os fundamentos do fundamentalismo a propósito da canção “Atirei o Pau ao Gato”. O FC Porto até devia agradecer que se peça às crianças para atirarem o pau aos gatos fedorentos mas a verdade é que não.

Felizmente todos sabemos que a escola portista é uma espécie de universidade aberta onde se ensinam boas práticas e se exaltam os costumes.

O que não sabíamos era que o FC Porto tinha algo contra as batatas fritas.

Deve ser alguma coisa contra o Defour…

Confesso que quando ouvi falar da Madrassa da Ericeira pensei logo na Maria José Morgado (que mora por ali) mas não. No depositório portista apenas se critica uma professora primária “fascista” e práticas comuns ao tempo “da outra senhora”. Como não há muito tempo recordou aqui um dos nossos fregueses, o FC Porto é provavelmente o clube português que mais se identificou com esses tempos mas está visto que os jovens turcos trocaram os livros de História por uma espécie de Corão que repetem como…paus mandados.

De resto, estas são coisas que metem dó. Mas que se entendem pois são paridas por gente que felizmente teve oportunidade de trocar uma carteira profissional por um cartão de clube. E estas coisas nós, jornalistas, os que vamos sobrevivendo, temos de agradecer sempre.

COMENTÁRIO EM DESTAQUE

Nuno Campos disse em 22-03-2012 às 17h31

Mas que fascismo. Precisam de uma lição de história? Cá vai.

Tal como outros clubes, o SLB foi fundado durante a Monarquia, resultando da fusão, em 1908, de dois clubes lisboetas, o Grupo Sport Lisboa (referência fundacional do clube, por ser aquele que tinha a secção de futebol) e o Grupo Sport Benfica. Mas ao contrário de outros, saídos das elites aristocráticas lisboetas ou burguesas do Porto, o SLB foi fundado por um grupo de ex-alunos da Real Casa Pia e de outros comuns populares, facto que o diferencia desde logo.

Os primeiros anos foram difíceis. Foram para todos. Mas sobretudo para o SLB, que ao contrário de outros, nunca teve então campos cedidos ou emprestados. Em 1913 arrenda um capo em Sete Rios, que abandonará em 1918 porque não conseguia pagar a renda; em 1917 volta a Benfica e consegue inaugurar o primeiro sistema de iluminação artificial um campo de futebol da península 2 anos depois; 1923 teve de deixar o campo em Benfica com o argumento de que seria aí construída uma escola primária (de facto, foi construída, mas apenas em 1992…); compra uns terrenos nas Amoreiras em 1923 (os primeiros) que lhe são expropriados em 1941 para construir o viaduto de acesso da auto-estrada ao Estádio Nacional. Apenas nos anos 50 conseguirá fixar-se onde hoje se encontra o estádio. Sempre às suas custas.

Entretanto, outros cresciam com o regime instaurado a 28 de Maio de 1926 (a Ditadura; Estado Novo depois de 1933, aprovada a constituição desse ano). Isso do clube do regime tem muito que se lhe diga.

Porque não foi o SLB o clube que, a 13 de Março de 1928, tendo então como presidente Abílio Urgel Horta, próximo do Presidente da República Óscar Carmona, do Ministro das Finanças Manuel Rodrigues Júnior e do Ministro da Instrução Pública José Alfredo Mendes de Magalhães foi elevado a Instituição de Utilidade Pública, passando a usufruir de todos os benefícios daí inerentes. O SLB viria a sê-lo, em 6 de Setembro de 1960, 32 anos depois, tal como 4 outros clubes.

Durante 32 anos de Ditadura e Estado Novo, apenas 1 clube em Portugal teve o estatuto de utilidade pública, e não foi o SLB. Esse mesmo clube, mais a norte e equipando tradicionalmente de azul e branco, inaugurou o seu estádio, construído com enorme apoio estatal, em 28 de Maio de 1952, inauguração incluída nas cerimónias oficiais de comemoração da instauração do regime (28 de Maio).

Foi presidente deste mesmo clube, além de Abílio Urgel Horta (deputado da União Nacional nas VI [1953-1957], VII [1957-1961] e VIII [1961-1965] legislaturas), Ângelo César Machado, aluno de Salazar e seu colega no Centro Católico da Universidade de Coimbra. Foi também fundador da Mílicia Portuguesa em 1927; integrou a “Liga Nacional 28 de Maio”, génese da Legião Portuguesa (foi adjunto da Junta Central da Legião Portuguesa no Norte de Portugal em 1927); e foi deputado da União Nacional em três legislaturas I (1935-1938), II (1938-1942) e III (1942-1945).

No início dos anos quarenta, em 1939-1940 e 1941-1942, este clube beneficiou da ajuda dos seus influentes homens do poder para, através de dois cirúrgicos alargamentos, evitar cair para a segunda divisão, após se ter classificado em terceiro lugar no seu campeonato regional, que na altura apurava as equipas (os dois primeiros) para a prova nacional.

Um outro clube, mais a sul, e que veste de verde e branco, também tinha o apoio do regime. Apesar do SLB ter ganho o campeonato de 1954/1955, quem representou Portugal na primeira edição da Taça dos Campeões, em 1955/1956, foi esse outro clube, a convite dos poderes públicos. Um clube que tinha então como dirigente Carlos Cecílio Nunes Góis Mota (1953-1957), secretário-geral da Legião Portuguesa em 1961 e homem de confiança de Salazar que por acaso, a 11 de Novembro de 1956, no Campo da Tapadinha, num Atlético – Sporting, no intervalo e com o jogo empatado 1-1, invadiu a cabine do árbitro e, segundo foi referido na altura, de pistola em punho “aconselhou-o a tomar mais atenção na 2ª parte pois poderia prejudicar-se”.

Sobre este episódio diz Vasco Lourenço, capitão de Abril e presidente da Associação 25 de Abril, em entrevista ao jornal “Record”, no dia 25 de Abril de 2007, afirmando-se sócio do Sporting há quase 40 anos: “Os benfiquistas e os portistas ainda hoje recordam aquele episódio do Góis Mota que, durante um Atlético-Sporting, entrou no balneário do árbitro com uma pistola para o ameaçar. No tempo do Salazar, aí pelos anos 50, o Sporting era o preferido, porque muitas pessoas do regime eram adeptas do clube. Góis Mota, Casal Ribeiro, entre outros. Anos mais tarde, o Belenenses era o clube do regime por causa de Américo Tomás. Mas era injusto dizer-se isso, porque ele era sócio e tentava proteger o clube, mas o Belenenses não usufruía de nenhum benefício. Foi mais uma imagem que se criou. O Benfica sempre foi o clube do povo, e o Sporting mais de elites”.

Esse clube verde e branco, em democracia, apenas venceu 5 (e conto o de 1973/1974) dos seus 18 títulos de campeão nacional. Menos de 1/3!!

O estádio que o Benfica passa a utilizar em 1941 fora antes arrendado pelo Sporting, que então lhe chamava Estádio 28 de Maio (lembrem-se: data do golpe de estado que conduz à Ditadura). O Benfica não só fez questão de o inaugurar num dia 5 de Outubro, data da Implantação da República, como lhe mudou o nome, designando-o apenas por “Campo Grande”, nunca o associando ao 28 de Maio.

E, contudo, o clube que equipava de encarnado (nem se podia dizer «vermelho», o que era sugestivo à data), pode orgulhar-se de ter tido presidentes ou membros directivos abertamente opositores ao regime.

Félix Bermudes (1916-1917/1930-1931/1945) foi perseguido pela PIDE; Manuel da Conceição Afonso (1931-1932/1936-1938/1946), operário, era um conhecido oposicionista; Júlio Ribeiro da Costa (1938-1939) teve mesmo de se demitir para que o clube não fosse mais penalizado pelo regime, dada a sua forte conotação política com a oposição; e no consulado de Tamagnini Barbosa (1947-1948), ligado ao Movimento de Unidade Democrática, o clube chegou a correr o risco de ser encerrado pelo governo por alegadamente estar tomado por “conspiradores”.

O SLB sempre foi um clube plural, que teve operários (Manuel da Conceição Afonso) e aristocratas (Duarte Borges Coutinho) como presidentes. E tinha e tem eleições livres, muito diferentes de cesaropapismos ou cooptações.

O SLB teve o seu primeiro hino (“Avante pelo Benfica”) proibido por motivos óbvios. Avante e vermelho não seriam concebíveis. Mas a associação era válida, de tal forma que nas comemorações em Lisboa da vitória aliada na 2ª Guerra Mundial, toleradas por Salazar apenas por receio de represálias dos vencedores – sobretudo a tradicional aliada Inglaterra – viram-se nas ruas bandeiras de França, dos Estados Unidos, de Inglaterra e do SLB, estas naturalmente substituindo as da URSS, e utilizadas por oposicionistas comunistas.

A Selecção Nacional, composta por muitos jogadores do Benfica, jogou no Estádio da Luz pela 1ª vez em 1971, apenas 17 anos após a sua inauguração, tendo feito muitas partidas em campos de outras equipas, bem ali ao lado ou a norte. E dizem que era o Benfica o clube do regime. Era tão protegido pelo regime que em 1962 não foi autorizado o adiamento do jogo da Taça de Portugal frente ao V.Setúbal, marcado para o dia seguinte à final de Amsterdão contra o Real Madrid. De nada servindo, pois o SLB viria a ganhar o jogo.

O SLB era o clube o regime, mas nos 10 anos subsequentes ao 25 de Abril ganhou 6 campeonatos, durante o PREC e os maiores anos de fervor democrático.

No Record, em Maio de 2000, escrevia Alfredo Barroso, conhecido sportinguista e homem da oposição ao Antigo Regime: “nos tempos da outra senhora, o Sport Lisboa e Benfica chegou a ser considerado como uma referência democrática, um oásis onde coexistiam vozes de todas as origens políticas e em que algumas figuras notórias da oposição ao Estado Novo chegaram a ser membros dos órgãos sociais do clube. Digo isto com tanto mais admiração e à vontade, quanto é certo que sempre fui adepto do Sporting Clube de Portugal, o qual, pelo contrário, era conhecido pelas suas notórias ligações ao Estado Novo e foi quase sempre dirigido por figuras mais ou menos proeminentes da extrema-direita do regime salazarista. Para grande desespero de alguns adeptos como eu que, por carolice ou amor à camisola, nunca viraram a casaca, apesar dos dichotes e bicadas (mais que justas) de muitos adeptos do Benfica.”

Irene Pimentel, uma das mais reputadas historiadoras do Estado Novo, no livro «Vítimas de Salazar», no capítulo referente à Censura (cap. 1, págs. 42 e 43), escreve: “Locais privilegiados de difusão de propaganda foram também as salas de cinema, onde a projecção de documentários sobre a guerra provocava reacções entre os espectadores, que, perante a omnipresença da PVDE [antecessora da PIDE], arranjavam meios subtis de expressão. O refugiado político Karl Retzlaw, que chegou a Portugal no Verão de 1940, relatou uma ida ao cinema, contando que, à entrada e dentro da sala, estavam polícias, prontos a intervir, caso surgissem manifestações do público. Numa ocasião, quando Hitler surgiu no écran, o público começou a arrastar os pés, quando surgiu Mussolini, os espectadores tossiram, e quando apareceram os monarcas ingleses, gritaram em uníssono: «Viva o Benfica!», identificando o popular clube de futebol com a Inglaterra.”

É curioso que o Benfica, tendo adeptos espalhados pelo país e pelo mundo, tem maior expressividade precisamente nas zonas mais conhecidas pelo seu combate ao fascismo, ou seja Alentejo – onde a percentagem de benfiquistas é absolutamente esmagadora – e cintura industrial de Lisboa, nomeadamente a margem sul do Tejo. Mas olhem para as elites alentejanas, os lavradores e vejam de que clube são esses «viscondes»?

Outros têm a grande maioria dos seus adeptos concentrados na região norte, pouco conhecida pelo combate democrático e muito conhecida por ser campo preferencial de recrutamento de agentes da PIDE e membros da Legião Portuguesa.

Contra tudo isto, alguns falam em Calabote, um árbitro que deu num jogo 13 minutos de compensação. Não foi ao Brasil, não foi recebido em casa pelo presidente do Benfica. Dizem que houve trafulhice. É capaz de ter havido, até porque o SLB não foi campeão nesse ano. Em ano de trafulhice, ganha um clube a norte.

É verdade que o SLB se pode orgulhar de não ter um dirigente condenado na justiça desportiva por corrupção na forma tentada. Mas com o problema dos outros e com a forma como os outros entendem o respeito e o desporto, vivo eu bem.

Fascistas? Tenham vergonha na cara!